À porta das Ruínas do Convento do Carmo, local central da baixa, por onde passam imensos turistas, alguns destes perguntavam-nos o que íamos ver. Respondíamos: Dead Combo. O que vinha logo a resposta: E que género é? Pois bem, aí é que ficávamos sem muito jeito para responder. Não é fado, mas não é rock. É um misto de géneros que deu origem a um estilo muito próprio de Tó Trips e Pedro Gonçalves, que naquela noite se fizeram acompanhar pelas Cordas da Má Fama.
Mas quem entrou dentro do que resta do Convento do Carmo, de certeza que já não era a primeira vez que os vira ao vivo, mas a curiosidade despertara para assistir a um concerto deles num local tão emblemático. Também descobrir como era a acústica do local, para os mais entendidos da matéria, era um ponto de interesse. Quando ecoam os primeiros acordes de “Aquele olhar que era só teu”, dissipam-se as dúvidas. O som mais cristalino e limpo faz arrepiar aqueles poros que estão escondidos debaixo do casaco. Por sim, era noite, e como não tem tecto, até faz fresquinho.
Reza a história que, com o terramoto de 1755, Lisboa que era a cidade com mais igrejas na europa, e que ficara reduzida a escombros naquele fatídico dia 1 de novembro, trazia a ironia das casas de má fama e as boates terem sobrevivido. É para esse ambiente, escuro mas sedutor, repleto de libertinagem, que os Dead Combo nos levaram. Revisitámos o A Bunch of Meninos e o Lisboa Mulata. Redescobrimos a Arraia, a Waits, a Havai em Chelas. Vimos o amor de pai nas guitarras quando na nave da Igreja ecoam o Zoe Llorando e o Welcome Simone, temas dedicados às filhas do Pedro e do Tó, respectivamente.
Pelo meio, as Cordas da Má Fama dão um ar da sua graça, com dois temas que seguem a mesma toda do conjunto que durante os anos iniciais tocavam em bares para apenas para meia dúzia de pessoas, mas que 10 anos depois, já encheram as maiores salas em Portugal e com uma projecção internacional incrível.
Lisboa é a cidade de Dead Combo. Ponto. E o engraçado do concerto é que visitamos lugares comuns onde cada um nós atravessa todos os dias, mas não conhecemos alguns segredos que a cidade guarda. Como Anamastor, que é dedicada à Ana que trabalha ali num café perto do miradouro do Adamastor, numa caminhada a 10 minutos ali do Carmo. Ou o Rumbero miserável, nada recomendado, da Brasileira ali no Chiado. Pequenas histórias que despertam a curiosidade.
Ainda fomos presenteados com um dos novos temas do conjunto. Fado a pilhas. Elétrico, ritmado e intenso como é apanágio. À saída do espectáculo ainda estamos a nos restabelecer da euforia final de Lisboa Mulata, já um clássico deixado propositadamente para o fim. Tal como no início, ainda não há uma definição exacta para a ciência dos Dead Combo. Mas que é boa, lá isso é.
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Produtores Associados