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Eagles of Death Metal, Uma explosão de amor

Durante o dia as televisões encarregaram-se de lembrar que, há 15 anos atrás a forma como concebíamos a segurança no mundo ocidental mudara. Noite de domingo 11 de Setembro, e o concerto dos Eagles of Death Metal finalmente iria acontecer em Portugal, numa única actuação no Coliseu dos Recreios em Lisboa. O finalmente devesse ao facto do concerto ter sido adiado duas vezes, uma pelo cancelamento da digressão europeia devido aos atentados de Paris, no Bataclan (onde os EODM actuaram nessa noite) e um segundo cancelamento por uma lesão do músico Jesse Hughes. Noite de domingo, na ressaca do Reverence Valada 2016 no Cartaxo e no último dia do LISB-ON no Parque Eduardo VII Lisboa, os EODM iriam subir ao palco do Coliseu e muito provavelmente “partir aquela porcaria toda”!

A memória recente dos acontecimentos do Bataclan, exigiram reforço de segurança. Não me lembro de uma entrada no Coliseu dos Recreios tão peneirada. A minha bolsa foi inspeccionada ao pormenor, no entanto todas passámos sem revista de detetores de metais!

A sala estava demasiado arejada, mesmo quando os austríacos White Miles abriram o palco para os EODM. A dupla de blues-rock (com laivos de punk rock), Medina Rekic (voz e guitarra) e do baterista (bom!) Hansjorg Lofere, estremeceram o Coliseu nos primeiros 40 minutos da noite. Um “THANK YOU” entre os temas, na mesma densidade de decibéis projectados durante as músicas. O baterista, mais comunicativo, ia-nos preparando para os afectos dos norte-americanos, tendo o próprio expressado o afecto que tinham por eles.

Passava pouco das 22h00 e a imagem do palco, com a foto de Jesse Hughes com o dedo apontado (“I Want You) ficou iluminada. O quinteto da Califórnia subiu ao palco e excedeu todas as expectativas para o concerto de encerramento da tour –  The Nous Amis.

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Jesse Hughes é um verdadeiro entertainer, aliás é um autêntico artista multifacetado! O amor partilhado com o público foi sentido em cada um de nós, uma entrada brilhante de beijos e abraços, à esquerda e à direita. Um ajeitar da definida anca e um trejeito no bigode ruivo, e eis que solta um “ladies and gentlemens” teatral que deu início ao espectáculo. Sensualidade nos movimentos ritmados, alimentados pelos puros acordes do rock and roll saído das cordas das guitarras e do baixo. Desce várias vezes do palco e canta no meio do público, não dando descanso aos seguranças! Ao longo do concerto, utiliza várias toalhas que vai atirando para o público depois de usadas. À 3ª música pede uma ventoinha de chão!

Estórias entre os temas contadas por Jesse, umas em versões mais ficcionadas outras nem tanto, mas todas com um requinte de humor americano digno de talk show da HBO. O Pinóquio ou o psicanalista, um manancial de personagens em que muitas delas culminavam nos consumos exacerbados de cocaína e uísque, como o próprio! Viver intensamente, partilhar o amor com o próximo, e levar à letra o lema “Sex, Drugs and Rock’n Roll”, são a filosofia de vida destes cinco músicos com uma forte cumplicidade de afectos.

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O alinhamento, apesar de maioritariamente integrar o último álbum de estúdio, “Zipper Down” (2015), a escolha dos temas foi muito diversificada passando por praticamente toda a sua discografia. “I only want you” (2004) a abrir as hostes, e no ameaço de despedida“Save a Prayer” (2015, cover dos Duran Duran) e “I Love you all the time” (2015). Um regresso ao palco com um blusão laranja com as letras Bowie nas costas, a homenagem a David Bowie, “Moonage Day dream”.

“I want you so hard” teve uma duração incrível, com a saída repentina de Jesse do palco, aparecendo minutos depois a tocar guitarra no camarote presidencial! Regressa ao palco e é a vez dos restantes músicos terem os “5 minutos de fama”, cada um fez um solo arrepiante. Dave Catching diz que a próxima é para nós e toca os primeiros acordes do “Final Countdown” dos Europe. Voltam todos ao tema e terminam num arrastar em apoteose, Jesse dá um pontapé na bateria (que a faz cair), encolhe os ombros e abraça o baterista. Despe a t-shirt, atira para o público e despede-se com um “sweet dreams and good night”.

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Os Eagles of Death Metal mostraram nesta noite que são muito mais que uma boa banda de Rock, são cúmplices nos afectos como banda e com os seus fãs, não conheço muitas assim! Trouxeram-nos uma excelente noite de Rock mas, acima de tudo, uma explosão de amor!

Texto – Carla Sancho
Fotografia – Alexandre Antunes | Everything Is New
Promotor – Everything is New