A noite apresentava-se chuvosa e o astral escuro. Talvez o clima soubesse que este seria o cenário perfeito para receber a atmosfera negra, envolvente e romântica que se ia apoderar do Paradise Garage. Para além da cerimónia prever a apresentação de um álbum novo, celebrava-se também o 30º aniversário de uma das bandas mais emblemáticas do panorama rock-gótico britânico, os The Mission.
Enquanto os fãs iam enchendo a sala com as suas t-shirts pretas e algum cabelo grisalho, os The Awakening, companheiros dos The Mission nesta tour europeia, ficariam encarregues de nos fazer sonhar e reviver o mundo adolescente rebelde por onde já passámos um dia.
Cerca das 21h o palco enchia-se de um encanto gótico personificado por quatro elementos e a sua música. Eram os The Awakening e Chela Rhea, a baixista, chamava os olhares todos para si. A figura de boneca das trevas era cativante e desenhava em traços de pontos negros o estilo da banda.
A banda, nascida na África do Sul e residente nos Estados Unidos, pisa pela primeira vez solos lusos e mostra-se encantada com o vinho português e com o público. Apesar de não lançarem originais desde 2009, os êxitos antigos foram suficientes para nos apertar o coração e nos arrastarem até à adolescência. Pelo caminho parámos em locais onde o mundo está contra nós e outros onde o conseguimos conquistar, sempre acompanhados daquele sorriso vindo do orgulho em sermos diferentes dos outros miúdos da escola. Apesar da voz de Ashton ser profundamente gótica, o que ouvimos foi uma mistura de um rock-gótico, com rock industrial, encaixando-se na perfeição como banda sonora de um “Dark City”, “Franklyn” ou até um “The Crow” moderno. Os samples que usavam davam a sensação de maciez e acalmavam o ar soturno criado pela voz, guitarras e bateria. Começaram com “Razors Burn”, passaram por “Indian Summer Rain”, “Angelyn”, “Martyr” e terminaram com “Dark Romantics”. Pelo meio ainda deram uma nova cor à música de Simon and Garfunkel “Sound of Silence”, tornando-a quase irreconhecível e ainda mais forte.
Passados 5 anos desde a última vinda a Portugal, para uma comemoração de igual feito, os The Mission regressam a Lisboa para festejar 30 anos de carreira e nos apresentarem o mais recente trabalho – Another Fall From Grace – lançado no passado dia 30 de Setembro.
“Nós temos novo álbum, muito bom!”
dizia Wayne antes dar início à apresentação do mesmo. Para iniciar, vozes ao alto e em coro para acompanhar “Beyond The Pale” e “Serpent’s Kiss”. Por entre estas 4 almas (com uma extra – voz feminina a acompanhar algumas vozes) sentia-se a sabedoria rebelde de quem teve um crescimento acompanhado de boa música e sabe que tem sempre mais para dar. A bateria, fazia estremecer a parede e empurrava-nos para o meio dos riffs onde éramos mantidos num belo cativeiro de melodia melancólica. Cheira-se a essência de Sisters Of Mercy mas eleva-se o estilo próprio e característico de The Mission.
Com eles viajámos ate à era do rock, do punk e do gótico, à era das roupas pretas, calças skinny rasgadas e alfinetes na cara. Era também das descobertas, do começo de liberdades e onde a vida se vivia e respirava de maneira diferente. Na aclamadíssima “Tower Of Strenght” fomos presenteados com a participação de duas bailarinas (muito modernos estão os nossos Mission) e de seguida veio a “Wasteland” com confetis. Após um encore com “Stay With Me” em acústico, “Butterfly On A Wheel”, “Severine” e todos os corações em êxtase, surgiu uma nova pausa onde os fãs cantavam em uníssono o refrão da “Deliverance”. Sim, faltava essa! Mas eles voltaram e tocaram não só essa como ainda “Black Cat Bone” e “The Crystal Ocean”. Do novo álbum apenas nos trouxeram “Tyranny Of Secrets”, “Another Fall From Grace” e “Met-Amor-Phosis” que, por sinal, ficou aprovadíssimo!
30 anos depois, Wayne Hussey continua com aquela garra que o levou aos palcos a primeira vez. Acrescentemos a isso a forma romântica e envolvente com que deu este concerto, digna de um autêntico galã. Não terminasse o concerto a distribuir rosas vermelhas pelas senhoras da primeira fila e não tivesse cantado “Can´t Help falling In Love” do Rei Elvis acompanhado de cordas, apenas.
Todos nós temos uma missão e se não temos, deveríamos ter! Nem que fosse a de fazer coisas que nos façam bem. Naquela noite, a nossa missão foi caminhar até ao Garage para alimentar a alma e a deles foi dar-nos uma noite de nostalgia, sorrisos e prazer. Posso dizer que a missão foi cumprida por ambas as partes.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything Is New