O segundo dia de Jameson Urban Routes (JUR) trazia um calor estranho a acompanhá-lo. Não falo daquele que, repentinamente, se fez sentir na rua, mas sim de um calor e aconchego auditivos capazes de confortar egos.
Para um público ligeiramente diferente do do primeiro dia, o MusicBox apresentava dois concertos inesperados e quase inexplicáveis. Nesta noite a sala não esgotou, mas pouco deve ter faltado e os causadores de tal enchente seriam os Live Low e Bloom.
Os Live Low são quatro, mas nesta noite contaram com um convidado nas teclas/sintetizadores, Shella (LAmA). O propósito que os guia na criação musical é o experimentalismo. Não falamos de um experimentalismo qualquer, mas sim daquele que demora a ser construído e é composto por diversas camadas sonoras. No caso, densas e tão opacas que conseguem transportar um certo claustrofobismo na sua música. Há ecos e ruídos a espalharem-se pelo ar e um certo desconforto apoderou-se dos ouvintes. Talvez o receio pelo desconhecido seja a razão principal do mesmo! A aposta nos graves e na intensidade é demasiado forte e audaz. Não fácil entender esta música nem digeri-la e, a cerca de metade do concerto já se ouviam vozes pela sala, revelando que o público português tanto tem de bom como de mau.
Para quebrar uma certa rotina musical já instalada, a turca Ece Canli entra em palco e vai acompanhar vocalmente o concerto até ao seu fim. Até a voz é uma experiência e experimento. O pouco uso que tem, encaixa na perfeição com o momento e a sonoridade existentes. O corte de rotina e a riqueza que trouxe à música não foram suficientes, ainda assim, para apaziguar a duração do concerto que, em minha opinião, se tornou demasiado longo para o estilo musical apresentado.
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Que JP Simões tem um toque de bossa nova na alma e no encanto já muitos sabem. O que não sabem é que esse tropicalismo pode ser usado das mais variadas formas e facetas e nesta noite assumiu a cara de Bloom estrendo-se em cima deste estrado de madeira por entre paredes de pedra.
O palco demorou a ser montado e percebe-se bem porquê! Em cima dele posicionam-se 6 pessoas nos mais variados instrumentos. João Paulo Nunes Simões, JP Simões para os amigos, instala-se num canto do palco, deixando os seus companheiros serem as estrelas principais. Na verdade, a qualidade instrumental ali representada não pedia outra coisa. Para além das habituais guitarras e baixo, grandiosas no seu talento, o saxofone e o teclado deram um encanto sobrenatural aquele momento. Por entre uma floresta projectada na tela, fomos encaminhados para um calor auditivo e tropical onde se misturavam ritmos e tons. Tanto se saboreava jazz, como bossa nova, como blues, como folk e até um ligeiro toque de indie, vindo de algumas melodias criadas. A verdade é que JP Simões é uma mistura de tudo gerando sempre uma explosão auditiva quando decide criar música. Tremble Like a Flower é uma experiência quando escutado em casa e milhares de experiências quando presenciado ao vivo. A complexidade instrumental conjugada em perfeita harmonia e coesão faz o casamento perfeito com a voz rouca e bagacenta de JP. Tudo ali é indispensável e nos encaminha para atmosferas quentes e sedutoras onde perdemos o racionalidade e simplesmente nos deixamos levar. Quase perto do fim, JP afirma que toda a gente deveria ter heterónimos, pois os heterónimos não pagam impostos. A verdade é que os heterónimos são um bom escape para muita coisa, mas uma coisa é certa: nem todos devíamos tê-los! no entanto, que JP Simões tenha tantos quantos desejar e que saiam todos assim!
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O Música em DX é parceiro oficial do Jameson Urban Routes 2016. Toda a informação estará disponível no nosso website em Reportagens > Festivais > Jameson Urban Routes > 2016.
Os artigos e fotografias de cada dia estão disponíveis em:
+ JUR’16 dia 24, Prelúdio emotivo com ecos de criaturas celestiais
+ JUR’16 dia 25, O calor tropical dos heterónimos
+ JUR’16 dia 26, A dança dos noctívagos
+ JUR’16 dia 27, Entre dois mundos o equilíbrio
+ JUR’16 dia 28, O universo paralelo de Sensible Soccers e estrondo de The Comet Is Coming
+ JUR’16 Dia 29, O dia em que o sol irradiou felicidade
+ JUR’16 Dia 30, a tónica dominante que é a dança
+info em http://jamesonurbanroutes.com/ | https://www.facebook.com/JamesonUrbanRoutes/
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Jameson Urban Routes 2016
Promotores – Musicbox Lisboa | Jameson