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JUR’16 Dia 28, O universo paralelo de Sensible Soccers e estrondo de The Comet is Coming

Sexta feira e o Caís do Sodré desperta mais cedo que o habitual. No espaço onde estávamos, várias são as pessoas que jantavam à pressa, abandonavam cervejas pela metade e o futebol na primeira parte. O motivo era forte: Sensible Soccers.

O Musicbox exibia uma moldura humana muito considerável quando, às 21:40, a banda sobe a palco. A ansiedade deu lugar a longas palmas. Clausura, primeira faixa de Villa Soledad, foi a porta de entrada para o universo muito próprio da banda. Estes nove minutos de música permitiram ao público soltar-se e aproximar-se do palco, e aos rapazes do norte coordenarem a forma como nos mostravam este espaço paralelo.

A nossa nave seguia as coordenadas do aclamado segundo álbum. Os quatro primeiros temas da noite percorreram, por ordem, o alinhamento do mais recente – e mais dançável – álbum da banda: seguiu-se Villa Soledad, faixa homónima, recebida de braços bem abertos e com muitos sorrisos. Bolissol e Nunca Mais Me Esquece fecharam a visita guiada por esta Vila cerebral, melómana e abundante em patchworks.

Nesta altura, de forma a alcançar o impacto do concerto em toda a sala, estabelecemo-nos no fundo do Musicbox. Também aqui, a resistência do público, que diminuía de malha para malha, foi totalmente devastada quando soaram os primeiros acordes da admirável AFG. Interpretada num tom entre a celebração e a batalha, este tema proveniente de 8 – o primeiro disco da banda – foi aquela parte dos concertos em que todos os que nos rodeiam erguem o telemóvel, mandam vir uma rodada ou ligam para alguém a dizer: olha-me bem o que estás a perder, meu. Perdendo, também eles, uma das mais intensas partes da noite. Isso percebeu-se nas demoradas palmas e nos longos sorrisos dos rapazes de Fornelo.

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Depois de Guarani, a banda revisita o segundo álbum: os dez minutos de Shampom, tema preenchido por compassos electrónicos dançáveis, são escolhidos para encerrar o concerto. O colossal aplauso que se seguiu e não terá sido consequência apenas da fabulosa perspectiva musical que estes rapazes nos ofereceram, esperamos que tenha resultado também da raridade que é ver uma banda resistir aos esperados e mal-amanhados encores que se espalham um pouco por todas as salas de concertos do país. Seguia-se The Comet is Coming, e a curiosidade por um dos projectos mais fora-da-caixa dos últimos tempos.

Quando os Londrinos Comet is Coming se apresentaram em palco ecoou um pouco por toda a sala a pergunta: mas quem são estes tipos? A verdade é que o disco de estreia deste trio impactou as terras Lusas de forma pouco homogénea, facto que se alterará depois deste concerto.

A receita não é demasiadamente complexa. Junta-se um sintetizador, uma bateria e um saxofone e o resultado é uma sonoridade sedutora desde o primeiro folego. Não nos atrai apenas pela diferença musical, mas a forma como a banda se apresenta. A energia contamina a plateia de uma forma instantânea, mesmo aqueles que nunca tinham escrito o nome da banda no youtube dançam logo na música inaugural, o que é assinalável.

Percorrendo alguns dos temas mais conhecidos, como Space Carnival, Do The Milky Way e Journey Through The Asteroid Belt, a banda ofereceu uma autêntica sova de Jazz Electrónico, com pitadas de Rock Psicadélico e Afrobeat. Se os solos de saxofone levaram às maiores ovações do concerto, e o ritmo impaciente da bateria proporcionou abundantes gotas de suor, os persistentes saltos do teclista ofereceram um ar ainda mais Artsy Fartsy aos Londrinos.

Percorrendo os temas de Channel the Spirits, primeiro longa duração da banda e descrito como um “documento profético” pela editora, a banda aumentou o entusiasmo e a ritmo dos passos de dança, numa atmosfera que se situava algures entre os chás-dançantes dos anos 70 e o rock eletrónico dos anos 80. Sendo o teclista o mais extrovertido – e hiperactivo – foi o que mais se dedicou à interação com o público, pedindo ora para acompanharem os seus saltos, ora palmas para os companheiros.

Com uma hora de concerto, o trio regressa a palco para um aclamado encore onde conduziram os presentes aos últimos momentos de dança, transpiração e saltos. Deixaram a sala sob uma enorme ovação, abundando os elogios e comentários à surpresa causada por esta banda ainda pouco conhecida entre nós. De facto, ao contrário de outros países, não faz parte da nossa cultura assistir a concertos de projetos desconhecidos. Raramente fazemos o exercício de ir ver uma banda apenas com o intuito de conhecer novas coisas, hábito que certamente se começará a alterar depois desta prestação de The Comet is Coming neste Jameson Urban Routes.

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O Música em DX é parceiro oficial do Jameson Urban Routes 2016. Toda a informação estará disponível no nosso website em Reportagens > Festivais > Jameson Urban Routes > 2016.

Os artigos e fotografias de cada dia estão disponíveis em:

JUR’16 dia 24, Prelúdio emotivo com ecos de criaturas celestiais
+ JUR’16 dia 25, O calor tropical dos heterónimos
+ JUR’16 dia 26, A dança dos noctívagos
+ JUR’16 dia 27, Entre dois mundos o equilíbrio
+ JUR’16 dia 28, O universo paralelo de Sensible Soccers e estrondo de The Comet Is Coming
+ JUR’16 Dia 29, O dia em que o sol irradiou felicidade
+ JUR’16 Dia 30, a tónica dominante que é a dança

+info em http://jamesonurbanroutes.com/ | https://www.facebook.com/JamesonUrbanRoutes/

Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Ana Pereira
Evento – Jameson Urban Routes 2016
Promotores – Musicbox Lisboa | Jameson