Com o outono chegam-nos um manto de folhas amareladas e secas para cobrir o chão. Mas não é só isso que chega! Chega também o Misty Fest com o seu romantismo outonal que traz sempre nomes de luxo a terras lusas. Não falo do outono por acaso, aquele toque alaranjado que nos abraça e dá algum conforto é sentido neste festival todos os anos. É como se fizessem parte um do outro e se completassem um outro.
A música tem muitos poderes e nesta noite o poder usado foi o do aconchego e levitação. Um dia depois de ter tocado em Aveiro e dois depois de ter tocado no Porto, Peter Broderick chegou a Lisboa na passada sexta-feira, dia 4, para nos revelar que afinal é mago e faz magia com os dedos. Dono de uma extensa carreira, vai lançar mais um álbum dedicado apenas ao piano. Nesta noite apresentou-nos esse registo afirmando, no início do concerto, que algumas das músicas foram compostas para a guitarra, mas que as iria adaptar às teclas do piano. Com uma simpatia lúcida e cativante, deixou cair suavemente os dedos em cima do teclado de um majestoso e elegante piano e rapidamente uma sonoridade aveludada e delicada se apoderou do Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém. A rasgar a sombra da música, uma voz melodiosa e versátil capaz de representar diversos papeis. Sem contarmos, vai fazendo ritmos de percussão com a mão no piano e com os pés no chão em algumas, poucas, músicas. De olhos fechados, ao captarmos as notas musicais, construímos bordados com a mais fina seda.
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À terceira música, a luz muda e começa a sair fumo na direcção do tecto com a mesma lentidão e magia da melodia que sai pelas colunas. Aqui, Peter explica o significado da música “If I Sinned”, falando do pecado. A emoção e a paixão que lhe saem do corpo transformam-se em música e entram em nós de um modo quente e aconchegante. “Am I moving or just melting?” é algo que lhe sai pela boca e que nós compreendemos na perfeição. A meados do concerto, Peter levanta-se do banco a cantar, desce para perto do público e senta-se numa cadeira da plateia, sempre a cantar, transformando o espaço, por minutos, numa bolha de intimismo e empatia. Só se ouve a voz dele e o silêncio.
A música “Below It”, que conhecemos acompanhada por guitarra, ficou mais forte e emotiva. Essa e todas as músicas que ouvimos em cerca de 1h10, incluindo um encore de 2 músicas. Houve ainda tempo para nos mostrar a primeira música que afirma ter composto com o coração aos 19 anos quando deixou de fazer “música ridícula”! Esta noite trouxe a magia do coração e a envolvência das teclas do piano. Trouxe carisma, talento, paixão e muita intensidade. O mundo parou naqueles minutos e nós sentimos o quão belo e bom é fazer parte dele.
Volta sempre Peter, sempre com essa magia e aura emotivas que nos abraçam tão calorosamente.
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Toda a informação sobre o Misty Fest 2016 está disponível no nosso website em Reportagens > Festivais > Misty Fest > 2016.
Os artigos e fotografias de cada dia estão disponíveis em:
+ Misty Fest’16, A Ilha deliciosamente utópica de Piers Faccini
+ Cass Mccombs, O anfitrião por excelência
+ Wim Mertens, Pedaços minimalistas
+ Peter Broderick ou o mago do piano?
+ Ternura na voz e Pop nas teclas, Scott Matthew e Rodrigo Leão
+ Andrew Bird, O canto elegante do violino
+info em http://www.misty-fest.com/ | https://www.facebook.com/MistyFest/
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Misty Fest 2016
Promotor – UGURU