Depois do sucesso do seu primeiro álbum, conversamos com os SMARTINI no Café Império a propósito do lançamento de Liquid Peace, o seu novo trabalho a ser lançado brevemente.
Música em DX (MDX) – Boa tarde. Os SMARTINI tiveram um percurso peculiar. Lançaram um disco bem recebido em 2007, e agora, em 2016, um EP. A que se deveu este longo hiato e o que vos levou a reunirem-se novamente?
João Paulo Duarte (JP) – Antes de mais gostaríamos de esclarecer, que tem havido esta confusão, que gostaríamos que nos chamassem “SeMartini” e não “ÉsseMartini”. Temos falado sobre isto, é uma coisa que vem de trás, tem havido esta confusão não percebemos bem porquê.
Lourenço Mendes (LM) – Relativamente à questão: parece que estivemos parados mas não foi bem isso que aconteceu. Embora não tão frequentes, os ensaios nunca deixaram de existir. Anteriormente a música estava a direcionar-se para lados opostos à nossa onda e resolvemos recolhermos um pouco. Nesta altura, como estamos a chegar a um ponto que nos parece que o panorama musical Português está se a aproximar daquilo que nós fazemos, decidimos que era o tempo certo para regressar. O rock não podia esperar mais.
JP – Além da parte da música nacional ir agora muito ao encontro do que fazemos, havia também aquela sensação de que alguma coisa já faltava nas nossas vidas, e tomamos esta decisão. No ano passado, ao juntarmo-nos para fazer um concerto de homenagem a Lou Reed deu-nos este clique e dissemos uns para os outros que íamos voltar a sair da sala de ensaios.
MDX – Quais consideram ser as principais diferenças entre os dois trabalhos?
LM – Podíamos falar em maturidade mas não queria ir muito por aí porque parece-me que já havia alguma no primeiro disco, iria mais pelo facto de este disco espelhar muito mais o que somos. O outro disco, embora extraordinariamente produzido, não era tão fiel ao que somos ao vivo. Foi demasiadamente produzido, com os abundantes arranjos que eram típicos daquela altura.
JP – Quando as pessoas ouviam o disco anterior e depois assistiam a um concerto nosso davam-nos sempre o mesmo feedback, achavam sempre que tínhamos uma prestação mais forte, mais solida ao vivo. Ou seja, a produção foi muito embora mas não espelhava tanto o que somos em palco. Até na forma como decorreu a gravação – quase um live act – podemos ver a diferença entre os trabalhos. Este EP ficou no ponto, é mesmo a nosso cara.
MDX – Sempre existe uma necessidade de catalogar o estilo musical das bandas, mesmo quando estas não se inserem num estilo específico. Como caracterizam a vossa sonoridade?
LM – Quando o primeiro álbum foi lançado ficamos satisfeitos por ver o disco estava nas prateleiras de música alternativa, o que nos agradava. Percebemos a necessidade de catalogar a música, e nós fomos sempre uma banda assumidamente de Rock, a partir daí se é post-rock, Indie Rock ou outra coisa é algo que não pensamos muito.
MDX – Conseguem perceber as vossas influências na música que fazem?
LM – É um tema curioso, pois tentamos afastarmos um pouco daquilo que são as nossas influências. Nos dias que correm há tantos projetos que se torna cada vez mais difícil ter uma música original, ou és mesmo muito alternativo – e corres o risco de apenas tocar para nichos – ou então, por outro lado, podes ser logo associado a alguma banda grande.
JP – Por esta razão, quando estamos a fazer alguma coisa, temos logo a preocupação de tentar perceber se é parecido com algum projeto. Porque muitas vezes, mesmo sem te aperceberes, transportas as tuas influências para a música que fazes. Devido a isto, ou não, foi engraçado que quando ouviram o nosso disco associavam a bandas que nós nem ouvíamos. Ou então achavam que a nossa música tinha parecenças com algumas bandas, como os Placebo por exemplo, quando a única semelhança é a corda solta.
MDX – Enquanto músicos, e face ao panorama musical Português, quais as maiores dificuldades?
JP – A nossa maior dificuldade é a de, independente das nossas vidas, querermos levar a música a sério. Seria mais fácil se levássemos isto como um passatempo, um hobbie, mas somos muito exigentes. Por outro lado, por não dependermos da música, pode dificultar um bocadinho a nossa tarefa pois não temos a necessidade de andar constantemente a bater a todas as portas como uma banda que viva exclusivamente disto. Se as coisas tiverem que acontecer acontecem, não somos muito de forçar demasiado.
LM – Por acaso as portas têm-se aberto bastante, o que é ótimo. Seja na rádio, na televisão, ou em concerto temos tido uma boa receção. Tivemos algumas reticências quanto à data de lançamento, se esta era ou não a fase ideal, mas mesmo a nível de tops estamos bem, estivemos várias semanas em primeiro lugar e continuamos a fazer parte deles. Ainda não conseguimos chegar às pessoas que achamos que vamos chegar, mas está a correr bem.
MDX – No que toca à música que tocam, qual a autocrítica que mais fazem?
LM – A principal crítica que fazemos é a de termos sempre muita dificuldade em encurtar as músicas. Temos sempre tendência para músicas extensas, que em concerto resultam muito bem, mas que para rádios são mais complicadas.
MDX – Por acaso acho que esse fator pode desvirtuar as músicas. Eu curto temas longos e muitas vezes, para se moldarem às rádios, temos músicas com três minutos…
JP – Muitas vezes é verdade. Temos um exemplo neste EP um tema que cortarmos imenso o tema que vai ser o segundo single. Pessoalmente não o vejo assim, prefiro a versão que tocamos ao vivo. É como teres um quadro e cortares uma parte porque não cabe na moldura que tens.
MDX – A nível de divulgação e promoção, como prepararam o lançamento de Liquid Peace?
JP – O principal foi lançar o primeiro single de forma a perceber com reagia o mercado. A recepção foi bastante boa, e, a partir desse ponto tivemos uma estratégia mais específica, mais localizada. Especialmente com a entrada da Raquel Lains, que tem sido um contributo muito importante.
MDX – Têm um nome que nos remete imediatamente para uma das bandas Portuguesas mais conhecidas. Face a crescente popularidade dessa banda, nunca ponderaram mudar de nome?
LM – Essa pergunta é ótima, queríamos mesmo falar sobre isso. Lembro-me de estar a trabalhar e o João Pedro entrar com o Blitz, que na altura ainda era um jornal, e mostrar-me uma parte que se chamava qualquer coisa como “O Cantinho Luso”. Vimos lá uma banda que se chamava Linda Martini e pensamos, o que é isto? Portanto devemos ter surgido mais ou menos na mesma altura, se formos a tribunal será complicado provar quem surgiu primeiro [risos]. E é curioso porque o nome levou-me a ir ver o primeiro concerto deles no norte, que foi no Maus Hábitos. Mas depois disso chegamos a tocar juntos.
MDX – O problema é que agora como eles são tremendamente conhecidos…
JP – Nós temos essa noção, mas nunca pensamos mudar de nome. Carregamos na boa com isso às costas, e até nos riamos no início quando a malta dizia que nos tinha ouvido na radio. Perguntávamos sempre: tens a certeza que éramos nós?
MDX – Por outro lado SMARTINI é o nome dado a um Cocktail rápido que se toma antes de ir a algum lado. Qual a ligação entre este nome e a vossa música?
LM – Por acaso lembro-me de quando lançamos o projeto querermos um nome despretensioso, sem significado. As bandas tinhas a mania de ter nomes muito complicados e extensos, e nós queríamos uma coisa fácil de memorizar, que não quisesse dizer absolutamente nada. Googlamos e não havia nada. Esse cocktail surgiu depois.
MDX – Que álbuns mais ouviram nos últimos tempos?
LM – Eu assumo todos os álbuns de Sonic Youth.
JP – Estás falar com os dois membros que puxam mais aos Sonic Youth, mas tendo que nomear um, iria pelo Daydream Nation. Existem alguns projetos paralelos que nos entusiasmaram como o Free Kitten da Kim Gordon, por exemplo. De cenas mais recentes curto os Preoccupations, os antigos Vietcong. Ao vivo surpreenderam-nos os irlandeses Girl Band, que por acaso já tocaram connosco.
MDX – Que concertos têm marcados para breve?
JP – Os que podemos revelar neste momento são: dia 19, temos um concerto marcado na nossa casa, nas Taipas. Dia 25 nova vamos ao Contenplarte, em Joane. Para Dezembro já temos várias coisas, mas destacamos o concerto no Sabotage Club, dia 16.
O mês de Novembro é de lançamento do novo EP, Liquid Peace, e a primeira data é já sábado, dia 19 de Novembro nas Caldas da Taipas.
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Entrevista – Tiago Pinho
Fotografia – Smartini