Último dia de WebSumit e o Cais do Sodré estava preenchido com semblantes de diferentes nacionalidades. Alguns deles nas imediações do Sabotage Club, que teima em abrir portas cada vez mais tarde. Sempre com um olho no relógio, os presentes socializavam e alternavam na hora de ir aos bares contíguos comprar cerveja. Era manifesta a curiosidade com o lançamento do EP Ondas e Marés dos Conjunto!Evite, assim como do projeto a solo de Davide Lobão.
A noite foi inaugurada por Davide Lobão, membro de Bisonte e Granada. Com o palco só para si e para algumas cordas, teve o mérito de conquistar a atenção da sala desde o primeiro dedilhar. De facto, foi estimulante a forma como sem o amparo do acompanhamento instrumental que normalmente apresenta, conseguiu encher a sala apenas com a sua voz.
O prolífico músico remete-nos para Black Mirror, a série de Charlie Brooker onde cada episódio é uma nova e inesperada história. Achamos sempre que o próximo episódio não nos irá agarrar como o anterior, ou que, uma vez que os episódios são independentes, não nos vamos viciar. Músicas como Hemingway, Vila Real ou Praças foram exatamente isso: não julgávamos nunca que nos transportariam para um auge emotivo, e, quando demos por nós, estamos a sentir cada letra, cada nota, de uma forma superior ao tema anterior.
Enquanto avistávamos – embora num registo distinto do que nos apresentou em álbum – influências de Ryan Adams, de Trent Reznor e, aqui e ali, de Thom Yorke, apercebemo-nos também que, tal como a série, tínhamos devoramos a totalidade do concerto. A componente lírica foi o que mais marcou a plateia, que depois de Vá – o tema com que se despediu – enalteceu o cantautor e promete não mais lhe perder o rasto.
Conjunto!Evite chega a Lisboa como uma das novas bandas portuguesas que mais tem suscitado a curiosidade nas salas de concertos deste país. Vencedores do concurso de bandas de garagem de Setúbal, apresentavam esta noite o seu primeiro EP Ondas e Marés.
Pouco passava da meia noite quando se mostram em palco, num misto de ansiedade e entusiasmo, os quatro rapazes de Rio Maior, apresentando-nos Dr. Simão e o seu longo instrumental. A sua energia dissemina-se, o número de espectadores aumenta e a proximidade do palco também. A sua fusão de estilos e géneros, reunido com os longos solos e um vincado ecletismo atiram a música desta banda para a equipa do Prog Rock contemporâneo.
Não só há um toque de eletrónica dançável que ganha dimensão ao vivo, como ninguém tirará à banda o mérito do suor e headbang que conseguiam proporcionar. Mesmo Tim, mítico vocalista português que estava ao nosso lado, não resistiu à escalada musical que nos trouxeram temas como Rainhas de copos, Suburbano para Namek ou Ondas e Marés, que eram jogadas aos presentes com pouco ou nenhum tempo para respirar entre elas. Perante tamanha urgência da banda em tocar, e dos presentes em ouvir, não havia tempo para palavras de ocasião: o intervalo entre as malhas foi pouco ou nenhum, o que tornou o concerto energético e extenuante.
Depois desta sova instrumental, A 12 Degraus do Purgatório mostrou-se uma escolha convincente para encerrar um concerto que deixou todos convictos dos passos firmes que a banda tem dado. Não fosse a voz, a curtos espaços, um pouco abafada, e os Conjuto!Evite teriam oferecido um concerto irrepreensível. E nada comprovará melhor o sucesso de um concerto do que um público convulso da primeira à última malha.
Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Ana Pereira