Opinião Reviews

Um Corpo Estranho e o novo Pulso

Todos os corpos são estranhos, ainda que belos. Mas nem todos os corpos são belos e alguns não têm pulso. Aqui, vou-vos falar de Um Corpo Estranho belo e cheio de Pulso! Um pulso que tanto corresponde à força da identidade como aos batimentos cardíacos.

Passados dois anos, a dulpa João Mota e Pedro Franco volta a estúdio para nos trazer Pulso. Lançado no passado dia 30 de Setembro, é um álbum composto por 11 faixas que transporta a ansiedade de viver. Há riffs inquietantes e penetrantes. O uso demarcado de guitarra acústica, ukelele e banjo, para além de sábio, cria uma identidade que, não só lhes fica bem, como nunca devem perder.

Há todo um astral poético e envolvente à volta deste disco. Entre faixas sensuais e inquietantes, há ritmos quentes e bucólicos capazes de criar ambiências bonitas e criativas. São revelados riffs alucinantes e provocantes abraçados por um instrumental que tanto arde como suaviza, construindo o cenário perfeito para uma banda sonora de um daqueles filmes de animação com bonecos de plasticina que, através da simplicidade, dão lições de vida. Personagens são criadas no imaginário de cada um e histórias são construídas. Há uma cortina de uma certa melancolia e emotividade. As letras constroem paisagens e relatam vivências que, na sua maioria, estão ligadas ao órgão que nos faz ter pulso. Enquanto percorremos uma montanha russa de emoções e panoramas, defrontando-nos com faixas mais ardentes e simbólicas como “Se Houver Uma Chama”, faixa de 59 minutos meramente instrumental e complexa, “Onde Quero Arder”, primeiro single do álbum e “Estranho À Terra”. A faixa “A Metade”, por sua vez, cria ambientes intrigantes e carregados de suspense. O tema que dá nome ao álbum é apresentado já perto do final da história musical que é este trabalho e aparece-nos em formato de relevo da magia das cordas. Por fim, a melodia alegre e suave de “Onde os Lobos Dormem” encerra com chave de ouro este belíssimo trabalho todo cantado em português.

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(clicar na imagem para ouvir)

Lançaram, ainda, no passado dia 22 de Novembro o vídeo do segundo single do álbum. “Scarlett”, para além de atrevida, é uma música que se transfigura em tons de vermelho aveludado suspiros provocantes e algo burlescos, como eles próprios o definem. O vídeo pinta a sensualidade de uma forma sarcástica e apresenta metáforas platónicas. Foi realizado por António Aleixo e produzido por ele, pela equipa Garagem e Tom and Jelly.

Este álbum é um belo colo onde podemos repousar e respirar tranquilamente, esquecendo o peso dos dias e do tempo. Um registo particular e único de alguém com um corpo que, por ser estranho, não tem uma pulsação normal. Sendo o estranho cativante e o anormal interessante.

+info em https://umcorpoestranho.com/ | https://www.facebook.com/umcorpoestranho/

Texto – Eliana Berto