Lisboa proporciona-nos uma noite que até nos faz esquecer que já estamos em dezembro, mas o Musicbox não se deixou levar e tratou de lembrar a todos que aquele espaço está a comemorar o seu décimo aniversário. Indo ao encontro daquilo que tem sido uma das suas características, estamos a falar da sua programação diversificada onde quase todos os géneros musicais são abrangidos, tivemos no 1 de dezembro que voltou a ser feriado, duas bandas com muito pouco em comum entre si. Por um lado o indie rock dos canadianos Preoccupations, por outro o black metal agressivo dos portugueses do Porto Névoa.
Por volta das 21h, o Musicbox abre as suas portas para a primeira sessão, de três, daquilo que será o apagar das velas da sua primeira década de vida. Uma fila considerável no exterior dá boas perspetivas de casa cheia. Lá dentro, misturam-se gerações e estilos diferentes de vestir e de abordar a música.
Os Preoccupations foram os primeiros a subir ao palco, com uma pontualidade britânica. Desde o início da sua atuação, percebe-se que apesar destes senhores virem do Canadá, foi para a Manchester de Ian Curtis e companhia que transportaram os muitos presentes que praticamente enchiam a sala do Cais do Sodré. Matt Flegel, vocalista e baixista, tem uma voz que nos faz lembrar desde logo o enigmático vocalista dos Joy Division e o próprio baixo recebeu lições de Peter Hook.
Anteriormente conhecidos por Viet Cong (alteraram o nome derivado da muita polémica que este causou), os Preoccupations invadem o palco com a motivação de quem lançou álbum novo recentemente, mais precisamente em setembro. De imediato, brindam, literalmente, com o público e arrancam para uma atuação que aqueceu e muito, o baterista que o diga, o Musicbox. Quem estava do lado de cá do palco, acompanhava e vibrava de forma contida com o que os canadianos iam fazendo, já era assim na Manchester dos anos 70. O seu som é uma espécie de mistura entre os já referidos Joy Division e os Editors, com uns laivos de psicadelismo nos momentos em que os instrumentos não vocais se impõem, e só com Continental Shelf, ainda da era Viet Cong e também o seu maior êxito, é que todos despertaram da deliciosa sonolência em que se encontravam. No final, elementos da banda apresentados e o lembrar de que era a primeira vez que tocavam em Lisboa.
Com a pausa entre as duas atuações, ficámos com a impressão de que muitos dos presentes estavam lá só para ver a primeira parte. Quando os Névoa sobem ao palco, já depois das 23h, a sala encontra-se menos composta. Vindos do Porto e de um segundo disco, “Re Un”, lançado em junho passado, a banda de João Freire e Nuno Craveiro já conta com participações em festivais emblemáticos como o Amplifest, o Reverence Valada ou o holandês Le Guess Who? e desde os primeiros acordes confirmam que a sua tenra idade não é sinónimo de imaturidade.
Eles sabem o que fazem e fazem-no com grande qualidade e segurança. Black metal é a melhor forma de definir aquilo que tocam, mas com uma agressividade tal que nem todos os ouvidos presentes estão preparados, tanta a descarga elétrica negra que se abate sobre o Musicbox.
Enquanto os Preoccupations desenvolvem uma sonoridade mais agradável e que por isso chega a mais pessoas, os Névoa seguem uma linha musical muito específica que só poderá dizer alguma coisa àqueles que têm naquele género musical a sua principal paixão.
Texto – João Catarino
Fotografia – Luis Sousa
Evento – X Aniversário Musicbox Lisboa