O ano que agora termina foi possivelmente o ano em que mais trabalhámos nesta ainda nossa curta existência: mais reportagem de concertos e festivais, mais entrevistas, mais reviews, e mais notícias publicámos sobre o que de melhor aconteceu musicalmente falando em Portugal. É um clichê, verdade, mas tal não seria de todo possível sem a participação de toda a equipa Música em DX.
2016 foi também, dos anos recentes, o mais marcado pelo desaparecimento de grandes nomes na música. É inevitável falar de David Bowie, Prince, Leonard Cohen, Sharon Jones, ou em plena quadra natalícia, George Michael, que nos deixaram durante este ano. No sentido inverso, o das boas notícias, 2016 foi um ano de grandes momentos musicais, e de grandes notícias para a música portuguesa, ou não fosse por exemplo o destaque que o Eurosonics dará a Portugal em 2017.
Os tops “Melhor Concerto”, “Melhor Álbum”, “Melhor Qualquer Coisa”, já foram exaustivamente debatidos por toda a internet, por isto, e em jeito de balanço Música em DX, preferimos fazer algo diferente: alguns de nós transmitiram na primeira pessoa os momentos que lhes foram mais marcantes deste ano.
“O melhor momento, que a Música em DX me proporcionou este ano, foi sem dúvida a recente entrevista a Luaty Beirão e MCK, foi o momento que para mim fez mais sentido. A Música tem o dom de tocar toda gente, logo a mensagem chega a toda gente. Luaty Beirão cedo percebeu que tem essa responsabilidade, e a legitimidade enquanto angolano de denunciar o que está errado em Angola. A letra de uma música pode falar de amor ou de dor, pode até trazer esperança a quem já não a tem. A letra de uma canção tem a força do vento, é como uma dança, pode fazer com que uma multidão se levante e se mexa. Luaty Beirão é o vento que tenta chegar a toda gente!”
António Moura dos Santos, Texto
“Comecemos pelo pior: 2016 foi um ano de merda, isso é algo unânime. Excluindo toda a conjuntura apocalíptica, para mim foi um ano complicado e de transição. Não que vos interesse a vocês, fieis leitores, mas no âmbito deste belo magazine para o qual eu escrevo, impediu-me de ser mais participativo nos últimos meses. Que 2017 traga mais música e mais escrita destas partes, prometo que me vou esforçar.
Falando do bom, porque ele houve, quero saudar os meus colegas com quem assisti ao Reverence. Foi uma confusão do caraças, sim, houve neura, também, mas gostei de finalmente trabalhar num festival num clima de camaradagem com uma equipa super profissional. À Eliana agradeço a paciência e o chá que me cedeu para tornar as manhãs mais suportáveis, ao Daniel saúdo o talento notável na arte de captar o momento e de descobrir o Stoner/Doom mais obscuro que há e ao Nuno que, não ficando nada atrás no departamento da fotografia, acrescenta um sentido de humor desarmante ao rol de qualidades. Não quero deixar o nosso big boss de fora, o Luís, que ainda nos foi dar uma perninha ao festival, sempre com a dedicação incrível que o leva a manter esta máquina a andar.
O outro aspecto que quero realçar é mais pessoal. De há uns anos para cá, comecei a mudar a minha postura quando vou fazer reportagem de concertos. Talvez almejando algum tipo de objectividade analítica, ou pura e simplesmente por medo de desviar a minha atenção do espetáculo, a verdade é que a minha tendência tem sido sido para manter-me calculista e longe da saudável confusão que se forma no tipo de concertos que costumo cobrir: rock, metal, punk e derivados. Foi, por isso, surpreendente para mim a facilidade com que eu me deixei levar nalguns dos concertos que assisti enquanto escriba DX, a ver: Denzel Curry, Bizarra Locomotiva, Kendrick Lamar e Truckfighters. Sim, parece uma salganhada de artistas de géneros excludentes, mas a verdade é, caso o espectador esteja disposto a isso, descobrirá que a que a energia de um bom beat e melhores rimas ainda é tão ou mais electrizante quanto os riffs a rasgar e a bateria a metralhar que costumo (tentar) retratar nos meus textos. Perdido algum rigor de análise, espero que tenha compensado com a pica que estes concertos me deram.”
“3 Momentos: 1) Criação da plataforma digital Why Portugal? – Pela primeira vez uma tentativa de profissional a indústria da música em Portugal. Um destaque para o motivo que despoletou esta criação, Portugal focus country no Festival Eurosonic 2017; 2) Insch – uma banda de grounge que acompanhei desde o inicio, o momento do lançamento do primeiro álbum “Safe haven” e a minha primeira review; 3) Perdida de todos/as e sem bateria no telemóvel – Radiohead e Thom Yorque, fiquei pendurada no fio da Lua.
Concertos: 1) Benjamim Clementine (Coliseu dos Recreios); 2) Father John Misty (NOS Alive); 3) Anohny (Coliseu dos Recreios).”
“Estaria a mentir se não admitisse que a melhor experiência MDX do ano foi o primeiro concerto que fotografei. A benção feita uns dias antes pelo Luís fez-me sentir que seria bem vindo a um conjunto de talentosas pessoas que, unidas, fazem a diferença um espectáculo de cada vez. Essa oficialização seria selada com a sorridente Eliana no concerto dos Cobalt Crane.
Agosto 2011, Opeth era um dos nomes do cartaz do Vagos Open Air onde tive a oportunidade de ver pela primeira vez. Cinco anos depois surgiu a oportunidade de fotografá-los, entre outros grandes nomes do género, agora no novíssimo VOA 2016. Sendo das minhas bandas favoritas, houve sempre um misto de alegria, nervosismo e ansiedade desde o momento que pedi para ser o reporter designado até sair do pit. Ame-se ou não alguns trabalhos dos Opeth, unânime é a forma como ainda são pilares no metal e o reforço disso notou-se no sorriso idiota que tinha quando o concerto acabou.
Na minha estadia em Moledo, no Sonicblast, apercebi-me que atingi um novo patamar professional nesta recente jornada com a MDX. O line up, ambiente, a odisseia e a própria localidade foram influências, claro. Senti, contudo, que estaria a contribuir directamente para uma causa, uma ideia, a fazer a diferença. Estaria a levar-nos para território desconhecido, por uns dias fui capitão do meu próprio navio. Fotografei também uma das minhas bandas favoritas e o motivo pelo qual quis aventurar-me, descobri outras que ainda hoje fazem parte da minha playlist e de mim. Fiz amizades que sonhei e tornaram-se realidade. Conclui que estaria a viver um sonho, ou o sonho a tornar-se realidade, apenas estive foi no caminho.”
“Não é só um bom concerto que nos marca. Tudo o que possa vir da música, para quem tem uma paixão grande por ela, pode trazer vários tipos de sentimentos e sensações. Não é à toa que estremeço diversas vezes ou que choro ou que me arrepio. O ano de 2016 foi grande em emoções musicais e concertos da vida. Mas é de emoções que vou falar e descrever o que mais me marcou ano longo deste ano feliz de repórter MDX. Começo por ordem cronológica e, embora isto não seja um top, um dos momentos que me marcou bastante foi o concerto de Deafheaven no RCA a 04 de Março. Apesar de ter sido um concerto muito bom, não é disso que quero falar ou explicar. O impacto que causou em mim foi sobretudo pelo facto de uma banda de black metal ou com toques marcados de black metal ter proporcionado uma noite extremamente bonita. E quando digo bonita falo daquele sentimento de estarmos perante uma beleza tão grande que nos apetece chorar. Nunca pensei que um concerto que normalmente é coberto por um astral negro e pesado pudesse trazer-me este sentimento e foi algo muito bom de se sentir.
Depois há aquele momento em que te dizem “Eliana vem já para aqui que os The Damned estão disponíveis para entrevista”. Rapidamente começas a tremer, a ter pequenos e subtis ataques de ansiedade e a pensar que vais gelar quando ficares em frente a um monstro destes: o Mr. Captain Sensible. Mas não, a entrevista corre super bem, ele é extremamente simpático e cómico e tu sais do camarim ainda a pensar que aquilo não aconteceu com um sorriso parvo nos lábios. Ainda no âmbito das entrevistas, relevo o momento em que alguém me disse que chorou ao ler a entrevista que lhe fiz. É extremamente confortante quando sabemos que as nossas palavras e o nosso trabalho tocam e que as pessoas não têm medo de o admitir, claro que chorei também.
Por último quero falar de um festival que me marcou positiva e emocionalmente. Um festival que espero começar a frequentar e que em segundos me cativou e deslumbrou. Falo do Barreiro Rocks e da minha estreia este ano. A envolvência, o ambiente, a química, as pessoas, tudo!! É tudo demasiado bonito e rock’n’roll. Não posso deixar de referir que o dia que mais gostei e marcou foi o sábado dia 03 de Dezembro, já há muito tempo que ansiava uma noite coberta de punk daquele a sério e bom!”
Isabel Maria, Mixtapes e Texto
“Bem, sem pensar muito no assunto, confesso, (sou um pouco a favor de escolhas feitas a quente, tenho tendência a imaginar me mais honesta comigo mesma), os 3 momentos MDX são: Em primeiro lugar o Reverence no seu todo, que foi o que proporcionou a primeira vez no MDX com as mixtapes dedicadas ao festival, e ai, em particular, os A Place To Bury Strangers. O concerto dos Tau no Sabotage, que absorvi completamente alheia a que teria um convite para escrever sobre aquele momento magico, e que não e para mim qualificável ou quantificável, e a primeira de três noites dos Parkinsons no Sabotage, essa sim já com conhecimento que daquela loucura toda iria sair qualquer coisa mais que umas nódoas negras”
“1 | POSITIVO – O que de muito e bom se anda a fazer a nível da música em Portugal, e que constitui uma clara alternativa ao que se produz por aí e que tem maior visibilidade. Atenção não é meramente uma questão de escala. Arrisco exemplos, mesmo que fiquem muitos de fora. Dos músicos, acompanhar o trabalho do Gabriel Ferrandini é obrigatório. O concerto na Cordoaria, Museu do Chiado e o outro na Graça é simplesmente para guardar na parte alta do cérebro. Von Calhau! perscrutar o universo dos mesmos é tarefa árdua de sobrevivência, mas feito a plenos plumões. Ondness atento a este rapaz, só os mais distraídos é que não o fizeram. E não esquecer a celebração dos 150 anos do Satie, a Joana Gama é Hércules. A nível de programação em Lisboa o Maria Matos, já se lá vai de olhos fechados, mas ouvidos sempre abertos. Damas, uma verdadeira alternativa a uma Lisboa esquelética. Casa grande em coração e alma. Muito a aprender com estas Damas. E o trabalho feito no Desterro, a merecer atenção nos próximos tempos. No Porto, não esquecer o trabalho da Sonoscopia. A nível de editoras – Fungo e Discrepant. Nos festivais, porque que é que criticam a malta que vai ao Colombo e depois estão todos metidos no Alive e similares? Jardins Efémeros, Semibreve, Rescaldo, Madeiradig, Outfest (o original no Barreiro) e os finais de tarde da Filho Único no Palácio Pombal e Museu do Chiado a dar cartas e apontarem caminhos alternativos relativamente a modelos claramente esgotados. A nível da rádio – Quântica. Projecto a merecer curiosidade máxima.
2 | NEGATIVO – A falta de espírito crítico exponenciada pela lógica dicotómica do Facebook, de gosto, não gosto. Calma a discussão pode ser feita em tons de cinzento, e uma pergunta não tem necessariamente implícita um juízo de valor, às vezes é só elevar a discussão e ver outros pontos de vista. Excesso de blogs e meios a escrever sobre música não significa necessariamente aumento de qualidade. Seria interessante uma discussão sobre este tema. A lógica de promoção de determinados projectos, claramente obsoletas e a funcionar à la call center, nem sempre quem mais insiste é o melhor. A lógica dos corações que tudo transforma em único, maravilhoso e surpreendente. A minha parte negra duvida de tanta alegria e nem todos os concertos são assim tão bons. O esgotamento de modelos de festivais – o Reverence foi um exemplo, má organização, programação desajustada e bandas prejudicadas por um alinhamento errante. Há mais, o Jazz em Agosto teve, este ano, uma das suas piores edições de que me lembro, tendo sido salva, em parte, pelas conferências do David Toop e Evan Parker. Ou é desatenção minha ou uma oportunidade como o Eurosonics enveredou pelo esquema habitual de agradar a gregos e troianos, algumas escolhas são mais que discutíveis. A aguardar os resultados.
3 | VONTADE – Por pessoal, duvido de vontades colectivas ou pelo menos neste aspecto não é razoável fazê-lo, a vontade em poder contribuir para um maior conhecimento do que muito e bom se vem fazendo na música em Portugal. Aumentar o espírito crítico, confrontar quando necessário, desaparecer enquanto “jornalista”, fazer as perguntas com o objectivo de conhecer e aprofundar o que move cada um dos agentes a girar nestas diferentes elipses que é a música. Conhecer mais e mais e ainda mais. A curiosidade como alento e o critério como guia. Já tenho pouco tempo. Aproveitá-lo com coisas que me são mais próximas das minhas inquietações e procuras.”
“Apesar de ter entrado há pouco tempo para o MDX, não queria deixar de destacar a oportunidade que me foi proporcionada de poder entrevistar a Ana Deus e o Alexandre Soares, dois vultos da cultura moderna portuguesa e que muito marcaram quem da música faz doença desde os memoráveis anos 80.
Não se podia pedir um melhor início para as comemorações dos 10 anos de vida do Musicbox. Os canadianos Preoccupations deram um concerto memorável no 1º de Dezembro e quando interpretaram Continental Shelf foi como se tivessem deitado a baixo as paredes da já mítica sala lisboeta e a tivessem transformado num pavilhão de grandes dimensões.”
Luis Sousa, Gestão de Projeto e Fotografia
“Passado este ano de 2016, é realmente complicado destacar os momentos que nos marcaram. Como responsável deste projeto, mais importante que qualquer concerto, álbum, ou grandes entrevistas com artistas, destaco em primeiro lugar a entrega de todos os que compõem a nossa equipa. Uns mais presentes, outros mais recentes, mas todos igualmente muito importantes. O prémio “Confiança” conquistado a alguns promotores com quem ainda não trabalhávamos com maior frequência, resultado que estamos no caminho certo. O fortalecimento da nossa relação com algumas “casas” com quem temos o maior prazer de trabalhar, Sabotage e Musicbox são bons exemplos disso. A consolidação de parcerias tidas em anos anteriores – Sleep’em’All como exemplo – e acompanhar de mais perto projetos de gente que muito admiro pelo seu empenho e dedicação, a Sofia e o seu blog BranMorrighan é um desses pares que tenho seguido com mais atenção. Finalmente, a expressão “Cá Estamos!” que todos os elementos MDX me transmitiram numa altura de balanço do ano, decisiva para outros planos em 2017. Como foto repórter, vivo basicamente de energia do espetáculo e envolvência do público. Quanto mais destes dois factores, melhor me ajusto “em campo”. Pela negativa, um dia passado no Reverence Valada. Menos que em anos anteriores, e com aquele receio de que em 2017 possa não acontecer. Pela positiva, dois dias passados no Barreiro Rocks. Muito, mas muito mais, do que aquilo que eu estava preparado para receber, e a repetir em maior dose em 2017. “
“Um dos momentos mais marcantes deste ano foi o Reverence Valada. Algumas bandas eram muitos boas mas ficou especialmente marcado pelos três dias de convívio familiar, de união e bem estar que esta casa, a Música em Dx, representa. O rock in rio 2016 entra também neste lote porque foi o primeiro festival que fiz para a Dx e foi uma aprendizagem em todos os sentidos. Por fim, não podia deixar de mencionar o concerto dos Nothing no Musicbox, que embora não tenha sido o concerto que me marcou, foi por eles, indirectamente, e pelo Luis Sousa que consegui ter a minha primeira publicação numa revista.”
“2016 foi um ano alucinante. Ter começado a colaborar com o Música em DX foi, sem dúvida alguma, um dos grandes pontos positivos do meu ano. Não só voltei a fazer algo que já fazia pouco com o meu blogue – textos de reportagem de concertos – como também porque acredito ter feito amigos do género que já são considerados raros. O Luís Sousa é, para mim, o grande destaque deste meu primeiro ano no MDX. Este projecto, esta equipa, só existe porque o Luís é uma pessoa determinada, focada, exigente e rigorosa. A evolução do MDX este ano foi algo de extraordinário e o respeito conquistado é admirável. Merece todo o destaque. Mas já que falamos de coisas que nos marcaram neste contexto, não posso não deixar registada a minha aventura pelo Rock in Rio, com o Nuno Cruz, em que nos armámos em espertos e fomos para um baloiço em que eu não tive força, nem peso, suficiente para o levantar, tendo ficado suspensa enquanto ele muito triste me dizia para eu fazer força para ser a vez dele subir, e eu lá me desmanchava a rir. A minha sorte é que ele é um amor de pessoa e ainda me conseguiu tirar uma fotografia bastante engraçada. Em termos de concertos, dos que fiz pelo MDX, fica o destaque para Sarah Neufeld! Foi uma belíssima noite! Venha um 2017 com ainda mais sorrisos partilhados!”
“Deste ano de 2016, o primeiro que colaboro com a MDX, marcaram-me especialmente o concerto de Sensible Soccers no JUR, e a entrevista a MCK e Luaty Beirão sobre o concerto de Ikopongo no 10º Aniversário do Musicbox, o primeiro em Portugal depois da greve de fome de 36 dias.”
Não precisamos de entrar em 2017 para sabermos que será um ano marcante no que diz respeito a espetáculos em Portugal. A nossa agenda já está bem preenchida, e ainda estamos a terminar 2016. À parte da agenda, esperamos continuar a chamar público ao nosso trabalho. Esse é o nosso foco principal, potenciar e melhorar as valências de cada um, num trabalho todos os dias realizado em equipa, para o mostrar a quem nos segue. Cá estaremos para receber 2017 de braços abertos a muito trabalho. Até já!
Texto – Luis Sousa