O dia 20 de janeiro de 2017 ficará para sempre marcado na história como aquele em que Donald John Trump tomou posse como o 45º presidente dos Estados Unidos da América. Mal ocupou o maior e mais influente carga político a nível global, o controverso presidente apagou os registos das alterações climáticas, questão que se nega aceitar, do website da Casa Branca, deixando o mundo em sobressalto. A questão das mudanças de temperatura têm batido recordes, levando a que as condições meteorológicas sejam cada vez mais quentes ou frias, consoante a época. De forma a esquecer este dia negro, o MusicBox veio à salvação dos portugueses com um concerto para aquecer os nossos corações e enchê-los de felicidade; fala-se de Throes + The Shine, banda que reúne descendências portuguesas e angolas e junta, em termos musicais, o melhor das duas culturas.
Para além de os seus concertos serem uma autêntica fonte de diversão, os Throes + The Shine são ainda detentores da proeza de conseguirem alterar a temperatura de todo o santo local por passam, impulsionando-a para valores dignos das regiões mais quentes do globo. Numa das semanas mais frias que Portugal tem memória – sim, senhor Presidente, as alterações climáticas não são uma invenção qualquer – a elevada afluência de público que se refugiava na MusicBox apenas vinha a confirmar que aqueles que se reuniam na sala de concertos desejavam, urgentemente, uma terapia de choque para aquecer tanto o corpo e alma, tarefa que a banda oriunda do Porto iria cumprir de forma irrefutável.
Com o passar do tempo, cada vez mais eram aqueles que o enchiam o MusicBox, detetando-se rapidamente uma mudança na temperatura ambiente, fruto do ar condicionado e calor humano. Este último iria aumentar drasticamente quando, perto da meia-noite, Marco Castro e Igor Domingues – a dupla responsável por toda a parte instrumental dos Throes + The Shine – subiram ao palco para dar início a um verdadeiro festival de rockuduro (rock + kuduro), mas antes houve tempo para dois pedidos de última hora: que os presentes que se juntassem mais perto do palco e
“FAÇAM BARULHOOOOO!”
Foi com este pronúncio proferido por Marco que os dois enérgicos e irreverentes frontmen dos Throes + The Shine – Diron e Mob – se juntaram aos seus dois colegas, todos vestido vestes tipicamente africanas, com o intuito de garantir que a noite seria de festa. Desafiando o público a saltar e a dançar compulsivamente, “Tuyeto Mukina” e “Tá a Bater”, serviram como aquecimento de um serão que se previa ser de festa do início ao fim. Agradados pela postura positiva dos jovens que se manifestavam de forma efusiva, dedicaram-lhes “Guerreros”, pela sua garra e fibra em não cederem ao desafio que lhes fora inicialmente propostos, algo que a retaguarda do MusicBox estava a ter dificuldades em cumprir.
Prosseguindo com “Capuca”, um dos primeiros singles do mais recente longa duração, Wanga, a noite estava a ser de grande ênfase neste novo disco, onde a componente característica da banda que junta tanto membros do Porto como de Luana, o rockuduro, é suavizado para que seja a eletrónica e as suas variantes as grandes personagens principais deste novo percurso dos Throes + The Shine. Todavia, as origens não foram esquecidas, algo nítido quando Mob anunciou que o tema que se seguia seria “Batida”, o grande hit da banda, que levou a um autêntico festim de alegria e diversão, tal como nos têm habituado nas suas estadias periódicas na sala de concertos do Cais do Sodré, com Igor Domingues a propor ao público que saltasse desalmadamente durante a parte final da música, algo que os presentes cumpriram com distinção.
“Wazekele”, “Tipo Ya” ou “Hoje é Festa” foram outros temas interpretados que exemplificam na perfeição a forma como as músicas da banda conseguem sempre provocar sentimentos de diversão genuína para quem as ouve, sendo esses sentimentos de felicidade expressos na forma de danças espontâneas. Contudo, dança é algo que não falta nos concertos de Throes + The Shine, com Diron e Mob a serem duas autênticas máquinas de mexer (e fazer bater) o pé, possuindo uma genica invejável que lhes permite não constarem com a palavra ‘cansaço’ no seu dicionário, convidando, até, duas atraentes moças para lhes fazerem companhia em cima do palco – e não é que até se desenvencilharam bem?
Visivelmente gratos pela calorosa receção que encontraram em Lisboa, os Throes + The Shine não quiseram dar a noite terminada por ali, com Mob a provocar um serão de “eu digo/vocês repetem” antes de voltarem para o encore; “ainda não acabou” e, por sugestão de uma fã, “ninguém acaba assim” ecoaram por todo o MusicBox antes de “Coisa Louca” e “Ndele” darem por encerrada a noite, mas não antes de a constante interação entre banda/público ter levado a mais alguns momentos carismáticos, como Diron a descer para fora do público e criar um círculo de dança ao seu redor ou até colocarem quase toda a sala de cócoras para depois saltarem quando ordenado, num momento em que se contava pelos dedos de uma mão aqueles que não obedeceram ou não tinham um sorriso estampado nos lábios.
A fórmula dos Throes + The Shine sempre se apresentou como vencedora: combinar kuduro, eletrónica e rock. A junção destes três elementos permite-lhes levar a cabo atuações memoráveis e explosivas, onde a noite de dia 20 não foi uma exceção, com a banda a assinar um concerto cheio de adrenalina. Para aqueles que procuravam um refúgio do frio avassalador que pairava numa das ruas mais movimentadas de Lisboa, não houve melhor escolha do que o MusicBox, levando consigo temperaturas tão elevadas que certamente que o frio só voltaria a atacar quando chegassem a casa. Quem diria que, para além de uma máquina festiva, os Throes + The Shine seriam também um boletim de meteorologia, hein?
Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Ana Pereira