Expectativa – As Death Valley Girls acabaram de lançar Glow in the Dark, o seu segundo álbum, e andam pela Europa de mochila às costas, o habitual nestas andanças de tournées. Antecipamos, portanto, que fervem em energia e entusiasmo, que se encontram completamente preparadas para não esbanjar esta oportunidade soberana de manter os fãs atuais, e alcançar novos entusiastas.
Além de anunciarem a sua música como experiência psicadélica, o facto de terem origem em Los Angeles, terra dos The Doors, impulsiona todo o nosso imaginário de percepções sensoriais causadas por sonoridades com um toque singular, muitas vezes difícil de resumir a palavras. Confiamos que todo esse psicadelismo esteja patente não apenas na sua sonoridade, mas também na sua atitude e postura.
Das inúmeras vezes que os 33 minutos deste álbum nos chegaram através dos headphones, nenhuma nos desiludiu. Além de tudo isto que vos enumeramos, a presença no Sabotage Club afigurava-se a estreia da banda em solo Português. Estávamos, portanto, entusiasmados.
Realidade – Apesar de lermos na maioria dos cantos desta enorme Internet – sim, até na descrição do evento – que as Death Valley Girls são um “trio de miúdas”, alguma pesquisa levou-nos a perceber o que confirmamos quando a banda entra em palco: não apenas estamos perante um quarteto, como Larry Schemel é o guitarrista da banda. Não sabemos que delito possa ter cometido este rapaz que levou a tão frequente discriminação.
Mas passemos à música. O primeiro tema transportou consigo o entusiasmo e alguma energia do grupo, mas também uma voz demasiado baixa, pouco audível, que prejudicou a abertura do concerto. A interacção da banda com o público – assim como a posterior melhoria das condições acústicas – amplificou o entusiasmo de uma plateia curiosa com a sonoridade que ia sendo exibida por quatro pessoas cobertas de cabedal.
Embora as DVG se definam como “Rock ‘n’ Roll” e “Dystopian Punk”, parece-nos que Noise Rock talvez será a definição que melhor reflete a musicalidade da banda. Os riffs são simples – 2 ou 3 acordes – mas bastante eficazes. A voz rouca da vocalista, a energia do grupo, e a cadência dos temas transporta-nos para aquela época e para aquele som muito Black Sabath. As suas músicas não são menos que setas apontadas ao establishment, percorrendo temas como o sexo, o consumismo ou temas filosóficos como o absurdismo.
Músicas como Seis Seis Seis, Glow in the Dark ou Death Valley Boogie foram cartadas bem jogadas pelo quarteto Americano, porém a comunicação com a plateia não se revelou a mais efectiva. Repetitiva, lenta, e muitas vezes sem muito sentido. O psicadelismo, tão anunciado como uma das suas imagens de marca, vai estando presente na sua música, mas certamente não irá ganhar nenhum concurso genuinidade. As cruzes invertidas pintadas na testa atraem a curiosidade, mas não contribuem muito mais que isso neste aspecto.
É verdade que o concerto teve alguns momentos bem conseguidos. A baterista mostrou-se preparada, a música Disco foi um bom momento musical, mas não será menos adequado afirmar que a banda arremessou para o chão daquela sala uma boa oportunidade para demonstrar o seu potencial. A expectativa era elevada, mas na realidade as DVG não fizeram justiça à qualidade do álbum que apresentavam.
Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Luis Sousa