João Aguardela abandonou-nos cedo demais. É sempre cedo demais. Especialmente quando alguém ainda jovem já deixava uma marca tão vincada naquilo que mais gostava de fazer, música. Homem das artes, fundador dos Sitiados e depois com participações em outros projetos como A Naifa, Linha da Frente ou Megafone, era também alguém interventivo pela causa social. Podemos dizer que será para sempre recordado com saudade, e alguém que marcou uma das mais importantes épocas da música portuguesa, a década de 90. A dimensão da sua importância reuniu em ensaio público no Popular Alvalade na passada 5ªfeira os Sitiados, e a estes se juntaram outros amigos bem conhecidos do público português.
Mitó Mendes (A Naifa e Señoritas), Viviane (Entre Aspas), Rui Duarte (RAMP e Linha da Frente), Paulo Costa (Ritual Tejo), Paulo Riço (Essa Entente) e Tim (Xutos & Pontapés) foram as vozes amigas em palco, Rui Reininho também por lá estava no meio do público; por parte dos Sitiados, estiveram Mário Miranda (baixo), Rodrigo Dias (baixo e guitarra acústica), Samuel Palitos (bateria), Francisco Resende (guitarra elétrica), João Cabrita (saxofone), Jorge Ribeiro (trombone), João Marques (trompete), Jorge Buco (guitarra acústica e bandolim) e Sandra Baptista (acordeão).
Juntos revisitámos os temas mais conhecidos da banda, onde não faltaram “A Vida de Marinheiro”, “A Noite”, “Soldado”, “Circo”, “E ela é cega”, “Amanhã”, “E agora?”, ou “Outro parvo no meu lugar” apenas para citar alguns dos muitos temas recordados.
Destacou-se ainda a presença de Ricardo Alexandre, jornalista e amigo de João Aguardela, autor também de “João Aguardela – Esta vida de marinheiro”, a sua biografia oficial, e que nos leu um pequeno excerto desta obra.
Foi uma bonita noite, cheia de boas energias e alguma emoção, de ensaio – ninguém diria a avaliar pela lotação esgotada no Popular Alvalade – e a prometer um grande espetáculo de homenagem a realizar no dia 17 de Fevereiro nas instalações do ICMAV em Polima, organizado pela Junta de S. Domingos de Rana, freguesia onde o músico morou desde criança até à data da sua morte em 18 de Janeiro de 2009.
Para além das breves palavras aqui fica também o meu testemunho fotográfico de uma noite que me devolveu o tempo dos sorrisos de muitas noites de rock em português passados nas décadas de 80 e 90 no tempo já distante de um século passado.
Texto e fotografia – Luis Sousa