Por vezes o escuro traz medo, solidão e uma sombra coberta de criaturas estranhas. Outras, mistério e sedução ou, ainda, um refúgio quente onde encontramos o aconchego do desconhecido. Há dois rapazes que esperam pelo anoitecer para nos aconchegar e poder guiar até submundos complexos e distorcidos que nos desconstroem a mente ao mesmo tempo que a completam.
Falo de Wait Until Dark (WUD) e do seu álbum de estreia Heart x Cortex. Os WUD são, na verdade, três no total: o André Ferreira (voz, sintetizadores e teclas), o Gustavo de Liberdade (teclas, segundas vozes, animação e design) e o David Ventura (arte visual dos concertos) e vêm de Lisboa. Gostam de apostar nas texturas complexas tanto na arte visual como na musical.
Heart x Cortex é uma projecção virtual de personagens que moldam à sua imagem. Trata-se de um álbum futurista com traços demarcados do rock industrial de Nine Inch Nails misturados com a aposta numa electrónica negra, pesada e enigmática. É um álbum extremamente sensorial complexamente trabalhado e coberto de efeitos a todos os níveis. A essência da banda baseia-se, fundamentalmente, nos focos visual e auditivo, criando ambientes eléctricos e electrizantes capazes de originar faíscas mentais que se tornam mais confortáveis à medida que o desconforto aumenta.
Não se trata aqui de um disco para se ouvir todos os dias, a sua textura densa e aprimorada requer preparação e estados de espíritos adequados, o synthpop com a vertente industrial tem destas manhas! É um disco extenso desenhado por 12 faixas igualmente extensas unitariamente, diria que talvez seja o único ponto negativo deste álbum.
Ao longo de Heart x Cortex vamos cruzando um percurso com vários graus de intensidade são 12 as encruzilhadas e há que ter atenção para não nos perdermos nelas. Há faixas hipnotizantes e até perturbadoras e os sintetizadores foram ensinados bem o suficiente para nos fazer perder o norte. A voz, por sua vez, assustadora na sua consistência, torna-se meiga e uma das nossas melhores amigas, sendo capaz de, por vezes, nos salvar. Há uma condensação atmosférica de variantes electrónicas, sintéticas, densas, robotizadas e epilépticas que nos tentam desequilibrar, ao tentar atacar a consciência humana por todas as vias. “Higher”, “Persona”, “Silent Trophy” e “Curia” são, talvez, as faixas mais energéticas e alegres do álbum, criando ritmos mais suaves e coloridos. Arriscaria dizer que a “Higher” foi estrategicamente bem escolhida para primeiro single da banda, dado que é uma das faixas mais viciantes. Contrabalançando com a cor, a escuridão e peso da “Metatonia”, a faixa mais longa, emotiva e intensa.
Os WUD têm uma história para revelar: o segundo álbum será uma prequela onde vão contar a origem dos personagens “Higher”, “Helical” e “Basorexia” (os três singles do álbum que compõem uma trilogia com uma narrativa interligada e que termina em aberto) e no terceiro álbum vão dar continuidade à história inicial deste Heart x Cortex. Que isto vos sirva como foco de curiosidade acerca destes rapazes e vos aguce o apetite!
O álbum vai ser apresentado amanhã, dia 10 de Fevereiro no Incógnito pelas 22h.
+info em facebook.com/waituntildark.project/
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Arlindo Camacho