Em noite de intempérie e frio, houve uma romaria resistente a todos os males da mãe natureza. Essa romaria pintava-se de negro e tinha como destino o RCA Club. Era noite de festa, excitação e até algum nervosismo, tratava-se da primeira aparição de Heartless Oppressor ao vivo e a expectativa era grande. Era o dia de Primal Attack e, para a festa, convidaram Analepsy e Revolution Within.
Era sexta-feira, dia 10 de Fevereiro e as portas do RCA abriam-se para receber fãs e curiosos. Em poucos instantes a sala ficara bem composta e os primeiros focos caiam sobre Analepsy pouco depois da hora marcada. A brutalidade entrava-nos pelos ouvidos. Estávamos diante de uma banda de puro brutal death metal. O som pesado na sua essência, tinha como objectivo expulsar os demónios da semana e chamar os da noite. O baixo grave, realçado em pleno poder era acompanhado pela voz igualmente grave e opaca, pelos uivos das guitarras e pelo compasso forte e delineado da bateria. Era dia de apresentação de álbum, também, para eles com Atrocities from Beyond a cheirar ainda a fresco e, em cerca de meia hora, mostraram o novo trabalho e revisitaram o EP Dehumanization by Supremacy com temas como “Colossal Human Consumption” e “Viral Disiese”, entre outras. Na última faixa tiveram a companhia de Sérgio na voz que puxou ao máximo por si e pelo público presente.
Ouvia-se a música do Extreminador Implacável 2 como intro e pouco tempo depois o palco enchia-se novamente, desta vez com os Revolution Within que vão marcar presença, também, no próximo dia 17 no Porto na apresentação de Heartless Oppressor. A idade, estrada e o nome que carregam é revelador da origem do trabalho que fazem em palco e fora dele. As horas iam passando e a qualidade e intensidade das bandas ia aumentando. Pelos ouvidos, um metal com uma presença thrash bem delineada. A bateria, coração de todas as bandas, ditava um por um os batimentos e a aceleração dos mesmos, criando o caos entre o público que, cedo criou um núcleo de mosh. A voz de Raça é limpa e forte. As mãos trabalham as guitarras com sabedoria e a rapidez que o thrash requer, construindo riffs que nos gritam aos ouvidos e de imediato nos constroem um sorriso na face. Hugo Andrade (Switchtense) subiu ao palco perto do final do concerto para cantar “Pull The Trigger” e incitar o circle pit, tarefa não muito difícil devido à aceleração que já se vivia por entre o público comandada por Raça com os movimentos de quem mistura o conteúdo de um caldeirão. Em cerca de 40 minutos ouvimos “Annihilation”, “Suicide Inheritance”, “From Madness To Sanity” e “Until I See The Evil Dies” do mais recente trabalho da banda Annihilation e ouvimos ainda temas de Collision e Straight from Within.
Já com a barriga meio cheia, mas ainda com alguma fome, o prato principal e o mais desejado da noite estava prestes a ser degustado com todos os sentidos. Uma espera de 3 anos trouxe-nos Heartless Oppressor e cada faixa compensa cada mês esperado. Trata-se de um álbum muito trabalhado e de muitos arranjos e composições entrelaçando uma amálgama de estilos de metal como o thrash, o prog, o death metal, industrial e até hard rock. Resultando tudo numa densidade demasiado opaca e com um sabor tão intenso que deixa sempre um rasto na boca e nos ouvidos.
Esta noite foi composta por degraus de intensidade e com Primal Attack, para além de termos o melhor concerto da noite tivemos, também, o mais intenso. Havia um elemento de partilha forte e não falo apenas de música. Num único passo as dezenas de almas presentes transformaram-se numa só e, na maior parte das vezes, entoavam as músicas uma a uma. Houve vários graus e níveis de intensidade criados por explosões sonoras ou meros solos de guitarra que serviam de íman para nos colar ao céu. Cada instrumento era usado e trabalhado sabia e estrategicamente provando que, ao vivo, Heartless Opressor, funciona muito bem. Do sucessor de Humans só ficou “XXI Century Curse” de fora e do Humans foram tocadas a “Safe and Strong” e a “Despise You All”, ressalvando a carga emocional de “Safe and Strong” dedicada a um fã que já não se encontra entre nós. Em resumo, o mais recente trabalho de Primal Attack mostrou uma coesão e acabamentos que fizeram o RCA estremecer, tal como nós. De realçar a qualidade de som que esta sala nos proporcionou. Daquela noite, o sorriso de completude e a dor no pescoço.
Os Primal Attack vão apresentar Heartless Oppressor na Cave 45, no Porto, no próximo dia 17 acompanhados de Dark Oath e Revolution Within.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Daniel Jesus