Não é difícil identificarmos uma região do país a um tipo de comida, bebida e até paisagem. Começa a não ser difícil, também, fazê-lo com a música. Neste momento Portugal encontra-se num boom de aparecimento de bandas gigante. Muitas entram e não saem do ouvido, outras tantas nem sequer entram. Este boom estende-se a todas as regiões do país e, é cada vez mais fácil, associar um estilo a uma região, como uma característica intrínseca, enraizada e consolidada. Só os desatentos é que não vão perceber o que eu digo. O facto é que o rock de Coimbra sempre foi o mais cru e despido de preconceitos. Ouvir Pussywhips é criação automática de faíscas na cabeça e associação imediata a Coimbra, como se nem precisássemos de ler a ficha deles.
Na quinta-feira passada, dia 16, decidiram vir à capital apresentar o seu primeiro trabalho, o EP Homónimo, no Lounge.
Após uma eterna e desesperante espera aparecem, tímidos, os Pussywhips.
Apesar de o som não estar nas melhores definições, a verdade é que, durante 40 minutos fomos invadidos por uma sujidade daquela que não queremos que seja limpa. Os Pussywhips trazem os riffs ritmados e assanhados do rock de garagem, a voz coagulada e estranhamente agradável do noise rock e a sonoridade de uma bela noite versão Trainspotting. A voz de Sofia, que vai aparecendo ao longo da noite, cria a sincronização e a empatia prefeita, tornando-se o complemento indispensável.
Foi noite de apresentação e, do EP, tocaram “1000 Ways To Die”, “Lame Society” e “Solidarity”. Os outros 8 temas tocados são temas novos ou não gravados como “Paraesthesia”, “Anaconda” ou até “Selfie Sticked”. São todos rápidos e curtos, se não tivermos cuidado apenas sentimos beliscões no cérebro e no coração sem dar conta do que aconteceu. A verdade é que, em tempo algum, conseguimos deixar de absorver o ritmo e a velocidade deste rock sedento e guloso que escutamos, criando-nos vontade de saltar e até entrar, naquilo que se chamaria de palco, com eles.
É este o efeito do rock de Coimbra! Capaz de explodir dentro de nós e deixar-nos com uma estrutura autista e completamente embevecida de quem gosta de viver no limite e foi isto que este trio nos fez sentir na passada quinta-feira.
Venham mais chicotadas de rock!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa