Um caos de alegria desmedida, assim se pode rotular o concerto dos State Champs no RCA em Lisboa. A banda de Albany, estado de Nova Iorque, em estreia absoluta em Portugal, começou a sua tour europeia num concerto em que o público não foi numeroso, talvez por ser domingo á noite, mas que compensou pela dedicação demonstrada. O quinteto não defraudou expectativas, espelhando a energia da audiência, numa noite também marcada pela divisória entre a bela prestação de We Bless This Mess e pelo exibicionismo sensaborão dos As It Is.
Sirvamo-nos de um marktwainismo para dar rumo a esta peça: notícias sobre a morte do Pop-Punk foram manifestamente exageradas. Se é verdade que a MTV já não roda Sum 41 e Fall Out Boy a toda a hora (mas também já não passa música, por isso vai dar ao mesmo) e os padrões axadrezados já não são omnipresentes entre certas franjas da sociedade, tem-se notado nos últimos anos uma vaga no outro lado do Atlântico de novos talentos que tem vivificado o género com um vigor rejuvenescido. É claro que haverá quem diga que não pode haver uma nova vida para algo que nunca morreu, mas é inegável que bandas como os The Wonder Years, The Story So Far ou Pup deram um impulso substancial a um movimento aonde os State Champs agora se inserem entre os orgulhosos portadores da tocha poppunkiana. Apesar do género não de beneficiar da mesma popularidade que o seu musculado irmão no Hardcore granjeia aqui em Portugal, mostrou, na sala alvaladense, ser capaz de reunir um jovem público indefectível, com as letras todas na ponta da língua.
Derek DiScanio, o vocalista do quinteto, admitiu que não tocavam há coisa de cinco ou seis meses, mas, se ferrugem havia, em nada se notou quando se lançaram numa Losing All que começou logo a causar alvoroço. Sim, os State Champs têm aquela candura pop de falar desgostos amorosos e problema na vida de sorriso na cara com refrões orelhudos como em Remedy, mas não descuram a intensidade que leva uma Eyes Closed a provocar moshada. All You Are is History, do mais recente Around the World and Back, levou o público ao delírio e Easy Enough manteve a bitola.
Íamos já a meio da prestação e a banda sacou um trunfo inteligente, talvez fruto de alguma experiência acumulada em estrada. Para evitar atingir um pico demasiado precoce e para quebrar algum mesmismo, DiScanio ficou sozinho em palco para interpretar Stick Around junto do guitarrista Tyler Szalkowski em versão acústica, situação que se repetiu na enjoativamente açucarada If I’m Lucky, com direito a isqueiros e o seu equivalente do século XXI, luz de smartphone. O conjunto depois voltou à carga com Perfect Score e Coming For You, mas foi Elevated que, fazendo jus ao nome, subiu o nível ao provocar uma pequena enchente no palco entre os que queriam conviver com a banda e os que aproveitaram a ocasião para praticar a nobre arte do stage diving.
Contudo, esta seria apenas uma simulação para o que se seguiria. Íamos já em regime de encore com elogios de parte a parte trocados e promessas de retorno em breve feitas, quando os State Champs tocaram Nothing’s Wrong e o seu maior êxito, Secrets. Esta última levou à derradeira invasão, a tal ponto que os membros da banda desapareceram perante a maralha de juventude entre a histeria e a parvoíce de querer tirar selfies com os membros da banda (é aqui que um gajo, apesar de ser ainda um miúdo, se sente velho), tanto que o baixista Ryan Graham foi tocar para o meio do público impávido sem ninguém reparar.
Antes deste fantástico desenlace, tivemos direito a assistir a duas experiências diametralmente opostas. Começando pelos We Bless This Mess, Nelson Graf Reis veio reunido de banda preparado para proporcionar uma ocasião especial. O seu Folk à americana com energia Punk trouxe-nos Frank Turner ou o “nosso “ Sam Alone inevitavelmente à memória, e foi com Darling, Silence, Mom and Dad e a versão de Teenage Anarchist dos Against Me! que nos deixou uma prestação intimista, mas com eles no sítio, na memória.
O mesmo não se pode dizer dos As It Is. À honestidade despida do músico de São Mamede de Infesta seguiu-se pretensão desinspirada da banda, metade inglesa, metade americana. Os As It Is são até mais Pop que Punk, aproximando-se duns 5 Seconds of Summer, mas não é por isso que são medíocres. É que a energia do colectivo e o encanto juvenil do vocalista Patty Walters não foram suficientes para mascarar a insuficiência das suas canções, não obstante a entrega de uma boa percentagem do público que era claramente fã. É natural que nem tudo foi mau, com os singles Hey Rachel e Dial Tones a destacarem-se, mas convenhamos: até no prato mais requentado, há sempre uma ou outra garfada que sabe menos mal.
Texto – António Moura dos Santos
Fotografia – Nuno Cruz
Promotor – Ample Talent