Filipe Catto decidiu fugir do Carnaval do Brasil e vir para o frio europeu. Diretamente para Lisboa, embora ainda desse dois concertos em Ílhavo e em Braga, o artista natural de Porto Alegre, veio aquecer os lisboetas no Mercado da Ribeira, no Estúdio TimeOut, na passada quinta-feira.
Cadeiras instaladas, casa praticamente cheia. O ambiente estava montado para receber Filipe Catto e a sua banda. Filipe Catto traz na sua bagagem Tomada e Fôlego, dois álbuns portentíssimos, a acrescentar também o Entre Cabelos, Olhos e Furacões, mas não acusou excesso de peso na vinda para o solo lusitano.
E é ao som de temas como Adoração, Roupa do Corpo ou Depois de Amanhã que nos dá a conhecer a sua dimensão performativa, a invocar artistas como Ney Matogrosso, mas também inspirações musicais muito variadas. Desde da sua contemporânea Elis Regina até PJ Harvey, Filipe Catto consegue dar uma roupagem à Música Popular Brasileira, que rejuvenesce neste momento com outros artistas como Tiago Iorc, Céu, entre outros jovens cantores brasileiros.
De um timbre único, leve, o seu jeitinho para a música enjeita-nos confortável na cadeira, embora por momentos nos queiramos estar de pé. Noutros registos mais solenes como na Paloma Negra, ficamos só pelos aplausos ou pelo passo em falso, visto que por vezes as suas pausas são enganadoras e o espectador menos atentos, não percebem quando é que termina a sua atuação.
Cria por isso mesmo, impacto na audiência, determinado a encantar com o seu conhecimento musical, como ainda podemos constatar em outros temas como Saga, Eu te amo, ou Do Fundo do Coração, que é resultado de um poema de Júlio Barroso, escritor que disputou a faixa temporal de Cazuza e Lobão.
Uma característica algo comum na troca intercultural com o nosso país irmão, é o facto não existir um vasto conhecimento da música portuguesa no Brasil. Naquela noite, um acontecimento reduziu as distâncias musicais, visto que Filipe Catto, terminou a noite à boleia/carona (em pt-br) de António Variações, com a Canção do Engate. Com todos de pé a dançar e a cantar, podemos dizer que foi um final com chave de ouro.
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Luis Sousa
