Falar de TOY é algo que, rapidamente, tem a capacidade de desenvolver uma espécie de formigas imortais e injectá-las na ponta do dedo do pé, fazendo com que se espalhem até à cabeça, criando momentos de um conformo momentâneo e incontornável. Ouvir TOY, faz com que as formigas cresçam e se instalem nos pontos mais sensíveis e delicados conseguindo, assim, fazer com que o deleite aumente de intensidade e, em instantes, entremos numa bolha consciente e inconsequente onde queremos residir eternamente, de olhos serenamente fechados, sorriso rasgado e com o corpo a contorcer-se de prazer.
Na passada terça-feira, dia 7 de Março, tivemos a oportunidade não só de ouvir mas de ver e sentir TOY num dos clubes mais imponentes de Lisboa, o Sabotage Rock Club.
Sala esgotada. Primeiro o aconchego corporal e, momentos depois, o auditivo. Com a pontualidade inglesa e a timidez de quem vem de Brighton, o enamoramento foi instantâneo. Constava que não tocavam tão perto do público desde o início da carreira e tão bem que lhes soube! A eles e a nós.
Inicialmente, decidem encher-nos de uma suavidade amena e de ritmos alegres desenhados pela “Fall Out Of Love”, a introdução perfeita para uma das noites mais belas que este ano trouxe até agora. Rapidamente perdi o chão e deixei-me ir numa viagem por entre fios condutores e rasgos luminosos de explosivos detonados por asteroides.
À média luz e com vinho branco a acompanhar, oferecem-nos um verdadeiro jogo de cordas comandado por conhecedores do encanto, contrabalançado pelo ritmo quente dos sintetizadores e guiado pelo galope ofegante da bateria, numa evolução e construção ascendentes que quase descoordena os sentidos e desloca a massa encefálica que carregamos. A progressão traça compassos muito bem estruturados, com a intensidade bruta e assustadora de quem salta por uma ravina de braços abertos.
Em suma, o que depositavam em nós eram apertos no coração e reacções incontroláveis que ganhavam maior intensidade com o fechar leve de olhos e a elevação do espírito por caminhos indiscritíveis de paisagens belas, escuras e, ao mesmo tempo, delineadas com cores quentes e mágicas.
Ao longo da noite foram-se traçando trilhos de psicadelismo mesclados com ondas de shoegaze e krautrock onde nos queríamos perder para sempre. Se há alturas em que anseio que o tempo pare, esta foi uma delas, para conseguir saborear o mais lento possível as náuseas de prazer sentidas. A viagem de passagem por Clear Shot mais longa, como se previa. “I’m Still Believing”, “Fast Silver”, “Clear Shot”, “Clouds That Cover The Sun”, “Another Dimension” e “Dream Orchestrator” vieram confirmar a maturidade e o calo que estes 5 rapazes foram ganhando com o passar dos anos nas mais variadas mutações e moldes musicais. Passaram ainda por TOY, Join The Dots e pelos EP’s Left Myseft Behind e Heart Skips a Beat.
Porque o que sabe bem tem um fim vertiginoso. Porque sabemos que o fim anda sempre perto. Porque os melhores momentos são aqueles que vivemos com mais intensidade e os que devemos aproveitar sempre da mesma forma que nos são oferecidos: com o mesmo grau de intensidade e plenitude. Porque o fim chegou rápido demais, mas ainda com tempo para um encore de uma música. Porque o fim trouxe aquela saciedade leve à alma que nunca se sacia.
Restam as memórias do prazer e a vontade de ter mais. Voltem em breve rapazes, sempre com essa intensidade e com o manto de timidez escuro que vos acompanha.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa