Tinha sido uma semana intensa e as emoções estavam num patamar elevado. Não baixariam nem por um segundo com um encerrar de semana como o da passada sexta-feira, dia 10. A sombra mantinha-se quente e as portas do Sabotage Rock Club abriam-se diante dela e deixavam inundar-se pelo encanto misterioso do rock’n’roll.
Falo de The Twist Connection e do seu concerto de apresentação de Stranded Downtown que superou em tudo as expectivas e as ânsias geradas à volta destes 3 senhores.
Ter um frontman que toca bateria e caixa de ritmos de pé e, ao mesmo tempo, canta é, já de si, algo de enaltecer. Ter um frontman que comanda uma sonoridade de puro rock’n’roll e, ao mesmo tempo, troca umas palavras tímidas e desajeitadas mas cheias de coração, é algo ainda melhor.
Os The Twist Connection vêm de Coimbra e mais não preciso de dizer. Já todos temos ou devíamos ter o conhecimento do que representa o rock desta cidade de capas negras. Não é, assim, de espantar que nos tenham trazido uma noite revestida daquele rock que só quem o tem nas veias, o sabe tocar. Para além de ter a origem em Coimbra, consegue guiar-nos por aquelas longas estradas americanas, quentes na sua plenitude, que rasgam longos desertos e nos guiam até ao prazer.
Começo por descrever os riffs que desconcertam e nos batem de chofre ao mesmo tempo que nos abanam e nos impedem de parar de mexer a anca, característicos do rock’n’roll das origens e daquele que gostamos mais. Acrescento o poder do baixo, com na sua altivez de, quase, papel principal tocado por um dos mestres destas lides, Sérgio Cardoso. E chego ao centro do palco, de onde sai o ritmo da bateria sensual e poderosa acompanhada, ao mesmo tempo, pela voz crua e confortante de Carlos. Um trio que não poderia funcionar melhor na sua plenitude e dedicação. Um trio que, pelos anos de sabedoria, sabe onde quer e chegar e qual o melhor caminho a seguir.
O álbum foi dissecado na íntegra, com a adição de mais um par de músicas extra. “Night Shift”, “Move Over”, “Breath In” “Long Drive” são as faixas mais fortes e ritmadas, atirando-nos para a perdição e devaneio do que pode ser considerada uma noite quente de rock. Escusado será dizer que “Turn Off The Radio” foi um dos pontos altos da noite, com direito a coro por parte do público e uma energia partilhada a uma só alma.
A conexão que esta noite nos trouxe, não foi só física como também psicológica. Mas é disso que se trata quando falamos daquele rock’n’roll que vem de dentro, daquele ser que leva transfusões de rock à nascença e se alimenta disso a vida toda. Que estes três senhores nunca limpem o sangue e que nós possamos aquecer a alma com estas noites mais vezes.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa