O significado de bons rapazes torna-se algo ambíguo e de difícil consenso. Mas há uns rapazes oriundos de Alcobaça que conseguem, na perfeição, encaixar-se nesta definição. Não sei se são bem comportados, nem tampouco me interessa saber. A única coisa que posso garantir é que, em palco, são deliciosos e a música que fazem não nos podia transmitir melhores energias.
Good Boys é o primeiro longa duração dos Stone Dead e foi a sala do Sabotage Rock Club que escolheram para o mostrar às pessoas na passada quinta-feira, dia 16.
Se em casa, a audição deste quente e voluptuoso trabalho escorregou como mel, ao vivo ganhou o boost necessário para criar ondas envolventes de um gozo inexplicável que remeteu, precisamente, à nostalgia de uma infância feliz e rebelde.
A forma como dançam e se conjugam entre si transforma qualquer espaço num momento íntimo de partilha e comunhão que empurram de forma astuciosa e delicada para o público, fazendo com que cada minuto que passa se viva em perfeita união como se o ambiente nos sugasse para o mesmo pulsar de magia.
A guitarra distorce-se e contorce-se diante de nós com uma força tal que quase nos puxa os joelhos para o chão numa perplexidade louca e inexplicável. A bateria de Bruno ganha voz própria e consegue transmitir-nos tudo aquilo que apenas se sente e não se descreve, ajudada pela voz do seu mestre que tanto tem de suave como de brusca e nos consegue embarcar em encantamentos de embalar e figuras aconchegantes de mãos que acariciam a alma. João Branco, com a sua voz crua e despedida de tudo, comanda a melodia e toda a envolvência que transborda, já o baixo, elemento envolvente de toda a delineação, deveria estar mais alto para se saborear melhor. Tudo se resume a um rock muito característico que mal se consegue definir, apenas sentir, com alguns riffs de psych e uma tonalidade muito vincada dos bons momentos passados em garagens na adolescência. Afinal não é disso que se trata? Sermos todo o fruto daquilo que nos construiu musicalmente ao longo da vida? Com a certeza de que não seremos livres se não nos livrarmos do preconceito e se não nos desviarmos do caminho da multidão? Estes quatro rapazes provam como se brinca em palco como se não houvesse amanhã com a força e o power de quem acabou de nascer e a maturidade de quem consegue encantar a multidão que tem diante de si. O ritmo é quente, conseguindo por vezes guiar-nos para o movimento musical californiano que parece feito, sempre, estrategicamente, de modo propositado para se entranhar em cada molécula do nosso corpo.
O álbum foi apresentado na íntegra com a excepção de “Johny Puke” com especial menção para “Moonchild”, “Apple Trees”, “Candy”, “”Silver Ball” e “Good Boys” que nos deixaram com dor de pescoço e um sorriso avantajado pelo rosto a tal ponto que conseguimos fazer com que os rapazes voltassem ao palco e nos oferecessem mais uns minutos de prazer com “TV Eye” dos Stooges intensamente bem representada.
Continuem bons rapazes! Sempre com essa capacidade apetitosa de oferecer guloseimas auditivas ao mundo.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa