Em noite de concerto de lançamento de Good Boys, aproveitámos a descontracção e os momentos antes do concerto no Sabotage Rock Club para ter uma conversa com os Stone Dead (João Branco, Bruno Monteiro, Jonas Gonçalves e Leonardo Batista) sobre bons rapazes, música e o Festival Tremor’17, onde irão tocar no próximo dia 8 de Abril.
Good Boys deixa um gosto adocicado e quente na boca. Trata-se do primeiro disco da banda e traz com ele as ondas de rock necessárias para fazer estremecer cada tímpano por onde entra. A qualidade é gritante e o polimento também. Ao degustar o álbum, automaticamente, somos empurrados para um encontro com aquilo que de melhor a música nos trás e as memórias de uma vida em crescimento com a música. Com esta vaga de boas energias, não aguentámos a curiosidade e tivemos de ir conhece-los.
Música em DX (MDX) – Este álbum demorou muito a ser cozinhado ou surgiu naturalmente?
Stone Dead (SD) – Foi um pouco dos dois. O álbum já estava escrito há algum tempo ou a maior parte das coisas. Demorou um pouco a perceber o som que queríamos, a adaptar as letras… Também tivemos mudanças na formação da banda e com estes atrasos todos demorámos cerca de 2 anos a planear tudo até gravar e produzir. A criação foi mais natural. Depois na gravação é que tivemos mais uns obstáculos em conseguir perceber o tipo de som que tínhamos pensado e com isso tivemos de nos adaptar a com quem estávamos a gravar e trabalhar bastante na produção para sair um álbum como nós queríamos.
MDX – Demoraram um pouco a descobrir a sonoridade que queriam…
SD– Não foi bem demorar a escolhe-la, demorou foi um pouco a aparecer. Não foi difícil porque foi normal, nada forçado. As pessoas que já ouviram o disco dizem que temos lá muitas coisas diferentes. Se calhar isso acontece porque como demorámos tanto tempo e havia músicas que já tinham sido feitas, tivemos várias fases, tanto pessoal como musicalmente e acabam por se notar essas fases todas no disco e, talvez, por isso é que optamos também por fazer um álbum conceptual que seja visto como um todo e não como músicas individuais, também para se notar essa evolução.
MDX – Há uma diferença a nível de limpeza e polidez entre o EP e o álbum. Sinto o EP mais agressivo e o álbum mais polido… Foi propositada esta mudança?
SD – Não foi propositado, acho que tem a ver com um há uns anos sermos mais novos e termos aquela angústia, aquela cena normal, inconsciente. Se calhar também foi das coisas que ouvíamos na altura, houve uma fase em que ouvíamos outras coisas e isso também influencia.
MDX – Por falar no que ouviam e relacionando com a capa do álbum, até que ponto é que vocês acham que aquilo que ouvimos na infância/adolescência nos define enquanto pessoa?
SD – Na infância começas a ouvir um certo tipo de som, depois acabas por seguir um caminho e conhecer pessoas e segues esse caminho e é isso que te define, o que te leva a essas pessoas é a música. Mas tens coisas que sempre te vão levar lá atrás e tu percebes que, se calhar, se não houvesse isso na altura não estavas onde estás hoje. Nós ainda hoje falámos disso na carrinha: estávamos a falar das bandas favoritas e acho que todos concordamos que as bandas favoritas de cada um já não mudam há uns anos valentes e mesmo que eu agora chegue a casa e ouça outras coisas, as raízes estão lá sempre.
MDX – E quais são essas raízes?
SD – Rock’n’roll, punk, os clássicos. A ideia não é trazermos aquilo de volta, embora às vezes, sem querer, isso aconteça. É impossível fecharmos os olhos aquilo que gostamos, mas não tentamos imitar. Acho que aquilo que ouves na infância finca intrínseco em ti e, sem dares por ela, as coisas vão vindo à tona mais à frente.
MDX – Quem é o Tony Blue?
SD – O Tony Blue não existe no mundo real, fomos nós que o criámos embora ele tenha vida própria. Nós apenas começámos a mostrar a vida dele às pessoas.
MDX – É um alter-ego vosso?
SD – Não. É só uma história, uma personagem fictícia que faz parte duma história que se chama Good Boys. Basicamente é um rapaz normal, com os problemas e questões normais mas que, talvez, pense um pouco mais fora da caixa que as pessoas normais. De resto, qualquer pessoa que ouça a música e veja as letras numa parte ou outra vai-se identificar. Não fez nada de especial, viveu, morreu, teve as suas questões…
Como estivemos muito tempo a fazer este álbum e passamos por muitas fases e houve músicas que já foram mais ou menos pensadas antes e falavam sobre uma determinada coisa que agora, no fim de gravarmos o álbum, olhamos para trás e não nos víamos a fazer. Notámos uma evolução e achámos que era muito mais coerente se trouxéssemos essa evolução para um personagem. Acho que a experiência assim é muito mais rica. Nós tínhamos uma música ou duas que tinham uma linha de pensamento e depois aproveitámos tudo e fizemos tudo nessa linha, é a vida dele.
MDX – Consideram-se bons rapazes? Ou “bons rapazes” é uma crítica aqueles que se consideram bons rapazes?
SD – Tentámos deixar isso de modo um pouco subjectivo. O Tony reflectia muito sobre o que era bom e o que era mau, como qualquer um de nós. Mas no fundo o bom e o mau é relativo. Para nós é uma coisa mas para outros pode ser outra e é por isso que escolhemos este nome para o disco. No final, a única conclusão que ele tira mesmo é a última frase do disco onde ele morre e tem a noção que viu muita coisa, pessoas boas más, feias, bonitas, ricas, mas no fundo todos acabam de maneira igual e é a única certeza que ele tira da vida, e nós também.
Para mim, se calhar, ele é realmente um bom rapaz, embora a sociedade pense que não devido a todos os estigmas existentes. Mas tentámos, acima de tudo, deixar isso em aberto.
MDX – Relativamente à crítica bastante positiva do álbum e à vossa agenda preenchida, estavam à espera de algo assim?
SD – Pessoalmente gostamos e o resto é conversa. Não o lançámos à espera que fosse a melhor coisa do mundo, acho que temos é de agradecer às pessoas que gostam da música e que nos apoiam e à malta que organiza os eventos e que nos quer lá. Não temos que ter muitas expectativas, só agradecer.
MDX – Vão tocar ao Tremor dentro de uns dias… O que acham desta ida ao Açores e do festival em si?
SD – Nunca fomos aos Açores, o festival é porreiro, tem bons nomes e vamos numa de descobrir. Vai acontecer num local onde as pessoas não estão habituadas a que aconteça muita coisa então há-de ser um bocado curioso ver as reacções das pessoas aos nomes que lá vão estar e a todo o evento.
Apesar de questão sobre o bom e o mau ficar sempre no ar à mercê de cada um, é garantido que estes rapazes são bons no que fazem e que, certamente, irão deixar os açorianos maravilhados no próximo Sábado, dia 8 de Abril, no Festival Tremor, em Ponta Delgada.
Uma vez mais, o nosso agradecimento especial ao Sabotage Rock Club por fazer com que estes momentos aconteçam.
Entrevista – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa