A segunda noite de Lisbon Psych Fest, como já começa a ser habitual, traz com ela uma fasquia mais elevada e um sentido de orientação que nos desorienta ao mesmo tempo que nos transfigura as emoções.
A abrir este segundo dia, os portugueses Qer Dier e a sua sonoridade suave e distorcida de quem tem um mundo para desbravar. A voz arrasta-se com a melodia e torna-se, por vezes, desconfortável. Foram três as faixas apresentadas, longas no caminho e grandes na intensidade, mas com um sabor de incompletude espalhado pelo corpo.
+ fotos na galeria Lisbon Psych Fest’17 Dia 8 Abril Qer Dier
Posso escrever muitas palavras acerca de Acid Acid e até posso ser, ou tentar ser, o mais detalhada e expressiva de sempre, mas creio que nunca serei capaz de descrever o que sinto nestes concertos. Desta vez, Tiago Castro fez-se acompanhar de João Paulo Daniel para, com ele, tornar o espaço físico em nada mais que universo. Começa calmamente com a intro habitual distorcida, serena no seu disfarce, acompanhada dos acordes lentos da guitarra para depois serem introduzidos o sons xamânicos dos índios e, automaticamente, passarmos a fazer parte de histórias inquietantes de quem saboreia sempre o néctar da vida até à última gota. As teclas, densas e pesadas, têm a capacidade de interferir com a mais pequena molécula que carregamos e a matéria deixa de existir para dar lugar ao espaço na sua mais plena imaterialidade e inatingibilidade. Coisas que conseguimos tocar e alcançar à medida que flutuamos e nos perdemos do mundo.
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Costuma-se dizer que à terceira é de vez. Embora creia que não tenha sido de vez mas, a verdade, é que os The Japanese Girl começam a escorregar melhor pelo ouvido. Com a introdução de um novo elemento na percussão e voz e, talvez, com isso ganhem uma nova cor na roupa habitual. Com eles, conseguimos cavalgar até ao faroeste e parar em salões com portas rotativas. Rock’n’roll, garage e algum psych encheram os ouvidos e a mente por minutos.
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A meio da noite deste segundo dia deparámo-nos com algo estranho. Tanto tinha de enérgico, mágico e sensorial como de assustador. O duo Throw Down Bones tem a drive e a atitude certas. Têm, também, uma excelente performance e atitude em palco. Mas em vez de serem dois a criar música, é só um e o baixista não mostra grandes atributos com o baixo ou a bateria. Não fosse o computador, a guitarra, a voz e as distorções, seguramente que não haveria tantos sorrisos espalhados. Trata-se de uma sonoridade epilética e chamativa com uma textura capaz de envolver mentes, no entanto, a saciedade fica aquém para os mais atentos.
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Os ingleses Dead Rabbits eram os penúltimos a subir ao palco e traziam com eles a melodia do deserto e a sensualidade de umas cordas distorcidas e apaixonadas pelo sol. Ao fechar os olhos, sentíamo-nos a surfar pelos ritmos ondulados da califórnia rodeados de melodias bonitas e magnetizantes. Podíamos, também, sentir o cabelo a esvoaçar e a maresia a bater ao de leve no rosto. Apesar da intensidade ter pouca expressividade, a música que tocavam tinha força suficiente para nos abanar e fazer sorrir do início ao fim do concerto.
+ fotos na galeria Lisbon Psych Fest’17 Dia 8 Abril Dead Rabbits
Para terminar, o breu profundo. O trio K-X-P entraria em palco às escuras e assim permaneceria até voltar a desaparecer. A nós, deixaram-nos sem luz, sem chão e sem pingo de lucidez. Garantidamente que nos trouxeram o melhor concerto da noite e, com ele, explosões mentais de saciedade e alvoroço interior. Com sintetizadores ensurdecedores e duas baterias tocadas com a habilidade de quem sabe, envolveram-nos em loops onde caminhámos numa espécie de eterno retorno, sendo a casa de chegada e de partida o prazer. O crescendo da progressão e a intensidade das baterias era de tal maneira viciante que absorvemos cada nota musical como se de uma cura se tratasse ficando com a sensação incompleta de vazio quando bateram as 3h da manhã.
Esta segunda noite de festival contou, também, com o Live Act de Mad Alchemy que tanto nos hipnotizou durante as duas noites. Mais uma excelente edição de um pequeno grande festival que esperamos que continue o seu caminho em ascensão.
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Lisbon Psych Fest’17, dia 1 – Passeios mentais a rasgar o pôr-do-sol
+ Lisbon Psych Fest’17 Dia 7 Abril Ambiente
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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Lisbon Psych Fest’17
Promotor – Killer Mathilda