Estávamos numa quinta-feira quente de Abril, dia 20, e o Sabotage Rock Club preparava-se para nos proporcionar mais uma das suas melhores noites. A sala, esgotada e tranquila, ansiava receber a elegante e profunda Emma Ruth Rundle.
Conseguimos separar a intensidade da solidão? Não falo da solidão de estarmos ou não rodeados de pessoas. Falo, sim, daquela que vem de dentro, por escolha ou aceitação, e que nos faz viver, sentir e descobrir tudo da forma mais intensa possível. Não, não a conseguimos separar! Para além desta solidão demarcada, havia também a física e isso fez com que o degustar do momento vivido se tornasse ainda mais íntimo e especial, como aquele ser frágil e delicado, e ao mesmo tempo tão forte, que nos aparecia defronte.
O que aconteceu naquela cerca de 1h foi um partilhar de uma alma sensível, emotiva, triste e bonita. Foi a comunhão de todas as almas existentes que, de repente, deram as mãos e saborearam cada acorde, cada palavra, cada sussurro como o bem mais precioso que nos alimenta. Cada momento estava em consonância com a alma e a lírica que Emma cantava conseguia penetrar em cada poro do nosso corpo como algo indescritivelmente magnético e profundo.
Já depois de estarmos totalmente rendidos e embebidos na sua plenitude, afirma em tom tímido que não sabe falar português e que era uma honra estar a partilhar aquele momento connosco. Afirma, igualmente, que está emocionada e nem precisava de o fazer. Como ela, estava o resto da sala! Toca-nos uma canção velha e secreta muito triste, como afirma, em homenagem à sua avó e, de imediato, obriga-nos a cerrar os olhos, meio húmidos e a tocar delicada e sensivelmente na nossa própria pele com a ponta dos dedos. Minutos extremamente emotivos vinham, de seguida, com a “Shadows Of My Name” que gerou arrepios e pelos em pé. Entre outras, ouvimos, ainda, “Marked For Death”, “Heaven” e “Hand Of God” do úlitimo álbum – Marked For The Death. O folk americano ganhou a sensibilidade e a sensualidade feminina e apoderou-se dos nossos corações nesta noite.
Porque o triste é belo e porque a beleza traz súbitos e sublimes ataques de ansiedade que nos fazem subir o coração à boca e querer gritar sem voz. Porque a beleza que Emma traz na solidão que partilha com as suas guitarras é transportada para a forma intensa e sensível como toca. Porque nos faz sobrevoar uma serenidade tão ofegante que nos transforma em seres minúsculos de olhos repletos de água.
Porque a vida sente-se de inúmeras formas e porque nós a vivemos em tonalidades de intensidade diferentes. Que esta forma de sentir tudo e mastigar a beleza triste como se de um doce se tratasse nunca desapareça e possamos sempre ver na melancolia um arco iris de sentimentos.
Volta sempre, querida Emma, pois seremos sempre o teu chão!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Organização – Amplificasom | Sabotage