A escolha de bandas que continuam a passar no 4º Aniversário do Sabotage Club (Cais do Sodré) foi de excelência. No segundo dia, a diversidade de registo foi ponto de honra e a prestação dos músicos alvo de elogios. A zona Centro foi bem representada por duas bandas solidamente reconhecidas, Cave Story e Memória de Peixe. Da capital, uma das bandas revelação de 2016 com o primeiro álbum “Mirror Lane”, o heterónimo de Alexandre Rendeiro, Alek Rein.
Sala cheia de verdadeiros conhecedores das bandas, que ao juntar ao acompanhamento das letras, felicitaram os músicos oferecendo golos de cerveja. Esta cumplicidade entre os músicos e o público é já uma imagem de marca deste espaço, sendo a proximidade uma vantagem.
Passava pouco das 22h30m quando a primeira banda da noite entrou em palco. Os Cave Story que desde 2013 “inventam pérolas de Rock desalinhadas” (Mário Lopes, in Público) das Caldas da Rainha para o mundo, exorcizaram as cordas eléctricas durante 60 minutos. Num alinhamento que percorreu boa parte da discografia editada, com especial destaque para o mais recente álbum (Out-2016) “West”, agora também em vinil. Saída apoteótica nos ritmos punk-rock, a fazer recordar uma bretanha de volta “ao outro lado do rio”. Gonçalo Formiga (voz e guitarra), Pedro Zina (baixo) e Ricardo Mendes (bateria).
Sem tempo para encore, uma rápida passagem de testemunho que se traduziu na mudança de instrumentos. O espaço ficou de repente com uma maior massa humana, sedenta de se instalar na fila da frente e receber Alek Rein. A bateria arrancou em ritmo crescente, orquestrando a nostalgia do baixo e os acordes dos anos 1970 da guitarra de Alexandre. Um revivalismo futurista, deambulante nas passagens trabalhadas do baixo e na sofreguidão assertiva dos fios soltos da guitarra. Um trio de complemento perfeito, capaz de dissertar poesia nas notas e projectar a pauta na voz. Nos 8 temas da noite, 3 deles novos, ainda em incubação para o próximo trabalho. Esta actuação foi uma vez mais a constatação da solidez de Alek Rein, na sua autenticidade rítmica e poética. Alexandre Rendeiro (voz e guitarra), Alex Fernandes (baixo) e Luís Barros (bateria).
A terceira passagem da noite, esta um pouco mais demorada pela complexidade nas ligações dos pequenos elementos electrónicos da banda. Uma guitarra e uma bateria que orientam a multiplicidade de ritmos saídos daqueles aparelhómetros. A engenharia na montagem foi igual à da actuação! Miguel Nicolau (guitarra) e Marco Franco (bateria) excederam o limiar dos níveis de ansiedade, deixando o público (falo por mim) colado aos movimentos rápidos de sincronização de braços e de pés. Um concerto de Memória de Peixe tem que ser assistido na primeira fila, de forma a acompanhar a velocidade estonteante em que os pés do Miguel se movem sem nunca deslizar um único acorde. Com dois trabalhos editados, álbum homónimo (2012) e “Himiko Cloud” (2016), os Memória de Peixe quiseram “matar o loop” neste percurso de 4 anos. Mas apesar de ritmos mais orgânicos, ele continua a encaixar na perfeição em cada tema. Uma memória que acelera o ritmo cardíaco, e que perdura muito mais que 3 segundos.
Para finalizar uma noite de grandes músicos, só mesmo com grandes DJs. Tivemos a sorte de ouvir a escolha de Mário Lopes, António Manuel e Nuno Rabino.
Parabéns ao Sabotage Rock n’ Roll Club e a toda a excelente equipa, por nos ter dado 4 anos inesquecíveis e óbvio, contamos festejar convosco muitos mais. Obrigada!
Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa