“There are twenty years to go, the best of all i hope. Enjoy the ride, the medicine show. And thems the breaks, for we designer fakes, we need to concentrate on more than meets the eye.”
Poderia usar apenas este excerto para descrever o que senti nesta noite. Mas cheguei à conclusão de que só isto, apesar de dizer tudo, não é suficiente.
Falo da noite do dia 2 de Maio em que Lisboa, mais propriamente o Coliseu, recebeu os Placebo para, em conjunto, celebrarmos os 20 anos de lançamento do seu álbum de estreia, Placebo. Uma noite onde, de mãos dadas, caminhámos até à adolescência e lá quisemos ficar com o bom e o mau, as explosões e as revoltas, os amores e os desamores, sempre com a melhor banda sonora a acompanhar e a lágrima.
Para abrir o apetite, Digital 21+Stefan Olsdal, naquilo que foi uma grande surpresa. Em palco, três violinos e um violoncelo, teclas, sintetizadores, baixo, bateria e duas vozes. A combinação resultante desta conjugação poderá pensar-se estranha, mas a verdade é que a densidade e construção sonoras conseguiram por o Coliseu aos gritos e a aplaudir fortemente a banda. Ninguém conseguia não dançar!
As estrelas e aniversariantes da noite estavam para vir. A verdade é que ninguém esperava que o conceito de festa de 20 anos fosse levado tão a sério nesta noite e que os Placebo partilhassem connosco uma noite tão especial e intensa como a que se viveu.
“Every Me And Every You”, um dos hits mais badalados e marcantes dos Placebo começava a tocar mas o palco continuava vazio. A intro desta noite seria apenas reproduzida e não tocada e serviu para nos deixar, automaticamente, de coração aconchegado.
Tudo nesta noite foi intenso e marcante! O alinhamento, a partilha, a simpatia, a comunicação com o público, o carinho, o som e a garra daqueles rapazes em palco. Sentia-se o sabor da saudade e da nostalgia no ar, tanto da parte deles como da nossa e, por diversas vezes, vi rostos molhados na plateia, sorrisos satisfatórios e senti um arrepio quente de quem gostava que o tempo parasse ali. Ali ou há 15 anos atrás. As emoções eram difíceis de esconder e a brutalidade que se apresentava diante de nós contribuía, em muito, para nos embebermos naquelas 2 horas e pouco de concerto.
“Pure Morning” dava o mote de partida do regresso dos Placebo a Lisboa. A partir daí uma ânsia nos percorreu o corpo até ao final do concerto. Muito poucas foram as músicas deixadas para trás e, as que foram, talvez não tenham feito assim tanta falta. “Loud Like Love”, “Special Needs”, “Too Many Friends”, “Space Monkey”, “Protect Me From What I Want”, “36 Degrees” e “Lady Of The Flowers” compuseram a primeira parte do espectáculo, aquela onde Brian afirma que foram mais melancólicos e tristes e que tudo estava a ser demasiado intenso para ele afirmando, ainda, que a partir dai vinha a festa a sério e como que com um rasgo de loucura dão início aquilo que parecia uma explosão que iria fazer eclodir os nossos corações tal era a tamanha brutalidade de energia. “For What Is Worth”, “Slave To The Wage”, “Special K”, “Song To Say Goodbye” e “The Bitter End” serviram como uma injecção de adrenalina que ninguém quis deixar de saborear no seu expoente máximo. Não posso deixar de realçar dois dos momentos mais emotivos da noite com “Twenty Years” e “Without You I’m Nothing” ainda na parte da melancolia. A primeira por ser a minha música preferida e, em fracção de segundos, me deixar com os pelos em pé e a cara húmida e por fazer todo o sentido neste concerto e, a segunda, pela simbologia com imagens do mestre David Bowie a passarem, grande influência e amigo de Brian que, certamente, sentiu e sente demasiado a sua perda, tal como nós.
Após a “Bitter End” nada acabava por ai, ainda nos esperavam 2 encores e uma nuvem mágica de sensações e distorções atípicas a encher-nos o corpo de uma força incontrolavelmente estridente. No primeiro encore, ouvimos “Teenage Angst”, “Nacy Boy” (Stefan mostra orgulhoso a sua guitarra pintada com as cores da bandeira do Gay Pride) e “Infra-Red”.
O segundo regresso aos palcos traz-nos “Running Up That Hill (A Deal With God)” de Kate Bush e, uma vez mais, a emoção se apoderou de todos nós.
Foi uma noite em que o cansaço ficou de parte e a força dos Placebo venceu todos os males existentes. Aqui, fizemos passeios mentais por uma adolescência onde a música se estava a transformar e a introdução do post-punk e do glam rock se tornava cada mais demarcada. Comprovámos que a idade não passa pelos Placebo, que estão melhores que nunca e que, ainda têm mais de 20 anos para nos dar e preencher. Uma noite demasiado bonita que esgotou o Coliseu e, dificilmente, desaparecerá tão cedo da nossa memória emotiva.
Parabéns por estes 20 anos e por esta noite e um grande obrigado por tudo!
“and that´s the end and that´s the start of it; that´s the whole and that´s the part of it; that´s the high and that´s the heart of it; that´s the long and that´s the short of it; that´s the best and that´s the test in it; that´s the doubt, the doubt, the trust in it; that´s the sight and that´s the sound of it; that´s the gift and that´s the trick in it!!”
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything Is New