Tokyo Idols, filme-documentário de Kyoko Miyake, Reino Unido /Japão / Canadá
Dia 6 de Maio, 16h15m Cinema S. Jorge Sala 3
Solidão e conforto, gratidão, identificação. Poder, domínio, necessidade, utilidade. Estas são algumas palavras que descrevem os OTAKU, fãs japoneses das muito jovens Ídolos de Tóquio. São meninas, entre os 10 e os 16 anos que cantam, dançam, brincam, brilham e fazem brilhar os fãs que as veneram. Ser Ídolo não é só ter orelhinhas de gato e fatiotas coloridas com tutus espalhafatosos. É sacrificar o tempo de brincar, a ensaiar os passos certeiros em frente ao espelho, a afinar a voz infantil e, acima de tudo, o agradar dos fãs que são financeiramente que as sustenta.
A competição AKB148 é o maior concurso de ídolos do Japão, onde os votos dos fãs asseguram que as 80 primeiras estarão sob as luzes do estrelato nos 12 anos seguintes. Pelo menos 10.000 pré-adolescentes e adolescentes, se autointitulam ídolos no Japão. Promoção de Akihabana, o bairro mais nerd do mundo, onde os artigos e todo o merchandising dos “Anime” promovem as Ídolos. Meninas-bonecas, de cores garridas, ganchinhos brilhantes nos cabelos negros escorridos, evidenciando o rosto inocente e a pureza dos uniformes escolares. A câmara da realizadora Kyoko Miyake acompanha a vida de algumas destas meninas e tenta perceber o que está por detrás deste fenómeno. Rio, uma frágil adolescente que saiu da sua pequena cidade e foi para Tóquio atrás do sonho de ser ídolo. Trabalhou num café, e muitas vezes telefonava à sua mãe a dizer que tinha perdido a última camioneta para casa. Pernoitava encostada à mochila, nas cadeiras dos cibercafés abertos 24 horas. As luzes de Tóquio ofuscaram-lhe os sonhos e exigiram-lhe os sacrifícios de ser mais e melhor ídolo.
Um dos fãs de Rio, um homem de 43 anos solitário e desempregado (por opção), encontra um novo sentido na sua “vida fácil e medíocre (…) completamente desprovida de excitação. Ser “otaku” não é uma moda, é uma religião.”, confessa perante a câmara. Este homem não se limita a ir aos concertos e comprar os CD’s. Espera pacientemente na fila dos “Otaku” pelo momento dos 60 segundos do “aperto de mão”, gasta 2.000 dólares por mês, escreve-lhe cartas e espera ansioso pelas simples respostas que lhes afaga o coração. Os universitários não têm namoradas porque “dá muito trabalho” e optam pela partilha desta legião de fãs, “Londres teve os Sex Pistols, Tóquio tem os ídolos!”, dizem orgulhosos.
As luzes coloridas que cada “otaku” tem na mão, adornam as coreografias ensaiadas durante os concertos. A vitalidade transparece no suor das t-shirts de cor forte, e a emoção nas lágrimas que genuinamente deixam cair. Ao longo do documentário, vão surgindo análises críticas sobre o comportamento destes fãs e sobre o fenómeno das ídolos, uma socióloga e um jornalista. Segundo eles, estas manifestações são formas de “proteger as fantasias masculinas e de dar conforto a estes homens”. Estes identificam-se com estas meninas, porque os tornam por um lado libertadores, felizes e inocente. E por outro, exercem um domínio e um poder sobre elas que são muito mais novas (…) é uma libertação social.”, justificam.
Rio fez uma digressão pelo país de bicicleta estando sempre em “directo” com os fãs. As pessoas esperavam-na nos locais onde passava, e demonstravam admiração e afecto pelo seu trabalho. Muitas percorriam centenas de km para falarem 5 minutos e dar-lhe um aperto de mão, ou para assistirem a uma breve actuação. Apesar de ter sido importante para a sua promoção, não foi suficiente para atingir o primeiro lugar na classificação nacional. Rio tinha nesta altura quase 17 anos, estava na fase descendente da sua carreira. Na verdade, meninas de 10 anos já estavam com boas classificações no ranking de AKB148. A frustração provoca-lhe tristeza e dor, e por momentos vimos um rosto de uma adolescente fragilizada pela exaustão que chora diante a objectiva.
Os anos passaram e o “otaku” de Rio mandou fazer o bolo do seu 21º aniversário, que iria ser comemorado durante um concerto numa das principais salas de espetáculo de Tóquio. Desta vez Rio tocou com uma banda e com uma roupa muito diferente daquela que lhe vimos anteriormente. Acordes rockeiros da guitarra com um refrão digno de uma verdadeira banda de pop-rock. O que na realidade se manteve foi a atitude dos “otakus”, que no final do concerto choravam a despedida da inocência de Rio.
Tokyo Idols, é um filme-documentário sobre a necessidade de cada um de nós se sentir ligado com algo que seja real, de carne e osso, e que nos transmita uma felicidade inocente. É sobre a solidão e a partilha. É sobre a busca incessante do sentido da vida.
Texto – Carla Sancho
Promotor – IndieLisboa 2017