Na semana passada, a Música em DX, sedenta de saudades pelo arranque de mais uma edição do NOS Primavera Sound, elaborou um artigo de opinião sobre onde falou, de um modo geral, sobre aquilo que considera que faz do festival do Parque da Cidade algo de tão especial, embora confesse que tenha faltado a verdadeira essência que faz um festival de (prima)Verão: a música. Contudo, e porque vale a pena relembrar, despedimo-nos com um “a Música em DX entrará mais em detalhe sobre a ilustre oferta que o NOS Primavera Sound irá oferecer para este ano, assim que a saudade atacar novamente o que, só por isso, confirma desde já que será brevemente”. E pronto, cá estamos nós novamente.
Já é de conhecimento geral que o cartaz do NOS Primavera Sound se destaca pela sua diversidade de artistas e géneros musicais; é raro o festivaleiro que não se identifique com o estilo de, pelo menos, uma banda do cartaz. Além disso, a escolha do evento do Porto em apostar em bandas relativamente desconhecidas do ‘grande público’ permite a que muitos que vão ao festival ‘às escuras’ descubram e se apaixonam por novas bandas. Todavia, esta edição do NOS Primavera Sound arrisca-se a ser um dos melhores cartazes dos últimos tempos, trazendo alguns dos nomes mais sonantes da atualidade – basta olhar para os cabeças de cartaz. Num ano em que a principal atração do evento é, sem margem de dúvidas, Bon Iver, Justice e Aphex Twin sustentam o sonante tripleto de cabeças de cartaz que passará este ano pelo Parque de Cidade.
Para além dos já referidos headliners, há muito mais a ver no NOS Primavera Sound deste ano; basta ler os nomes do cartaz, desde os mais destacados até aqueles que estão em letras mais pequenas. Entrando em maior detalhe e dissecando-o um pouco, este é bem capaz de ser o ano em que a variabilidade de artistas no cartaz se encontra no seu auge. Apesar de os três ‘maiores’ nomes do cartaz se destacarem pelos diferentes métodos como abordam a eletrónica, não é só de música gerada através de teclados, sintetizadores e aparelhos eletrónicos – embora Nicolas Jaar e Metronomy impulsionam a variedade dentro do estilo – há muito mais para ouvir, com este ano a receber um grande destaque para um dos estilos mais menosprezados nos festivais portugueses: o hip-hop. Mesmo que a tendência tenha estado a diminuir de ano para ano, foi o festival nortenho o pioneiro neste aspeto – basta voltas atrás no tempo para encontrar nomes como Kendrick Lamar ou The Weeknd – o que levou a que muitos sonhassem com a possibilidade de se ter Frank Ocean no Porto, mas como a diferença entre o orçamento entre o ‘nosso’ Primavera e o de Barcelona é ainda significativa tal não se concretizou. Contudo, os amantes do género ficarão bem servidos com quatro nomes de peso que vão fazer a dobradinha pelo Porto: os explosivos Run The Jewels que levaram o palco secundário do festival à loucura na sua última passagem por cá, o mais recente vencedor do Mercury Prize Award (prémio que celebra o melhor disco britânico do ano) Skepta, o irreverente Flying Lotus que funde psicadélico com o hip-hop e Death Grips, os monstros de palco que destroem tudo por onde passam com o seu hip-hop experimental e caótico.
Quem já se perdeu de amores pelo NOS Primavera Sound, sabe como a paisagem esverdeada do Parque da Cidade tem tanto de relaxante como de belo. De forma a aproveitar, e até mesmo viver, o recinto que nos rodeia, há músicas que impulsionam a simbiose total entre o festivaleiro e o festival, de tão bonitas que são. Neste ano, esse refresco de alma é assegurado por nomes como Angel Olsen, Whitney ou Hamilton Leithauser, artistas completamente distintos a nível de estilo musical, mas que conseguem arrebatar qualquer um com os seus vozeirões. Se estes artistas são ideais para um final de tarde, há sempre aquelas cuja adrenalina e energia são tão contagiantes que iluminam qualquer noite; para quem quer acelerar na autoestrada da ‘rockalhada’, a variedade, este ano, no NOS Primavera Sound é vasta, com nomes como Pond, Japandroids, King Gizzard & The Lizard Wizard, Against Me! ou os já ‘residentes’ Shellac a garantirem que ninguém vai ficar parado. Não é tão bom quando se consegue agradar a todos?
Outra das grandes benesses que o NOS Primavera Sound oferece ao seu fiel público, é a possibilidade de assistir a artistas tão únicos e incomparáveis, quer seja pelo seu timbre vocal, estilo de música ou até vestuário; neste campo, Swans, Sleaford Mods, Elza Soares e Sampha são apenas algumas das ofertas que temos este ano, abrangendo tanto o estatuto de artistas consagrados, revelações ou de novas promessas. Como bom festival nacional que é, as apostas portuguesas não poderiam ficar esquecidas, contando com dois grandes nomes no atual panorama musical português: Samuel Úria e First Breath After Coma. Enquanto que o primeiro irá cantar na ilustre língua de Camões e demonstrar como a música consegue alcançar qualquer povo independentemente da nacionalidade (o NOS Primavera Sound contém uma grande afluência de público estrangeiro), os segundos irão demonstrar o porquê de estarem a tornar-se cada vez mais sonantes para além fronteiras, tal não tem sido a sua afluência de concertos pela Europa fora.
Miguel, The Black Angels, The Growlers, Cymbals Eat Guitars … Há tantas bandas a tocarem pelo NOS Primavera Sound que não falámos sobre, mas que poderíamos ficar horas a fio a falar sobre. Com tanto artista no seu cartaz, o difícil será mesmo delinear um roteiro dos artistas a ver quando os palcos e os horários forem anunciados. Quando essa altura chegar, pode ser que a Música em DX volte a ter saudades do NOS Primavera Sound e vos ajude com uma ou outra sugestão de quais os artistas a não perder. Quem sabe…
O Música em DX marcou também presença nas edições de 2015 e 2016 do NOS Primavera Sound. Para recordar os grandes momentos das duas edições anteriores basta clicar em NOS Primavera Sound 2015 e NOS Primavera Sound 2016. Para seguir a edição deste ano, está tudo em NOS Primavera Sound 2017.
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Texto – Nuno Fernandes
Fotografia (Capa) – Luis Sousa