Todos gostamos de domingos amorfos ou, pelo menos, daqueles em que a obrigação não nos obriga a nada e nos deixa, simplesmente, estar. Também gostamos de sentir, de viver e de reviver! Por vezes é bom deixar o aconchego do lar para deixarmos que a alma se aconchegue a si própria com outro tipo de conforto.
Aconteceu no passado dia 14 de Maio, Domingo, o Sabotage fazer parte da tour de Drab Majesty e isso proporcionou-nos um bom arranque de semana.
A abrir a noite, os lisboetas Wildnorthe e o seu véu clérigo, medieval e negro. O duo traz uma melodia que tanto tem de negra como de serena, capaz de nos levar a viajar pela serenidade daqueles cemitérios cheios de verde, figurinos e animais. As vozes são ambas opacas e fortes e conseguem mesclar-se por entre o ritmo dos sintetizadores e dos tambores. Do set fizeram parte “Death Is Precious”, “Goats Head” e “The Cold”, entre outras.
Suas majestades eram esperadas numa expectativa que arregalava os olhos sempre que sentia algum movimento no palco. Da América para o palco do Sabotage, a encenação de Drab Majesty tanto conseguia carregar o peso da melancolia bonita como beijar-nos a alma e abraçar-nos confortavelmente. Repentinamente os loucos anos 80 subiam à tona e todo aquele astral de sintetizadores e cobertores de euforia amarga vinham ao de cima. Muito The Cure se encontrou naquele instrumental, muita paixão se revelou escondida e a descoberto dos mais atentos. Por instantes, cerrávamos os olhos e eramos levados pela música que, de sorriso nos lábios, nos fazia transbordar ritmo e ansiar que o tempo nos deixasse ali, naqueles anos 80, naquela dualidade intensa de quem quer viver tudo e ao mesmo tempo sabe que vive no risco. A guitarra tocada, pouco complexa e, ao mesmo tempo, essencial na sua magia caminha a passos lentos como se nos quisesse conquistar ao sabor da nossa vontade. A voz! As vozes! Com o charme gótico e a espessura de quem devasta almas não nos conseguia assustar, mas sim intimidar! Dessa timidez emergia a vontade de querer sentir sempre mais e com mais intensidade. Porque o desconhecido pode assustar, mas não tem de nos fazer recuar!
Com álbum lançado neste ano – The Demonstration – apresentaram “Cold Souls”, “Too Soon To Tell”, “Not Just A Name” e “36 By Design”, ficando as outras três faixas sob o encanto do álbum de estreia, Careless.
A dark wave, o mistério do post punk e a negridão do gótico tornaram-nos parte de uma onda mágica de nostalgia e conforto que, apesar do pouco tempo que estiveram connosco, nos deixaram a companhia de um sorriso meigo até casa, mostrando que a preguiça pode ser muito bem derrotada.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa