Desde que surgiu pela primeira vez que o NOS Primavera Sound se destacou em relação aos outros festivais de grandes dimensões na medida em que sempre deu grande ênfase ao hip-hop ao longo de todas as edições do festival – nomes como The Weeknd ou Kendrick Lamar estrearam-se em Portugal pelo Parque da Cidade, longe do mediatismo que alcançaram com o passar dos anos. Ao contrário dos diferentes cartazes do Verão, sendo o Super Bock Super Rock a exceção com base nos últimos anos, o NOS Primavera Sound sempre soube o potencial que existia neste género e uma enorme legião de fãs sedenta por tal. Para este ano, o grande nome do hip-hop a marcar presença no cartaz foram os repetentes Run The Jewels, que no ano de 2015 foram uma das grandes surpresas do festival e dos concertos mais aplaudidos no mesmo.
“RTJ! RTJ! RTJ!”. Nem o concerto tinha começado e as siglas da dupla sensação do hip hop, Run The Jewels, eram entoadas em plenos pulmões por qualquer coisa como vinte sete mil pessoas, funcionando como um jeito de prenúncio que aquele seria o concerto mais aguardado da noite – bastava olhar à volta para a indumentária de muitos festivaleiros, utilizando t-shirts com o punho e pistola característicos de El-P e Killer Mike.
Talvez antecipando um concerto triunfal onde seriam coroados campeões do dia – confirmamos desde já que tal se sucedeu – a dupla entrou ao som de “We Are The Champions”, o icónico hino dos Queen. Num palco decorado com duas (enormes) mãos insufláveis a recriar um punho e uma pistola e com apenas uma mesa de misturas no centro, o recinto estava montado para que os dois titãs começassem a disparar em todas as direções com a sua música repleta de mensagens de intervenção, reflexão e ativismo. Apostando logo ao início com material do seu mais recente disco, Run The Jewels 3, “Talk To Me” e “Legend Has It” provam que os fãs mais acérrimos já têm a receita na ponta da língua, causando grande alvoroço nas filas mais dianteiras do palco NOS.
Quem viu Run The Jewels, no mesmo festival, em 2015, nota logo o crescimento que a dupla teve relativamente a um aumento exponencial de fãs, com muita da paisagem humana que decorava a colina principal do Parque da Cidade a ser boa entendedora das preces de El-P e Killer Mike. Ambos os rappers, não só mostram uma química inigualável entre si como um poder, aptidão e mestria pelo dom da palavra, utilizando-as como uma arma, precisa e capaz de mostrar a verdade nua e crua que residente na nossa sociedade; talvez a famosa pistola presente no carismático logótipo da dupla represente o uso da palavra enquanto uma arma, quem sabe.
“RTJ! RTJ! RTJ!”. São estas entoações de apreço que o público do NOS Primavera Sound saúda os Run The Jewels sempre que brindam o público português com os seus elogios genuínos e francamente gratos: entre fotografias sucessivas ao público, palavras calorosas face às demonstrações de carinho mostradas pelo mesmo ou a confissão, por parte da dupla, de que gostariam de ser cidadãos do Porto, tornou desde sedo evidente a comunhão perfeita entre banda e público, impulsionando tanto Killer Mike como El-P a darem o seu melhor num concerto que, segundo as palavras do último, “não me importaria que durasse umas três horas!”. Nem ele, nem o público, julgamos nós.
Percorrendo os maiores êxitos dos seus três discos de originais, a noite estava a tomar proporções épicas e sem precedentes para um concerto de Run The Jewels, com muita culpa por parte a efusividade dos fãs mais na dianteira que pulavam e cantavam (rapavam?) com uma genica e energia inesgotável, desencadeando um serão de mosh com crowdsurfing à mistura em “Close Your Eyes (And Count To Fuck)”, o que levou a que o próprio Killer Mike chamasse à atenção do público para terem atenção aos “vossos aliados, não os deixem cair”, ao mesmo tempo que salientava a necessidade de existir respeito face às mulheres do público, relativamente a um ou outro encontrão mais violento.
Mesmo após a chamada de atenção, Killer Mike não conseguiu deixar de esconder que, ao deparar-se com um público tão efusivo e feliz como o do Parque da Cidade, deixava-o com esperança de que ainda existe alguma bondade no mundo, que pessoas tão distintas e desconhecidas umas das outras, acabavam por ser todas bondosas de igual forma. De forma a persuadir a que essas almas puras não fossem corrompidas pela maldade de determinados políticos – de frisar que Killer Mike é um fervoroso apoiante de Bernie Sanders – os Run The Jewels pediram ao público para que “mandassem à merda todos os políticos que nos roubam, que nos mentem e que nos enganam”, ou como eles cantam, “Lie, Cheat, Steal”.
“RTJ! RTJ! RTJ!”. Mesmo após o término do concerto, com “Down” a encerrar a noite antecedida de muitas palavras de apreço, o público estava sedento e faminto por mais contos dos seus “irmãos de armas”, do seu incentivo face às dificuldades do dia, das suas palavras de aconchego, rebeldia e até de identificação para com as situações por eles contadas. Não estando previsto, os Run The Jewels regressaram para um encore sentido ao som do seu primeiro êxito e que partilha o nome da dupla, com o muito competente DJ Trackstar a receber uma ovação merecida e a levar a casa ao rubro.
Os Run The Jewels não só repetiram a proeza do (aí) palco ATP de 2015, como conseguiram mesmo superá-la, oferecendo o concerto mais marcante, na opinião da Música em DX, do primeiro dia do NOS Primavera Sound. Com a promessa de que a dupla irá gravar um documentário pelo Porto, o desejo da mesma em tornarem-se cidadãos da Invicta tornou-se numa possibilidade cada vez mais plausível e, se isso implicar mais concertos de Run The Jewels por Portugal, por favor amigos, mudem-se para cá já hoje!
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Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Luis Sousa
Evento – NOS Primavera Sound’17
Promotor – Pic-Nic Produções