2017 Backstage Festivais NOS Alive Reportagens

A união faz a força dos Plastic People

Ou a união faz a vitória dos Plastic People. Qualquer uma das frases podia ser o título da entrevista que o Música em DX fez aos vencedores da edição deste ano do EDP Live Bands. A banda de Alcobaça, terra prolífera em bandas, mostrou garra em palco no passado dia 19 de Maio no LX Factory, e almejaram o ambicioso prémio de gravar um disco com selo da Sony, mas também atuar no NOS Alive e no MAD Cool Fest, em Madrid, já no próximo julho.

Com o NOS Alive já à porta, nada como conversar com o João Tiago, membro da banda para conhecer um pouco da banda, as suas ambições e como foi a experiência de participar neste concurso.

Música em DX (MDX) – Como é que surgiram os Plastic People?

João Tiago – Os Plastic People é um projecto que surge quando o André, que é o guitarrista, termina ou sai dos Black Leather, e entretanto se junta com o João, que é o vocalista, o João Gonçalo e começam a fazer os primeiros esboços das músicas. Estamos a falar em 2015, por aí. Entretanto, nessa altura, começam a surgir as primeiras ideias e quando eles falam comigo para as teclas com o João para o baixo e com o Filipe para integrar a bateria. Fizemos uma primeira apresentação em 2016, em Maio. Há um ano e pouco atrás, na altura ainda com outro nome. Tínhamos um outro nome, provisório. A partir daí comecámos a desenvolver as músicas, a criar novas canções. A trabalhar em junto. Aí sim, como banda. O primeiro concerto, em nome próprio, como Plastic People foi dado no natal de 2016, no dia 23, com uns temas já estruturados, com canções novas, e acabamos por dar o segundo concerto, ou vá, segunda apresentação, precisamente no EDP Live Bands. Estas canções criadas irão servir de base para o que virá no disco que vamos agora editar. Mas isto é um processo que é contínuo. Basicamente em todos os ensaios temos ideias novas, continuamos até ao dia de hoje a compor e a escrever novas canções e portanto tem sido tudo ao mesmo tempo. O crescimento da banda, a evolução, a nossa união enquanto banda, a construção de temas, tem sido uma coisa bastante rápida.

MDX – E já se conheciam há muito tempo?

João Tiago – Já nos conhecíamos. Nós já somos amigos desde pequenos. Até porque Alcobaça é uma cidade de 7000 habitantes no centro, portanto é daqueles sítios que se pode dizer que toda a gente se conhece.

MDX – Mas vocês, pelo que estou a entender, tinham projectos paralelos.

João Tiago – Nós tínhamos projectos paralelos, exactamente. E tínhamos vários projectos. O João tinha os Side Walkers, o André tinha os Black Leather, eu já tive os Loto, participei também com os Cavaliers of Fun e toco ainda com os Balla.

MDX – Alcobaça é uma cidade que acaba por ter grande projecção musical.

João Tiago – Nisso aí é uma cidade muito prolífera nisso. Se bem que nos últimos anos conheceu um hiato.

MDX – Pois, tiveste os The Gift.

João Tiago – Sim, os The Gift continuam na primeira divisão. Mas fora isso, a cidade teve um hiato em que em alguns anos não saia nada com pujança e com vontade e com crer.

MDX – Agora também tens os Stone Dead.

João Tiago – Pronto. Agora tens uma nova vaga. Desde os Side Walkers, e estamos a falar em 2010, que não havia um movimento de bandas. E é uma cidade que é muito rica em termos de música. Temos uma excelente academia de música, existem muitos músicos mas tínhamos perdido um pouco o movimento de bandas. E agora voltou um bocado. Os Stone Dead, como referiste, o nosso projecto, e portanto assistimos a uma nova dinâmica e um novo movimento de Alcobaça.

MDX – E quanto aos vossos gostos musicais, claro que foi isso que vos influenciou a juntarem-se.

João Tiago – Sim. Nós somos bastante ecléticos e gostamos de vários tipos de música, no entanto, aquilo que mais marca este projeto são as influências post-punk. New wave, rock alternativo… Todas aquelas influências de 77 e 78.

MDX – Só nos dois temas que pude ouvir ao vivo, notou-se isso.

João Tiago – Quanto assistes e vês aquela estética punk e aquela contra cultura e começas a associar já aquelas pequenas pitadas de electrónica. Quando juntas os sintetizadores, quando trabalhas repetições e inseres melodias. É isso que nós procuramos. É post punk.

MDX – Toda a componente visual também. Pelo menos o que vocês apresentaram na actuação. Em comparação às outras bandas, vocês tiveram mais atenção. Mais profissional, vá.

João Tiago – Sim, podes dizer profissional. Mas eu gosto de dizer genuíno. Porque estamos bem cientes das influências para este projecto. Estamos cientes do que queremos, do caminho que queremos trilhar com os Plastic People. E isso tem haver com a música, com a imagem, com as várias coisas. Com as composições, com as atitudes. O facto de nós também já não sermos propriamente adolescentes, também nos dá outra visão para lidar com determinadas coisas e temos um caminho muito mais definido. Já não andamos um pouco à nora. Sabemos o que queremos, sabemos a estética e sabemos do que é que gostamos e nos Plastic People está vincado. Post-punk. New Wave. Rock Alternativo. São as influências dos Jesus and The Mary Chain, indo um pouco mais atrás, aos Velvet Underground, com já aqueles toques de experimentalismo do John Cage e do Reed, mas associados dentro desta vertente de post-punk. Vais buscar coisas do David Bowie, da altura da Trilogia de Berlim, o Heroes, o Low, são álbuns de referência. O Iggy Pop, quando lança o Lust for a Life, são tudo referências que seguindo e que vais passando pelos Joy Division e chegando aos New Order, é isso que nós gostamos e que nos inspira neste momento.

MDX – É daí que surge o nome Plastic People?

João Tiago – Plastic People surge… nós tínhamos várias ideias. Surge um pouco com a ideia de nós não queremos ser plastic people. Não queremos ser pessoas de plástico. Queremos ser “the real deal”. Queremos ser genuínos. Como te estava a dizer, nós somos mais velhos, é um pouco a nossa irreverência, e aí está o toque punk da coisa. Quer dizer, nós queremos ser assim e não queremos saber do resto. E o nome Plastic People vem daí.

MDX – Uma das músicas do Frank Zappa é Plastic People. É nessa onda de crítica social.

João Tiago – É exactamente isso. Nós não queremos ser mais uns. Queremos fazer um caminho sólido, queremos deixar marca e sobretudo fazer musica boa, que nos deixe orgulhosos e que sinceramente saia cá de dentro.

MDX – E quem teve a ideia de participar no EDP Live Bands? Como foi essa aventura toda?

João Tiago- Olha, posso dizer que não foi consensual. No geral, a questão dos concursos de música são sempre questões ambíguas, a questão de nos porem em competição com outras bandas, o que é que define o que é música boa ou não, não é algo que seja muito linear. Então, não foi um processo consensual dentro da banda. Mas chegámos a um acordo que deveríamos tentar agarrar a oportunidade de acelerar este processo de gravar um disco. E acima de tudo foi o que nos levou a participar, foi o que nos levou a querer no EDP Live Bands. Se formos a ver o histórico, inscrevemos no Live Bands, não fizemos publicidade nenhuma. Não queríamos ir lá com votos do público nem mobilizar uma legião de amigos para ir votar. Porque achamos que não faz grande sentido. Achámos que se resultar, se as pessoas acreditarem como nós acreditamos na nossa musica, iríamos passar com os votos do júri. E assim aconteceu. Passamos à semifinal, ao lote dos 36. A seguir passamos à final. Pensamos: ok. As pessoas estão a chegar lá e o mais importante para nós é que as pessoas entendessem a mensagem que nós queríamos passar, mesmo que fosse com aquelas demos. Aquelas músicas que apresentámos são apenas demos, não foram gravadas em estúdio. Não são overproduced. São coisas genuínas, simples que ali estão e são muito nossas. E foi algo que nos alegrou quando soubemos que íamos à final e depois de estarmos na final e quando sai o nome Plastic People…

MDX – Como é que foi esse vosso dia? Na verdade para quem vos viu acaba por saber a muito pouco, como foram só duas músicas…

João Tiago – Aquilo foi um dia engraçado. Levamos o dia super tranquilos. Era o nosso segundo concerto com o nome Plastic People. E só nos preocupámos em tocar como tocávamos nos ensaios. Como te disse, desde o início, se as pessoas conseguissem perceber o que nós somos através das músicas, a coisa ia ser vencedora. Mesmo se não ganhássemos o concurso, pelo menos queríamos deixar marca. E depois correu-nos bem, com a garra que queríamos. Acabámos por ser recompensados da maneira que mais queríamos. Ganhar o concurso e a oportunidade de gravar o disco que era o objectivo desde o início.

MDX – Então ir ao NOS Alive é quase que um bónus.

João Tiago – Sim, sim. Sem qualquer conotação negativa, porque o NOS Alive é o maior festival português, sem dúvida. E ainda vamos a Madrid.

MDX – Já têm dia para o Alive?

João Tiago – Sim, vamos tocar dia 6 em Madrid e dia 8 no NOS Alive, no palco Heineken, por volta das 18h ou 17:50. Como é obvio, é uma excelente oportunidade. Eu já tive a oportunidade de pisar esse palco e é uma sensação óptima e é importante pois nos vai permitir apresentar ainda a mais gente o que é que aí vem. Vamos tocar musicas novas no Alive, e vamos começar a preparar toda esta base para irmos para estúdio calmamente.

MDX – Qual é a importância de ser gravado pela Sony? E, para acrescentar, vou recordar uma outra coisa que a responsável da Sony disse no dia da final. Que gravar um disco, qualquer um grava. O importante é a capacidade da banda se manter lá em cima e tudo mais. Mas também gravar com a Sony dá uma outra pujança.

João Tiago – O que conta também é a estrutura da Sony. É uma verdade o que tu dizes. Hoje qualquer pessoa grava disco. Quer dizer, a tecnologia está tão acessível que nós conseguimos gravar tudo o queremos em casa. Vamos misturar ou masterizar a um estúdio, mas sim. É possível qualquer pessoa gravar um disco. A vantagem da Sony: temos uma equipa com outra capacidade, que nos vai apoiar em alguns aspectos que teríamos muitas dificuldades. Questões de promoção, de estúdio, operacionais. A Sony é uma major que vai simplificar alguns processos e vai acelerar todo este caminho e estes passos que vamos dar e é essa a sua importância.

MDX – Vocês ganharam isto há um mês e uns dias. O que é que se alterou nestes últimos tempos?

João Tiago – Olha, para nós deu-nos ainda mais alento. Já estávamos motivados, já tínhamos alcançado o nosso objectivo. Esta questão de gravar o disco já estava bem materializada na nossa cabeça. Mas deu-nos mais motivação para fazer mais musica. Talvez por isso fizemos mais novos temas. E eu acho que foi essa a grande mudança. O sabermos que temos mais responsabilidade. O “temos de cumprir”. Temos este prémio e não queremos deitar fora. Mas deu-nos esta motivação extra. Mas também mais gente começou a falar de nós.

MDX – Já tiveram oportunidade de tocar depois?

João Tiago – Já. Tocámos este fim de semana num pequeno festival de rock perto de Alcobaça. Tocamos com os Fuzzil, que tem membros dos Stone Dead, e foi giro porque temos ensaiado muito mais. Temos estado a evoluir e é notório. Para quem nos viu no natal do ano passado, quem nos viu no concurso, quem nos viu este fim de semana e quem nos verá em Madrid e quem nos verá no NOS Alive, notará esta escalada.

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Entrevista – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Daniel Jesus (entrevista) | Joana Raimundo (capa)