Terceiro e derradeiro dia de Super Bock Super Rock. Os festivaleiros, com o passar dos ponteiros, mostram uma relação crescente com o recinto e com as suas ofertas. O sol, é importante dizê-lo, mais que um enorme aliado, revelou-se um agradável parceiro na totalidade dos concertos exteriores. Estão presentes sensivelmente o mesmo número de pessoas do dia anterior. As t-shirts de bandas voltaram e a idade média parece ter aumentado. Este facto obrigou a que nos questionássemos que SBSR é este que se mostra – a nível de alinhamento, público e qualidade – tão díspar? Um festival a boiar numa enorme crise de identidade, ou, pelo contrário, um evento ecléctico, produzido propositadamente para alcançar um amplo leque de pessoas e gostos? Resposta não temos. Poucos terão. Quem sabe o tempo se venha a debruçar sobre esta matéria .
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Resposta ofereceu Bruno Pernadas aqueles que duvidavam se o músico Português conseguiria replicar num festival aquilo que de exímio faz nos seus discos. Ainda que com o superior auxilio da sua banda e da dupla Francisca Cortesão, vocalista dos Minta & The Brook Trout, e Afonso Cabral, dos You Can’t Win, Charlie Brown – banda do panorama musical Português que mais trabalho dá a escrever. O tema Ahhhhh, proveniente do disco de estreia, foi dos melhores momentos da fase inicial do concerto. No entanto, como seria previsível, o Pernadas demorou-se mais no álbum “Crocodiles”, provavelmente por ser menos distante de uma pop que caía bem com aquela tarde soalheira. O Palco preenchido de pessoas, os vários instrumentos e as diferentes sonoridades – além da irrepreensível competência técnica – proporcionaram um dos bons momentos do dia. Galaxy foi a despedida de um universo que certamente muitos conheceram Pernadas naquele fim do dia. Nunca é tarde.
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Se “Música Autêntica” é umas das imagens que a organização pretende pregar ao festival, será certamente com bandas como os Stone Dead que o vão conseguir. Os rapazes de Alcobaça subiram a um palco LG mais visitado que o habitual, e isso, no entanto, não pareceu assustá-los. Ofereceram um concerto equilibrado dentro do seu bonito desequilíbrio, dos riff e das longas e assíduas distorções. A entrega dos quatro rapazes contagiou os inevitáveis e entusiasmados frequentadores das grades, o que, posteriormente, se estendeu à grande parte daquela audiência. Não haveria muitas formas de o debutante Good Boys ter melhor apresentação para quem não o conhecia. Os Stone Dead, com o seu Rock Sem Merdas, é uma das bandas a não perder de vista nos próximos tempos. Vão por nós.
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Das bandas mais aguardadas do festival, os Foster the People iam recebendo aqueles que saiam do gig ali ao lado. Num pavilhão atlântico a meio gás, os Californianos que suspenderam os trabalhos para o seu terceiro disco, tentavam que as suas letras tocassem os presentes: a interactividade ia crescendo proporcionalmente ao público que os assistia. Confessando que não têm visto muitas pessoas nos últimos meses, apenas paredes e instrumentos, vão usando temas como Coming of an Age ou Helena Beat para entusiasmar os seguidores, que reagem favoravelmente. Terminam a atuação ao som de Loyal Like Syd & Nancy, avanço do seu novo álbum Sacred Hearts Club. Num concerto que dificilmente terá enchido as medidas a alguém, aos criadores de Pumped up Kids há que dar mérito por não se terem permitido a momentos baixos. Se dizem que no meio está a virtude, os Foster the People foram uns virtuosos.
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O concerto mais aguardado do dia tinha um nome Deftones. A par de Red Hot Chili Peppers e Future, era um dos trunfos desta edição do Super Bock Super Rock e o genuíno motivo pelo qual a maioria dos presentes comprou bilhete. Apesar da quantidade de pessoas não se equiparar à do dia de abertura, o Meo Arena apresentava-se bastante composto. A banda entra de cabeça erguida em palco e, sem dizer água-vai, manda tudo pelo ar. Ainda nos recompúnhamos quando é arremessado My Own Summer, que nos atinge em cheio. Que o digam os jovens seguidores de Foster The People que permaneceram nas filas da frente, mas que face ao aquecimento de mosh que ali se fazia sentir foram retirados pelos seguranças. Se Diamond Eyes, o sexto tema do alinhamento, teve uma recepção calorosa, o gig começou a entrar em níveis de descontrolo quando Moreno – enquanto interpretava Knife Party – e desceu até à plateia. O crowdsurfing repetia-se, o mosh também. Copos de cerveja eram jogados ao ar, repetiam-se os circle pits. Todos queriam tocar em Chino. O ambiente fervilhava.
Se falarmos das virtudes do grupo Americano, as mais evidentes serão sempre a singularidade e versatilidade: pouquíssimas bandas conseguiram ombrear, nestes campos, com os Deftones. De facto, os seus temas são facilmente identificáveis, e o seu experimentalismo louvável. Be Quiet and Drive sendo um bom exemplo, foi um dos momentos de maior união entre a banda e o seu público. Daqui até ao encore foram dois arrebatadores instantes denominados de Rocket Skates e Rosemary. Os Californianos regressam com uma atitude que se situa nos antípodas do nome do tema que se seguiu: Bored. Os seguranças não são poupados a esforços por tantos corpos felizes, suportados em mãos alheias, é certo. Respondiam com arrogância e desproporcional força, mas ninguém queria saber: o que assistíamos parecia estar a ser demasiadamente impactante para alguém se preocupar demasiado com fait-divers.
O concerto prosseguiu em modo sprint. Ninguém tinha tempo para smal talks, para aquele selfie da praxe , nem sequer para o instastories. E este é o melhor elogia que se pode fazer a um concerto. Do álbum The Crow: City of Angels foi retirada a faixa Teething, que contribuiu para que nenhuma vivalma conseguisse abrandar aquele ritmo frenético que o concerto há muito tinha entrado. Quando se julgava que o quinteto tinha guardado vários trunfos para a parte final do espectáculo, ouvimos uma muito celebrada Engine No. 9, e presenciámos, surpresos, a uma debandada geral do palco. Ninguém queria acreditar que um cabeça de cartaz atuaria apenas uma hora, mas foi o que aconteceu. Quando as luzes do palco acenderam, muitos foram os apupos. Uns 60 minutos para uma banda com quase 30 anos de carreira pode não ser demasiado, foi, no entanto, a hora mais intensa e nostálgica dos últimos anos. Até breve, esperamos.
Seguiu-se Quentin Cook, conhecido nestas lides como Fatboy Slim, com a sua música electrónica. Enquanto bastantes eram aqueles que prolongaram a estadia no palco principal dançando ao ritmo do bass do Dj e dos seus moves invejáveis para os seus cinquenta anos, nós – ainda amuados com a duração do concerto anterior – só repetíamos mentalmente: “quem me dera estar em casa a ouvir Swans”. Foi o que fizemos, obrigado Super Bock Super Rock, para o ano há mais.
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Texto – Tiago Pinho
Fotografia – Luis Sousa | Mário Vasa (Deftones – World Academy | Super Bock Super Rock)
Evento – Super Bock Super Rock 2017
Promotor – Música no Coração