Depois de uma primeira semana repleta de excelentes concertos, o EDPCoolJazz voltou à carga para os últimos três dias do evento, alienando grandes artistas à beleza natural dos Jardins do Marquês de Pombal, em Oeiras. Como desta fórmula só poderia nascer um excelente resultado, a passada terça-feira voltou a ser um momento memorável neste festival que já conta com catorze anos de existência.
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Numa ventosa noite de terça-feira, o formato “dois concertos, uma noite” regressou ao EDPCoolJazz deste ano, juntando dois artistas com sonoridades e seguidores tão distintos, mas onde o amor nutrido pela música é praticamente idêntico: o talentoso Jake Bugg e o emblemático Jorge Palma. No dia do festival mais orientado para as famílias, o público revelou-se deveras heterogéneo, embora o juvenil estivesse representado em maior peso, ou não fosse o regresso do britânico ao nosso país um dos pontes de referência da edição deste ano do festival de Oeiras.
Com fãs a marcar lugar às portas do recinto desde as cinco da tarde, a expetativa era enorme face ao concerto de Jake Bugg, com uma enorme fila a aguardar ansiosamente pela abertura do portão que dava acesso às centenas de cadeiras em frente ao palco do evento, cadeiras essas que voaram – literalmente – por segundos quando o britânico sobe a palco: três fãs que envergavam t-shirts alusivas ao cantautor correram desalmadamente para a frente do palco e, como onde vai um português vão logo dois ou três, muitos foram aqueles que lhes seguiram os passos, quase atordoando os fotógrafos de serviço.
Enquanto a situação lá se iam acalmando – conformou-se, entre seguranças e público, que os fãs poderiam ficar sentados no fosso de cinco metros que separa o palco das primeiras filas – “On My Own”, faixa título do mal-amado terceiro álbum de Jake Bugg, passou completamente despercebida, mas, em jeito de recompensa por todo o tumulto que privava os seus devotos de aproveitar na totalidade o concerto do artista, “Simple As This”, “Trouble Town” e “Taste It”, resgatadas do homónimo álbum de 2012, seguiram-se de rompante, gerando palmas a marcar compasso e as letras bem decoradas por parte de uma plateia no chão, nas cadeiras ou até mesmo de pé.
Apresentando-se num formato a solo, Jake Bugg apenas contou com as suas fiéis guitarras acústicas para percorrer o melhor de uma jovem – condiz com a tenra idade do artista – carreira, mas como consequência, alguns dos seus temas leiam-se ‘rockeiros’, ficaram de parte, como “What Doesn’t Kill You”. Todavia, esta faceta minimalista acentuava que nem uma luva na dinâmica do EDPCoolJazz, o que não fez com que a escolha de um artista tão ‘indie’, que foge à oferta do festival, fosse totalmente descabida.
Remetendo-nos para a década dos anos sessenta, onde os cantautores de voz nasalada faziam furor – é difícil não estabelecer comparações entre Bugg e um jovem Bob Dylan – mas com uma lírica bem assente nos dias de hoje, onde aborda o ponto de vista de um apaixonado jovem que vive nos subúrbios de Nottingham onde aquilo que mais quer fazer é cantar, Jake Bugg sabe como reunir o melhor desses dois mundos, com o seu folk a já ter dado vastas provas como não foi fruto do acaso.
Bem mais sorridente do que lhe é costume, Jake Bugg esboçava sorrisos acompanhados de tímidos “obrigados” tema após tema, como fora o caso de “Me and You”, recebidos por “Jake! Jake! Jake!” por parte das camadas jovens centradas a meros metros do artista, feito que se repetiria instantes a seguir com uma celebrada “Two Fingers”, a levar telemóveis bem ao alto para captar o momento. Numa noite onde o seu primeiro disco parecia ser o principal mote do concerto, houve ainda tempo para a estreia de dois novos temas, fortemente aplaudidos quando Bugg partilhou que nunca tinham sido tocadas em palco, de nomes “Southern Rain” e “Lightning Bolt”, ambas a constar do futuro quarto álbum de originais, com lançamento previsto em Agosto.
Já perto do fim de alinhamento curto mas conciso, a emocional “Broken” e a frenética “Lightning Bolt” deram por terminada, como chave de ouro, mais uma celebrada passagem por Portugal de Jake Bugg, que, nas palavras do próprio, não se importava nada de ficar a noite toda a tocar para uma “boa plateia cheia de bons cantores”. Algo nos leva a querer que esse sentimento era mútuo por ambas as partes.
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Nome incontornável da música portuguesa, Jorge Palma foi o senhor que se seguiu, já com a ausência dos eufóricos fãs de Jake Bugg, com os lugares a serem cedidos por um público algo mais adulto. Tal como o britânico, o artista português também só se fez acompanhar por um único instrumento – o seu fiel piano – que encheu as medidas não só do enorme palco do EDP CoolJazz mas como também de todo o recinto.
Passado um ano desde a celebração dos vinte-cinco anos de Só, um dos melhores discos na vasta carreira de Jorge Palma, voltou-se a cantar os parabéns a um álbum que tanto marcou a música portuguesa na altura, com o dito a ser tocado (quase) na íntegra, embora que a ordem não fosse a mesma do que na altura.
Sendo um dos poucos artistas, ao longo de todo o festival, a recorrer ao enorme ecrã que servia de decoração no palco, Jorge Palma preferiu por intercalar imagens ligadas às canções interpretadas com momentos do seu crescimento, desde criança até adulto, numa espécie de biografia visual que tão bem assentava no alinhamento que, também ele foi crescendo ao longo de diferentes gerações.
Como isto de recriar álbuns tão emblemáticos na música portuguesa tem que se lhe diga, Jorge Palma acusou algum nervosismo nos primeiros temas, demorando até saudar uma plateia que ia, de forma algo tímida, acompanhando-o nas suas cantorias. Claro que quando, finalmente, se direcionou para o palco, com a sua postura sempre amável e bem-disposta, sentiu-se bem mais à vontade em palco, puxando e gracejando com a plateia, ora fosse sobre o frio que por ali pairava ou até para elogiar o artista que o tinha antecedido; “Jake Bugg é bom, hã?”, perguntou. “Sim, tal como tu”, pensaram muitos.
Com “Bairro do Amor”, “Só” e a incontornável “Frágil, cujas incríveis rendições de piano receberam das mais sonantes salvas de Palma de todo o concerto, Jorge Palma mostrou o porquê de ser quem é na música portuguesa e de ainda estar por nascer alguém que consiga criar temas tão emblemáticas como o português. Para o encore, as cantorias para com o público permaneceram, com a saída de Só a acolher “Encosta-te a Mim”, “Passos em Volta” e “Portugal, Portugal”, não sem antes serem antecedidas pela sempre brilhante “A Gente Vai Continuar”, um dos melhores temas do disco da noite e da própria carreira de Jorge Palma.
Tal como nos foi habituado ao longo dos anos, Jorge Palma assinou mais um concerto memorável, fazendo esquecer, por momentos, o frio arrepiante que se vive em pleno mês de Julho. No dia seguinte, a promessa que as temperaturas iriam aumentar exponencialmente tomariam a forma de Luísa Sobral e Jamie Lidell, naquele que seria o derradeiro dia do EDPCoolJazz nos Jardins do Marquês de Pombal. Já se sente a saudade no ar, não acham?
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Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Luis Sousa
Evento – EDPCoolJazz’17
Promotor – Live Experiences