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EDPCoolJazz ’17, Dia 26 – O Cruzamento entre o Amor e a Dança

Ao longo dos últimos dias, o anoitecer pelos Jardins do Marquês de Pombal já se começava a tornar numa rotina: o sol punha-se lá para as oito e meia da noite, matava-se o bucho nas dezenas de roulottes espalhadas pelo recinto, dois dedos de conversa eram acompanhadas pelo sabor de um bom vinho e a música manifestava-se através de belíssimos concertos.

Na última noite do EDPCoolJazz pelos Jardins do Marquês de Pombal, a história não diferiu, repetindo-se a temática da noite anterior de “dois concertos, uma noite”. E que noite que foi, com Luísa Sobral a fazer de ying, Jamie Lidell de yang e a combinação de ambos a assinalar mais uma noite memorável no festival.

fotos na galeria EDPCoolJazz 2017 Dia 26 Ambiente

Há quem diga que o destino não foi deixado ao acaso: no preciso dia em que Lisboa foi escolhida como cidade anfitriã da próxima edição do festival Eurovisão, Luísa Sobral, coautora do tema português mais badalado dos últimos tempos, subiu ao palco do EDPCoolJazz.

Com os irmãos Sobral a estarem na berra desde Maio, a verdade é que ambos já eram prestigiados artistas por Portugal, ou não fosse esta a terceira aparição de Luísa Sobral no evento de Oeiras. Abrindo as hospitalidades com “Learn How To Love”, Luísa quis deixar logo bem claro que não é mulher de festivais e não tem por hábito tocar nos mesmos, mas para si, o EDPCoolJazz transcende-lhe a noção de festival, “é como tocar em casa”. Talvez por estar num ambiente tão acolhedor, a decoração do palco tinha que estar à medida da coisa, ou não estivessem múltiplos candeeiros e tapetes persas a mobilar um cenário bem caseiro.

Querendo desde cedo romper a barreira entre a anfitriã e os convidados lá de casa, Luísa convida todos a juntarem-se a um ou outro pezinho de dança em “As The Night Comes Along”, tema que, nas palavras da própria, “é tão groovie e alegre que faço sempre questão de a tocar nos concertos”, desprendendo-se de instrumentos e deixando os seus Converse falar, num cenário registo habitual de Luísa Sobral mas mantendo o encanto de sempre. A acompanhar a ex-Ídolos esteve uma brilhante banda de apoio – João Salcedo, Mário Delgado, Carlos Miguel Antunes e João Hasselberg – que ajudou a cantora a recriar o melhor do seu mais recente disco Luísa, transpondo toda a sua rica sonoridade em palco.

Quer fosse em inglês (“Rainbow”), francês (“Je T’Adore”) ou no português, Luísa Sobral sabe mostrar que a sua competência enquanto artista transcende qualquer língua, sendo versátil ao ponto de fazer com que o seu doce timbre consiga amolecer e encantar o coração de qualquer um. Para aqueles cujo coração palpitava por outro do que não o seu, a mana Sobral começou a dar dicas de engate na esperança de consolidar os encontros românticos de muitos casais que por ali andavam, dedicando-lhes “Paspalhão”. E não é que uns quantos beijinhos apaixonados foram surgindo?

Não foi apenas do rico repertório de Luísa Sobral que o concerto se desenrolou, ou não fosse, em jeito de surpresa inesperada, que “Amar Pelos Dois”, o novo hino da música portuguesa, ecoou pelos Jardins do Marquês de Pombal, numa bela rendição acústica que consegue causar o mesmo impacto emocional que a versão do irmão mais novo, conseguindo também a proeza de meter tudo e todos a cantar. Continuando no caminho de surpresas, houve ainda tempo para uma versão de outro icónico tema do Verão passado, em que “Hello”, de Adele, teve direito ao cunho pessoal de Luísa Sobral. Haverá artista portuguesa atual mais versátil que Luísa?

Como o tempo escasseava, “não há tempo para eu entrar e sair de palco” e foi numa viagem ao disco de estreia The Cherry On My Cake que se resgatou o seu tema forte, “Xico”, selando o seu terceiro concerto no EDP CoolJazz em ambiente festivo, aquele mesmo que se tenta afastar de mas que no final do dia, sabe como fazer render este peixe.

fotos na galeria EDPCoolJazz 2017 Dia 26 Luisa Sobral

Passaram-se quase cinco anos desde que Jamie Lidell pisou solo português, ainda nos tempos em que o NOS Alive dava pelo nome de Optimus. Desde então, lançou o seu mais recente disco Building a Beginning, que data do ano passado, com o EDP CoolJazz a ser o palco escolhido para acolher o regresso do britânico.

Na boa companhia dos Royal Pharaohs – destaque para Owen Biddle, baixista dos The Roots – Lidell não perde tempo em tentar prender uma plateia que acusava a pressão do frio que pairava pelo recinto, lançando-se de cabeça a um dos seus maiores êxitos, “Multiply”, numa entrada flamejante que tão bem condizia com a postura do britânico, percorrendo o palco de uma ponta à outra em questão de segundos; por momentos, o ambiente frígido passou para segundo plano. Cheio de energia e de boa vontade, Jamie Lidell queria fazer a festa no seu último concerto da tournée, com “Walk Right Back” e “Little Bit of Feel Good” a servirem como mantas para colmatar a brisa friorenta do público.

Num festival tão rico de sonoridades como o EDPCoolJazz, a escolha em receber Jamie Lidell era simples: ter o melhor do funk e do soul em palco, ora não fosse esta combinação uma aposta certa no que a grandes concertos diz respeito. Na teoria a fórmula é imbatível, mas quando escassa um público que adira tanto à física como à química da coisa, a comunhão entre o artista e o público nunca será alcançada. Todavia, Jamie Lidell não se deu como derrotado e tudo fez para contornar a situação a seu favor, recorrendo a temas tão folgazes como “Lil Bit More” e “Building a Beginning”.

Mesmo contando com uma talentosa banda a apoiá-lo – de frisar a forma como a falta de instrumentos de sopro foi bem contornada graças a sonantes linhas de baixo e frisantes guitarras – Jamie Lidell não é homem de se ausentar das luzes da ribalta, mostrando como sabe manusear a sua voz ao ponto desta quase parecer um instrumento musical, como quando dedicou “Julian” ao seu pequenote. Apesar de toda a fibra e interação com o público, houve uma certa parte que cedeu à descida de temperatura e abandonou o recinto. Para os fortes que ficaram, Lidell compensou-os com um enérgico e dançável encore, com “Nothing’s Gonna Change” e “When I Come Back”, cumprimentado a parte da plateia que nunca parou de mexer as ancas e ocupou o fosso perto do palco para receber, como recompensa, cumprimentos em primeira pessoa deste senhor que sabe como fazer a festa.

+ fotos na galeria EDPCoolJazz 2017 Dia 26 Jamie Lidell

Depois de cinco dias onde os Jardins do Marquês de Pombal tornaram-se num loft noturno para os amantes de música, o refúgio de Oeiras encerrou finalmente as portas, mas não as do festival, já que essas têm ainda na agenda o derradeiro concerto do festival que irá ser protagonizado pelo eterno ‘namoradinho’ de Portugal: Jamie Cullum. Até lá, fica no ar a sensação que tendo finalmente atingido a idade da adolescência, o EDP CoolJazz ainda tem muitas cartas para dar, e nós lá estaremos para as receber.

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Texto – Nuno Fernandes
Fotografia – Marta Louro
Evento – EDPCoolJazz’17
Promotor – Live Experiences