Chegar a Paredes de Coura começa a ser sinónimo de relaxamento, tranquilidade e paz interior. Aliado a isso, vem o gosto de saber que podemos saborear concertos que nos guiam a outros universos, efectivamente, deliciosos.
Algumas alterações nos esperavam, no recinto e fora dele. No recinto foi alterada a disposição de zonas e, fora dele, o conceito das Music Sessions. Estas, outrora, eram exclusivas de alguns sortudos e em diversos locais paradisíacos dos arredores. Agora, contemplam todos os campistas e festivaleiros e são em locais mais próximos de todos.
A primeira, neste primeiro dia, foi no telhado do balneário do rio, com os The Wedding Present a proporcionar aos banhistas uma tarde de puro relaxamento e boas energias.
Seria com eles que iniciávamos o nosso roteiro dentro do recinto do festival. O destino era a adolescência e o ritmo quente que o movimento alternativo dos anos 80 marcava. David Gedge, vocalista e o único da formação inicial de The Wedding Present, mantém aquela voz grave e arisca com a qual gravou o primeiro álbum, escolhido para este dia – George Best Plus. Só ficaram de fora “All About Eve” e “Getting Nowhere Fast” e o álbum foi tocado e degustado como se tivesse sido feito nos tempos de agora. Foi um concerto electrizante e coberto de uma energia boa e nostálgica que torna qualquer tentativa de descrição insuficiente. Embora seja o único, David, encontrou uma formação de mais três elementos que o acompanham na perfeição em toda a construção musical e nos fazem dançar de sorriso no rosto.
Se começámos a noite a dançar, o momento seguinte seria de distorção e transtorno físico. Adolfo Luxúria Canibal assumia a sua posição com uma intro obscura e sinistra e, ao mesmo tempo, fazia-nos antever que algo nos iria entrar dentro do corpo. Aos poucos, a satisfação negra e pesada foi-se espalhando e o transe apoderou-se. A saudação de boa noite de Mão Morta introduzia a viagem que íamos fazer. Com alguns desvios, poucos, pelo caminho o percurso ia passar pelo Mutantes S.21 que, tal como o festival, celebrava 25 anos de existência. Audácia e talento era o que se previa depois de sabermos isto. Com o olhar de peso que o caracteriza, Adolfo ia recitando a poesia negra que tão bem escreve. Palavras soltas, sentimentos perdidos, vivências sentidas numa combustão de significado. A acompanhar, as cordas e a percussão que alimentavam danças descoordenadas em corpos famintos, sempre com grandiosas projecções no ecrã. A energia fluiu e todos somos sugados para uma onda negra de puro magnetismo. Os desvios fizeram-se com “Bófia” e “Velocidade Escaldante” e houve ainda tempo para cantar os parabéns a este tão acarinhado festival. Adolfo terminou estendido no chão.
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A surpresa da noite viria a seguir com Beak>. Depois de passarem pelo Primavera Sound no ano passado, regressam ao norte para surpreender até algumas mentes mais cépticas, não todas! Vindos de Portishead, Robert Plant e Moon Gang, este trio carrega elementos capazes de nos guiar a uma longa viagem pelos sentidos. Donos de um krautrock coberto de um manto bastante electrónico e experimental, misturam uma série de influências e desconexões que, juntas, fazem todo o sentido. Voz distorcida, synths pesados e um baixo denso faziam maravilhas dentro de cada mente, proporcionando, ainda, uma espécie de melodia bonita e elegante que, por vezes, nos levantava os pés do chão. Muitas almas não perceberam o que aconteceu ali e, as que perceberam, alimentaram-se da melhor maneira possível.
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O concerto da noite recairia sobre Future Islands. Quem já os viu percebe, quem conhece apenas o áudio vai ficar sem perceber o que acontece em cada concerto destes seres. Samuel, aparenta o peso da sabedoria e a energia dos 30 que, efectivamente, tem (33).
A verdade é que há uma espécie de transformação e quase metamorfose em algo que não humano sempre que pisa um palco. De rojo, começa com a novíssima “Ran”, maravilhosa em toda a sua essência física, visual, auditiva e emocional. “A Dream Of You And Me” vem, de seguida, para criar a envolvência bonita que arrepia a alma. Durante o concerto passeamos pela tranquilidade inquietante de uma brisa sonora que se aloja nos pontos essenciais da sobrevivência diária. A dualidade, sempre presente, mostra-nos Deus e o Diabo, o mórbido e o puro, o angelical e o profano e isso deixa-nos despidos de tudo para nos entregarmos de corpo e alma ao momento. As luzes ofuscavam, tal como as danças variadas. A intensidade vivia-se e sentia-se como se o mundo fosse acabar naquele momento e tudo nos fazia querer despertar o animal que escondemos, só para nos igualarmos a Samuel. O ritmo da synth pop meio indie, meio rock faz-nos simplesmente fechar os olhos e deixar o corpo seguir o seu caminho. “Seasons (waiting on you)”, “Balance”, “Spirit” e “A Song For Our Grandfathers” fizeram, igualmente, parte do alinhamento. Um sorriso gigante de pura satisfação encheu-me a cara e o peito. O coração veio à boca e as pernas ficaram a tremer. Obrigada Samuel por carregares esse animal e o revelares sem medos da forma mais genuína e humilde possível.
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A noite terminaria por aqui, para mim. Mas o palco ainda recebia Kate Tempest.
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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2017
Promotor – Ritmos Lda.