O fim aproximava-se e apenas restavam dois dias deste espaço físico e auditivo que tanto nos acarinha a alma.
O terceiro dia revelou-se o mais fraco do cartaz, embora tenha começado da melhor maneira.
A Music Session deste dia aconteceu em frente à Câmara Municipal de Paredes de Coura com os californianos Moon Duo. Tocaram três faixas em meia hora com um bordado adequado ao momento e ao local. O embarque começara aqui! A viagem seria interrompida para dentro de horas ser retomada naquele que se transformou no concerto da noite.
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Bruno Pernadas abriria o palco Vodafone junto dos seus 8 companheiros. A versatilidade e variedade de instrumentos revelava uma sobriedade e construção dignas de uma vénia até ao chão. A coordenação e ligação entre todos é incrível e os três sopros existentes tornaram tudo ainda mais especial. Jazz, space pop, folk e algum synth mostram a grande escola do compositor e tudo aquilo que é capaz de nos trazer em cima do palco. O ritmo é alegre e a harmonia constante e, o facto de o alinhamento ser curto composto de faixas longas, nunca se tornou monótono ou desinteressante. O concerto terminou com o aviso de Bruno: “Fiquem atentos! A tudo na vida.” e as grandiosas “Anywhere in Spacetime” e “Ahhhhh”.
+ fotos na galeria Vodafone Paredes de Coura 2017 Dia 18 Bruno Pernadas
No palco secundário, depois de Cave Story (que não tivemos oportunidade de ver), apresentava-se o, também versátil, canadiano Andy Shauf. Também ele com uma aposta em sopros, o que, em minha opinião, faz sempre a diferença, mantém a suavidade melódica que já trazíamos dentro de nós. Um registo ténue e sereno que mesclava o indie pop com o rock e nos mantinha o coração a bater ao ritmo certo ao mesmo tempo que nos embalava os ouvidos.
Ainda no mesmo palco, aquele que viria a ser o concerto da noite. Falo de Moon Duo e do retorno à viagem iniciada à tarde. Os olhos foram cerrados aos primeiros acordes. Os riffs dão-nos o empurrão necessário, os sintetizadores o conforto e segurança para a viagem e a bateria a consistência e consciência de que, mesmo que nos percamos, nunca estaremos sós ou realmente perdidos. Na maioria das músicas, um click sempre presente representava algo como que o despertar de alguma consciência que desconhecemos. As semelhanças com Sleep confirmam a certeza de que este duo de três pessoas bebe nas melhores fontes e não está diante de nós a brincar, mas sim a sentir tudo, tal como nós. Paralelismos vários entre a luz e o breu, o bom e o mau, a consciência e a consciência trazem-nos a capacidade de sentir picadas dos nossos sentidos. “Sleepwalker” e “NoFun” dos Stooges criaram uma maior agitação no público. Terminamos o concerto mentalmente cansados porque a viagem tinha sido demasiado intensa e, ao mesmo tempo, com tristeza por ter durado tão pouco.
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No palco principal estavam os prodígios BadBadNotGood. O que nos traziam era a sede de viver e de provar ao mundo o quão bons são. Com uma humildade e cumplicidade gigantes, estes rapazes trouxeram um instrumental extremamente bem delineado e construído. Uma espécie de jazz distorcido e algo dançável compunha a sua essência. Proporcionam-nos um momento de descontracção e libertação de tensão. A interacção com o público e a presença em palco são algo que enche a alma e o público responde sempre na mesma moeda, existindo, por vezes, uma só alma ali presente. “Speaking Gently”, “Triangle” e “CS60” fizeram parte do alinhamento. No entanto, BadTimeBadPlaceGoodBand! Este concerto teria tudo para dar certo se fosse a outra hora, noutro sítio.
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Uma escolha, igualmente, menos feliz, revelava-se com Japandroids. Apesar da sua energia e do ritmo um pouco mais acelerado do qual precisávamos, não foi um concerto capaz de encher almas. Depois de terem passado pelo Primavera Sound, começaram o concerto de forma explosiva com uma voz rouca e riffs algo sujos. Apesar de o público ter iniciado o levantamento de pó e o deslizar por cima de cabeças, o estilo mais pop do que rock, não trouxe grande satisfação, tornando-se até algo ligeiramente entediante. A quantidade de “humm humm” e “Xa la la” foi um pouco abusiva. Mas o balanço geral não é assim tão negativo tendo em conta que sempre foi algo assumido pela banda, ainda que inconscientemente. Ouvimos músicas como “Wet Hair”, “Midnight to Morning”, “ The House That Heaven Built” e a nova “North East South West”.
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Depois de um atraso de quase 40 min, por problemas técnicos, os Beach House vinham encerrar o palco principal. O concerto não se encurtou devido ao atraso e o embalo que nos deram foi a preparação para ir dormir. O manto escuro que os cobre e o facto de estarem já habitualmente submersos nele começa a fazer com que hajam dúvidas sobre a verdadeira intenção desta imagem. A voz grossa e penetrante de Victória entra, de forma subtil, no quadro mental dos possíveis sonhos que teremos a seguir. O dream pop que os caracteriza é deformado pelo manto negro que os acompanha, tornando-se quase incompatível. Sentimos algum conforto durante este concerto pela força emotiva que, apesar de tudo, lhes caracteriza as músicas. Mas, também sentimos, um excesso de agradecimentos e dizeres que não se sentiam muito puros. O alinhamento foi estrategicamente bem escolhido para o dia, contemplando faixas como “Walk In The Park”, “PPP”, “Master Of None”, “Wishes”, “Elegy To The Void”, entre muitas outras. Para além de servir para nos dar um bom caminho para o descanso, ainda nos fez levitar sobre o céu estrelado concentrando-nos no nosso eu enquanto indivíduos. Por momentos, aquele véu que encobre a sensualidade e deixa passar a lucidez caia e tudo o que ouvíamos afastava-se de quando em vez.
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O cansaço já pesava e o embalo pedia descanso. O dia seguinte requeria a energia suficiente para conseguir absorver as intensidades que nos esperavam.
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Texto – Eliana Berto
Fotografia – Jorge Buco | Hugo Lima (Vodafone Paredes de Coura)
Evento – Vodafone Paredes de Coura 2017
Promotor – Ritmos Lda.