20170908 - Festival Reverence Santarém 2017 @ Ribeira de Santarém
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Reverence Santarém’17, dia 8: Salvos pela energia desconcertante de Bo Ningen

Na passada sexta-feira teve inicio a quarta edição do Reverence, festival acarinhado pelos fãs da música menos mainstream e habitualmente com uma forte tónica de psicadelismos, doom e stoner. A quarta edição do Reverence prometia trazer novidades. Trouxe novidades, mas sobretudo alterações. A mais notória de todas, ainda mesmo antes do início terá sido a alteração da localização do festival, que nas suas três primeiras edições se realizou no Parque de Merendas de Valada, transferindo-se este ano para aquela que, segundo refere a organização, havia sido a primeira localização pensada para o mesmo; o Parque da Ribeira de Santarém.

Outra das alterações que se deu foi a redução do número de palcos e actuações, que iria permitir, à partida, um visionamento mais relaxado dos concertos sem ser necessária a preocupação de anos anteriores em que simples deslizes e distrações faziam com que perdêssemos alguns concertos.

O ano de 2017 trouxe também a colaboração da Fuzz Club, que comemorou o seu quinto aniversário, trazendo várias bandas da sua chancela para comemorar em Santarém.

Mas o que encontrámos ao chegar na sexta-feira a Santarém foi bastante diferente do cenário que havia sido amplamente falado durante o verão. As condições do recinto em nada são comparáveis às dos anos anteriores no Parque de Merendas de Valada. A inexistência de sombra junto ao palco principal, a inexistência de vegetação ou quaisquer outros elementos que fechassem um pouco o espaço aberto, num plano mais elevado que o resto do recinto faziam com que o local se tornasse inóspito e com o decorrer dos concerto e a diminuição da temperatura durante a madrugada se tornasse deveras hostil mesmo para os mais habituados a estas andanças. Por outro lado o palco secundário que se misturava um pouco com a zona de refeições, apesar de estar mais abrigado por ter árvores à frente, era um palco descoberto, de costas para o rio, o que também não terá ajudado de forma nenhuma em algumas actuações.

A zona de refeições composta por uma oferta com qualidade, mas pouco diversificada e onde apenas existiam três mesas e nem uma dezena de cadeiras, apenas terá conseguido responder à procura, porque a afluência não foi muita, mas ainda assim sem qualquer conforto para quem a utilizou.

As condições do parque de campismo são comparáveis a um qualquer acampamento espontâneo junto a uma praia fluvial, sem água disponível, duches, ou mesmo qualquer área delimitada, ou até mesmo segurança.

A proximidade de uma estação de comboios, era algo que poderia à partida ser uma mais-valia, mas viria a demonstrar-se apenas mais um contratempo no meio do cenário um pouco perdido em que nos encontrávamos, pois de tempos a tempos os concertos eram interrompidos pelo som da campainha que anunciava a passagem de mais um comboio.

Mas tudo isso poderia ser superado se de facto os concertos viessem a corresponder às expectativas.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Ambiente

Quando chegámos ao recinto o mesmo ainda se encontrava um pouco despido, demasiado despovoado, mesmo para uma sexta-feira à tarde. Na verdade o recinto, mais aberto e com menos árvores em volta dos palcos proporcionava de imediato essa mesma sensação. O palco secundário, encontrava-se a uma distância pouco razoável, por ser demasiado próximo e não haver qualquer barreira natural ou artificial que os separasse, pelo que aguardámos para perceber de que forma iria decorrer o funcionamento do mesmo.

Fomos ao encontro dos Desert Mountain Tribe, que começavam nesse momento a sua actuação. Trouxeram um set descomprometido que abarcou a curta carreira da banda. Passaram por Hitzefrei, ou Coming Down e Take a Ride com algum entusiasmo. No entanto e apesar da vontade com que se entregaram foi difícil aquecer realmente o público que ainda era bastante reduzido.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Desert Mountain Tribe

Quase imediatamente de seguida pudemos assistir à performance da one man band Tren Go! Sound System, projecto de Pedro Pestana, guitarrista dos 10000 Russos, banda à qual cabe nesta primeira noite o encerramento. Pedro Pestana, só em palco, envolveu-nos em mil efeitos que produz com uma guitarra, como se percorrêssemos toda uma galáxia enquanto ele segura um cigarro na boca e manipula o som e a atenção do público.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Tren Go! Sound System

A esta altura fazia-se já sentir uma temperatura bastante mais baixa que durante a tarde e o vento, bastante frio e por vezes intenso e a prometer não dar tréguas, dificultava bastante os testes de som e mesmo as performances em ambos os palcos.

Às 20.50 deveria ter tido inicio o concerto dos belgas Oathbreaker, no entanto o mesmo acabou por começar apenas depois de uma luta inglória da vocalista Caro Tanghe para se fazer ouvir, num teste de som que durou cerca de vinte minutos. O público persistiu apesar da prolongada espera e apesar das notórias dificuldades com o som, e os Oathbreaker em visível esforço para começar o concerto, conseguiram agradar ao público interessado. Mas nem todo o esforço da banda conseguiu vencer as dificuldades com o som, o vento e o frio que se haviam instalado, e assim, uma banda que prometia bastante acabou por nos dar apenas o essencial porque apesar do esforço não conseguiram mais que isso.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Oathbreaker

Os Zarco, no meio de um menu um pouco mais denso e pesado deram um concerto descontraído e descomprometido, um momento para desanuviar. Ainda o concerto de Zarco não havia terminado e já algumas pessoas se concentravam para ver Amenra no palco principal.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Zarco

Os Amenra também já entraram em palco fora do horário expectável. Apesar das dificuldades que eram notórias com o som de ambos os palcos, neste concerto essa dificuldade não se fez sentir de forma tão aguda. Os Amenra conseguiram fazer passar para a massa humana que a esta altura havia aumentado ligeiramente quase toda a densidade através da sua música, mas também com as fantásticas projeções que os acompanhavam, ampliando todo o ambiente negro e denso, e talvez pela primeira vez nessa noite sentimos que estaríamos num festival.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Amenra

A noite avançava e no regresso ao palco secundário encontramos os Wildnorthe com a sua sonoridade mais perto do gótico e do pós-punk que parecia realmente preparar-nos para o resto da primeira noite. A banda cumpriu a sua parte, dando a conhecer a sua sonoridade e cativou o público que foi chegando aos poucos mais perto de palco para os ver e ouvir.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Wildnorthe

Os Moonspell sofreram também com a intempérie, e acabariam por entrar em palco perto da meia-noite, depois de um também longo período de testes de som. Sabíamos de antemão que o concerto abarcava os dois álbuns icónicos da banda, Wolfheart e Irreligious, o que significaria um concerto com não menos de 90 minutos de duração. A banda proporcionou um espetáculo que conseguiu aquecer parte da plateia, mas é importante salientar que um concerto com a duração de duas horas no meio de mais 20 concertos pode tornar-se excessivo e foi exactamente o que aqui se verificou. Fernando Ribeiro clamou pelo público a cada música o que acabou por tornar tudo um pouco mais pesado e mesmo forçado, originando uma quebra de ritmo. Muito embora se compreenda que foi este o compromisso da banda desde o inicio, o longo espetáculo, com direito a pirotecnia em palco, acabou por levar boa parte do público a abandonar o recinto, pelo cansaço, pelo frio, pelas condições que não pareciam favoráveis a nada mais que mantas e sofá, ou neste caso a tendas e sacos cama.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Moonspell

Voltando ao palco secundário, este pareceu pequeno para o poder sonoro dos Névoa, e a durante boa parte do concerto o som dos Névoa atingiu pontos de distorção quase incompreensíveis, mas arrancaram do público que permanecia firme nas suas convicções um forte aplauso.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Névoa

A surpresa da noite chegaria perto das 03.00 com os japoneses Bo Ningen e a sua energia contagiante e electrizante. A banda prima pela forma inusitada com que se apresenta. Não é apenas o aspecto andrógino de Taigen Kawabe, vocalista e guitarrista, mas os movimentos e as expressões com que confronta o público. Mantiveram-nos presos ao palco até ao fim, a dançar como ainda não se havia dançado nessa noite. Foi o mais perto que estivemos de uma festa, de uma celebração cheia de energia. Apesar de estarem a entrar em palco já com cerca de hora e meia de atraso, é certo que todos os que por lá ficaram avançaram pela noite com uma satisfação diferente depois de assistir a este concerto.

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fotos na galeria Reverence Santarém 2017 dia 8 Bo Ningen

Depois do concerto mais electrizante da noite coube aos portugueses Melancholic Youth Of Jesus a performance seguinte e aqui a noite já ia bastante longa.

Perto das 4.00h, hora a que se deveria ter iniciado o concerto de 10 000 Russos, ainda não haviam actuado os Sinistro e os Two Pirates and a Dead Ship. Assim, e apesar da promessa de um nascer de dia ao som de 10000 Russos parecer sempre óptima, ou mesmo de um fim de noite na companhia dos Sinistro, acabámos por dar como encerrada essa noite estranha em que não conseguimos realmente sentir a pulsação do Reverence. Sábado seria um novo dia.

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Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa
Evento – Reverence Santarém 2017