Na noite que antecipou o regresso ao Reverence Santarém teve lugar mais uma das sessões warm up no Sabotage Club. Desta vez o cartaz tinha o seu quê de misterioso e anunciava uma banda que iria fazer a sua estreia mundial. Sabíamos que os Northern Death Cult eram um projecto paralelo de alguns dos elementos dos Janitors, banda proveniente da Suécia que iria actuar no sábado ao final da tarde no Reverence.
Qual não foi a surpresa ao vermos o palco ser tomado por 5 músicos, todos eles vagamente familiares. Mas isto apenas para quem já tinha andado a percorrer os vários trilhos desenhados para os dois dias seguintes. Ainda assim a dúvida persistia, e a ser real a anunciada estreia, a ansiedade aumentou em segundos, pois não tínhamos nada com que nos guiar, apenas a referência aos Janitors, o que por si só era já uma referência bastante forte.
Aos primeiros acordes a suspeita ou a dúvida esfumaram-se… ou agudizaram. Ou estávamos perante a melhor banda de covers de sempre ou eram mesmo os Janitors pois de imediato se reconheceu a toada poderosa de “Here They Come” do Ep de 2014, Evil Doings of an Evil Kind.
O som enche a sala, cria uma atmosfera densa e sedutora. Os cinco músicos enchem completamente o palco mas a interação entre eles é já de tal forma intrínseca e natural que todo o concerto parece coreografado ao milímetro.
Trazem-nos Trojan Ghost e Blizzard e também a épica A-Bow, música etérea com cerca de dez minutos que nos captura para uma viagem extra corpórea.
Vão buscar-nos fora do nosso corpo com Greed e Message.
No meio de todo o turbilhão de sentimentos que a música nos desperta, duas coisas importantes a reter; o autocolante na guitarra de Henric Herlenius (Noise Against Fascism), que num mundo cada vez mais fechado sobre si próprio e com cada vez menos mensagem real e atuante causa impacto e nos leva a pesquisar um pouco mais sobre a banda e as suas fontes de inspiração.
É fascinante a entrega destes cinco músicos ao que fazem e como escolhem através da música que fazem e dos seus concertos tornar-se um veiculo inspirador e instigador da tolerância.
Nas palavras deles : “Este registo é uma declaração de intenções. É uma chamada de armas ao nosso lado. É um pequeno protesto. Seja contra a fé nas falhas religiosas de falsos profetas aclamados por si mesmos ou clero intocável de alto poder, egoísmo capitalista, idiossincrasia racista ou fascismo contundente escondido na ignorância.”
Um excelente concerto com uma ou mais componentes inesperadas. Uma banda que afinal era outra e a descoberta das suas intenções na sua passagem pelo mundo.
Mas a noite iria continuar ainda com os Zanibar Aliens e o seu rock pincelado de blues que de imediato nos remete às melhores e maiores referências da década de 70 nessa área da música.
A sala encheu-se um pouco mais, percebeu-se bastante bem que muitos dos presentes estavam ali para os ver e os Zanibar Aliens fizeram questão de dar o seu melhor em cada música criando uma atmosfera divertida e cheia de groove, que continuou depois pela mão do Nuno Rabino, incrível Dj residente do Sabotage Club.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa