Aproximava-se mais uma noite quente de rock no nosso Sabotage Rock’n’roll Club. Esta chama quente contrapunha-se às origens da banda que pisaria o palco, mas isso nada se notou. A noite estaria a cargo dos russos The Karovas Milkshake e do seu mais recente trabalho “In The Shade Of The Purple Sun”, lançado em Fevereiro do ano passado pela Groovie Records.
Os tons púrpura misturaram-se com cores de fogo e proporcionaram-nos 1 hora e 20 de uma viagem a uma espécie de conto emotivo e revivalista com paragens por vários estilos musicais. A sua essência aparece, neste álbum, demarcada pelo garage, não pondo de lado o mote que sempre assumiram do psicadelismo dos anos 60.
Apresentam-se em trio com calças à boca de sino, camisas estampadas e botas texanas. Abrem a noite numa mística envolvente com “Stolen Moment” como se quisessem, com ataques de euforia rítmica, roubar-nos momentos de tranquilidade e empurrar-nos para uma certa onda de divagação e riffs estimulantes.
As vozes com tonalidades americanas, juntavam-se a um certo tropicalismo que tanto se transformava em rock’n’roll, como em psicadelismo, como em rock de garagem. Entre eles, as influências eram notórias e variadas: tanto víamos The Beatles em “Why Can’t I”, como espreitava o rock’n’roll em “Making Time” ou nos ofereciam o conforto dos The Doors em “What I say” e “Howl” (neste caso com demasiada semelhança de construção). Sempre com o trabalho árduo de quem sabe que é preciso trabalhar para os resultados serem os melhores.
A distorção compunha a atmosfera e o guitarrista tocava de olhos fechados e sorriso nos lábios como se cada nota que lhe saísse lhe proporcionasse o mais puro momento de satisfação. A verdade é que fez um bom trabalho nesse campo, tanto na sua satisfação, como na nossa e “Pink Jam” foi um bom exemplo de uma perdição entre riffs e o calor proporcionado pelo baixo. A harmonia seguia com eles e as melodias traziam-nos sensações inocentes de cheiro a flores por entre paisagens com uma densidade colorida onde podíamos saltar felizes. A energia era contagiante e a vontade de não parar de tocar transpirava-lhes pelo corpo abaixo.
Houve uma cerimónia de dádiva aos deuses e criou-se a ambiência perfeita para celebrar os 50 anos de variados e grandiosos álbuns de onde beberam muito do que são hoje.
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa