Ao longo dos últimos anos, o Festival Silêncio tem ganho cada vez mais fãs. Como um movimento de expressão cultural, é através de conversas, debates, saraus, ciclos de cinema que se discute o estado da arte em Lisboa. Mas também em música, que é o que nos interessa. Na sexta-feira, Nerve, Conjunto Corona, Ermo e Monday foram os concertos que despertaram o interesse de várias centenas de pessoas que se deslocaram para a Praça D. Luís, Musicbox e Sabotage.
Nerve
O conceito de afterwork ganhou uma nova dimensão, quando se combina um copo e ver o concerto de Nerve na praça D. Luís, logo às 19h. Com um grande aglomerado de pessoas para ver o “sacana nervoso” numa das suas raras aparições ao ar livre, foi uma oportunidade para contemplarmos e bebermos as palavras vorazes do Tiago Gonçalves. Voraz nas palavras (e crítico para alguns que se consideram de fãs do artista, mas que não respeitam a vontade dele), constatamos que Nerve ainda está de língua afiada e com a arma (isto é, caneta) pronta a disparar em direção ao conformismo e ao marasmo da vida. Foi um concerto que andou muito à boleia do “Trabalho e conhaque ou A vida não presta e ninguém merece a tua confiança”, que celebrou agora 2 anos, mas também a verdade seja dita é que parece que vem aí qualquer coisa de novo. Só esperamos que seja mais próximo do que nós imaginamos.
Conjunto Corona
Diretos de GON-DO-MAR, este ilustre conjunto amigo do Valentim Loureiro veio espalhar gentileza, alegria e hidromel no palco da Praça D. Luís. Apresentados pela voz do mítico Álvaro Costa, com o “CV”, é à boleia do “Cimo de Vila Velvet Cantina” e “Lo-fi Hipster Trip” que o homem de robe devaneia de uma ponta à outra e saboreamos a poesia nortenha sobre relações e a “Fruta da ilha”. A jogar os trunfos todos de seguida, até porque “não é para deixar o melhor para fim”, “Chino no olho” é o que faz a plateia andar aos saltos num pseudo-mosh ou a pequena aula de geografia do Porto com o “Mafiando bairro adentro” permitem afirmar com toda a certeza que o Conjunto Corona é das melhores bandas a tocar ao vivo neste pequeno rectângulo plantado à beira-mar.
Ermo
Uma das grandes atrações do dia estava guardado para pouco depois da hora de jantar, no Musicbox. O muito falado Lo-fi Moda, dos Ermo, iria ser apresentado ao público. A mescla de pop e eletrónica, regada a sintetizadores a lembrar Crystal Castles pode funcionar um pouco como bilhete de identidade para este projecto do António Costa e Bernardo Barbosa. À entrada, o sinal a avisar o uso de strobes fazia adivinhar que se não era recomendado para epiléticos, era um espectáculo que iria ser muito visual. E foi. Se não podemos criticar a performance musical do conjunto, que percorreram o álbum de uma ponta à outra, praticamente seguindo o alinhamento do álbum, com o “Vem nadar ao mar que enterra”, ou o “ctrl+C ctrl+V” ou “fa zer vu du”, nas primeiras faixas, o uso excessivo dos strobes acabava por desconcentrar e confundir quem estava menos habituado àquelas luzes (bem pensado para aqueles que estavam nas filas da frente de óculos de sol). Mas foi um arranque de estrada promissor deste álbum que estará nos topes nacionais daqui a uns três meses.
Monday
Para terminar a noite, fomos para o Sabotage. Ali surgiu em palco Catarina Falcão. Co-responsável por outra das promessas da música portuguesa, Golden Slumbers, é a que dá a voz e cara aos Monday. Com António Vasconcelos Dias, Sérgio Nascimento, Nuno Simões e Zé Guilherme Vasconcelos Dias, Catarina e companhia apresentaram o vislumbre do trabalho que ganhará vida (leia-se, álbum) em 2018. Do conhecimento geral do público, já se tinha ouvido 30 years e o Yo-yo. Do resto do concerto, ficou um registo orelhudo, de mexer o pé e com vontade de ver mais. Para os interessados, dia 6 no Palácio dos Aciprestes, em Linda-a-Velha.
Texto – Carlos Sousa Vieira
Fotografia – Ana Pereira
Evento – Festival Silêncio 2017