O encanto e os desencantos da adolescência marcam-nos para sempre. Deles sai o resultado do agora e as marcas da pele. Quando temos a felicidade de viver a adolescência nos anos 90, sabemos que todos os momentos pelos quais passámos vão ter sempre uma boa banda sonora por detrás. Na passada noite de dia 11, quarta-feira, o mítico espaço do Coliseu dos Recreios recebeu uma máquina do tempo que nos fez regressar ao passado e encher a alma de recordações e das mais variadas emoções.
O calor decidiu acompanhar a nostalgia e com ela fazer com que nos sentíssemos de alma e coração abertos para, passados 5 anos, voltarmos a receber Bush.
Como convidados, os RavenEye abriram as hostes do palco e ofereceram-nos um concerto enérgico. A interacção com o público primava e a música que nos ofereciam conduzia a um garage rock mesclado com o timbre do hard rock. A empatia fora automaticamente criada e o público rendeu-se ao concerto, tendo Oli Brown deixado o convite para todos bebermos juntos umas cervejas a seguir.
Os Bush decidiram terminar a tour de apresentação do novo álbum em Lisboa, sendo este o último concerto da mesma. Black And White Rainbows, lançado em Março do presente ano pouco tempo teve de antena e, por um lado, ainda bem que assim foi. Dele, foram apresentadas “Nurse” e “Peace-S”, tendo o resto do concerto recaído sobre os clássicos da banda, concedendo-nos uma bolha de nostalgia que, ainda hoje, lembramos com um sorriso.
A voz de Gavin ainda possui o dom de arrepiar mal sai pelas colunas e isso contribui em grande escala para grandiosidade desta banda. Começaram pelo primeiro single da carreira deles – “Everything Zen”, de Sixteen Stone e de imediato tinham um Coliseu inteiro a seus pés. De seguida, sentimentos à flor da pele com “The Chemicals Between Us” e os sonhos criados nos quartos de cada um em noites quentes de verão algures nos anos 90. Seria no post grunge que nos iriamos perder em quase duas horas de concerto, onde as memórias eram mais que muitas e a maturidade grandiosa da banda contribuia em muito para que existisse apenas uma única alma naquele espaço. “Greedly Fly”, “Let Yourself Go”, “The People That We Love”, “Swallowed” e “Little Things” aqueciam o espaço à medida que nos entravam pelos ouvidos e corpo e tudo em nós borbulhava. Alguma água subtil saía dos olhos acompanhando os riffs turbulentos de Chris e o aconchego do baixo de Corey e turvava o cenário electrizante a que se assistia. Gavin saltava, rodopiava, deitava-se no chão, ia tocar e saudar o público e regressava como se ali em cima estivesse a ser dado tudo até à última gota de suor.
“Little Things” proporcionou uma volta completa ao Coliseu pelo meio dos fãs mostrando que a humildade e a partilha se mantém inertes e intactas à sua pessoa. A despedida fez-se com emoção e o encore veio de seguida com “Machine Head”; a cover de “The One I Love” dos R.E.M. tocada com uns riffs ensurdecedores e magnéticos; a magia inicial da voz e guitarra de Gavin em “Glycerine” e “Comedown”, terminando com um abraço de família e com a despedida individual dos fãs da primeira fila. Os anos não passaram por eles e, nesta noite, nem por nós!
Alegria, rouquidão e muita emoção resultaram desta noite bonita de início de Outubro, completando os rostos dos presentes com um belo e rasgado sorriso. Regressar à adolescência é algo que nos trará sempre a mais arrepiante, emotiva e marcante nostalgia. Que não seja preciso esperarmos mais 5 anos por outra noite assim!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything Is New
