20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
Concertos Reportagens

Brant Bjork e Desert Mammooth, A catarse ou o groove quente do deserto

Na passada sexta-feira, dia de maus agoiros para os mais supersticiosos, dia de sorte para muitos outros, tivemos o prazer de rever Brant Bjork que durante duas horas deliciou e surpreendeu todos quantos se deslocaram ao RCA.

Numa noite quente como se ainda fosse verão absoluto em Outubro o RCA abriu as suas portas aos mais resistentes nestas matérias de devoção. Devoção é uma palavra mais que adequada porque estamos a falar de alguém que já há algum tempo transcendeu os limites e conquistou um espaço muito peculiar na história da música.

Coube aos Desert Mammooth, jovem trio almadense que lançou o seu primeiro EP There’s an Elephant In The Room no ano transacto, a abertura das hostilidades. O titulo do Ep adequa-se totalmente à atitude do jovem trio em palco porque de súbito todo o som produzido se assemelha a um sentimento de surpresa e estranheza. Num meio caminho entre o stoner e o psicadelismo mais pesado e negro constroem uma trip densa, mas não tensa, ou apenas o suficiente para nos apanhar de surpresa. Um trabalho que revela já uma certa maturidade quanto às escolhas da banda, o que nos faz supor o que mais poderá sair deste filão.

  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club
  • 20171013 - Desert Mammooth @ RCA Club

O compasso de espera na troca de instrumentos só serviu para aumentar a expectativa e fazer a casa cheia explodir ao primeiro vislumbre dos músicos. Uivos, assobios, gritos, tudo serviu para se fazerem ouvir.

Brant Bjork traz na bagagem muitos anos de palco. Traz duas mãos cheias de discos e colaborações. Traz um convidado.  Mas acima de tudo traz com ele uma vibração sentida, profunda e mesmo catalisadora. Tudo isto embrulhado numa simplicidade feliz a celebrar o primeiro registo ao vivo da sua carreira.

É com Stackt, single do ultimo álbum de estúdio que entram em palco a envolver toda a plateia num blues do deserto que Brant Bjork toca de dentes cerrados e sorriso nos lábios, preciosamente secundado pelo baixista Dave Dinsmore que se apresenta descalço, talvez para sentir ainda mais o som que produz e enche o ar de um som grave e redondo que preenche quase todos poucos espaços livres. O ritmo aumenta com Controllers Destroyed, e a partir daí até The Gree Heen não houve quase espaço para respirar com Brant Bjork a servir-nos todo o travo do deserto em doses massivas que nos faziam mexer o corpo involuntariamente envolvidos no delicioso groove denso das suas músicas.

20171013 - Brant Bjork @ RCA Club

E eis que surge a lenda do deserto Sean Wheeler, causando o espanto nos mais desprevenidos, pela sua teatrealidade peculiar e a sua expressividade intensa.

Sean Wheeler é o frontman dos Trow Rag, banda com as suas raízes bem assentes no punk do deserto californiano. E é essa estética, esse rasgo de provocação que traz consigo e torna toda a sonoridade agora produzida ainda mais acutilante. Dave’s War e Biker#2  a mostrar uma simbiose real entre músicos que acima de tudo retiram uma grande satisfação do que fazem, e a música em si a oferecer um espaço mais que confortável ao contributo de Sean tanto visual como musical.

20171013 - Brant Bjork @ RCA Club

Num concerto que parecia ter saído da esfera do tempo normal, pois já perdemos um pouco a noção do tempo, Brant Bjork fala descontraidamente da sua relação com o nosso país e presenteia-nos com Porto de Gods and Godesses, afirmando que não fazia a menor ideia se conheceríamos a música. Genuíno e surpreendido com a entrega do público, Brant Bjork trouxe o que de melhor se poderia esperar de alguém assim, que ora nos surpreende, ora nos leva de volta ao conforto assombroso das músicas do primeiro disco com Automatic Fantastic, generoso num groove alargado e quente a aumentar cada vez mais a vontade de nos abandonar-mos à sua música.

Apesar do concerto passar já os 90 minutos habituais, Brant Bjork e demais não mostram vontade nenhuma de abandonar o palco e quando o fazem é debaixo de gritos e palmas de uma audiência completamente rendida. Não tardou que regressassem para mais e agora com Low Desert Punk e com Freaks of Nature a trazer novamente Sean Wheeler à ribalta numa mistura estranha mas extremamente bem sucedida exaltação como se de um grito de guerra se tratasse!

20171013 - Brant Bjork @ RCA Club

Um grito de guerra que perdura e se entranha debaixo da nossa pele não nos deixando sair deste espantoso transe quente  e envolvente onde estivemos submerso durante duas horas. Uma vontade de fazer o tempo voltar atrás para podermos captar os diferentes pormenores do todo em que nos transformámos nesse tempo. A melhor sexta-feira 13 de sempre sem sombra de dúvida, até porque no deserto as sombras escasseiam bastante.

  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club
  • 20171013 - Brant Bjork @ RCA Club

 

Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Garboyl Lives