Os The Underground Youth voltam a pisar solo português no próximo fim-de-semana para nos oferecerem um concerto em ambiente intimista, no Sabotage Club, depois da fugaz passagem pelo Reverence Santarém, onde deram um dos melhores concertos desses dois dias. Uma banda que começou por ser um projecto de um homem a sós com os seus pensamentos e a sua escrita, pois Craig Dyer compôs e gravou sozinho 5 álbuns até que foi desafiado por aquela que é ainda hoje a sua editora a Fuzz Club a editar em vinil.
Com esse passo tornou-se parte da história da editora que começou de certa forma a partir dessa mesma ideia. Esse passo implicou uma série de outros que os trouxeram até ao momento actual e até What Kind os a Distopian Hellhole is This? Editado este ano. Quase dez anos volvidos não cessam de surpreender. Herdeiros da verdadeira juventude inquieta que se questiona e verdadeiramente genuínos quando falamos na cultura do faz tu próprio, aproveitámos a ocasião para trocar algumas ideias com Craig Dyer.
Música em DX (MDX) – Craig poderias apresentar sucintamente os The Underground Youth e contar-nos como começou isto tudo?
Craig Dyer – Eu comecei a escrever música/compor e a gravar por volta de 2008. O nome The Underground Youth surge a partir do título de uma das primeiras músicas que escrevi. Já passaram quase dez anos desde esse momento. O som e o estilo do projecto mudaram e houve diversos membros e colaboradores que passaram por ele…mas continuámos sempre.
MDX – The Underground Youth começou por ser uma one man band…Escreveste e gravaste cinco álbuns sozinho. Como foi, para ti, passar por todas essas etapas sozinho?
Craig Dyer – Gosto muito do processo de escrever e gravar e ter a liberdade de trabalhar sozinho pode até tornar-se terapêutico. Contudo, eventualmente cheguei a um limite no que estava a fazer e precisei de outra perspectiva para que fosse possível continuar em frente e a fazer música Nos últimos álbuns tenho trabalhado com produtores e com os membros da banda tanto na escrita como na gravação. Tenho gostado bastante desta nossa nova abordagem.
MDX – Como foi levar as coisas para este novo nível e tocar e compor com outros músicos tudo o que estavas anteriormente a fazer sozinho?
Craig Dyer – Tornou-se necessário formar uma banda para tocar ao vivo. Já tivemos vários membros e tem sido muito bom ter vários músicos, cada um com a sua personalidade e a dar o seu toque pessoal a cada música.
MDX – A história dos The Underground Youth está intimamente ligada à história da própria editora, a Fuzz Club, Como é que se conheceram?
Craig Dyer – Antes da editora existir, o fundador escreveu-me com a ideia de lançar o nosso último álbum, Delirium em vinil. E é isso que temos feito desde que nos tornámos amigos e acabámos por lançar todo o nosso catálogo através da Fuzz Records.
MDX – Tiveste que escolher músicos para tocar ao vivo. Não deve ter sido fácil. Como correu esse processo?
Craig Dyer – A minha esposa Olya é a baterista, e toca ao vivo com a banda e desde o início é uma peça fundamental no som ao vivo dos TUY. Assim como o Max que é o baixista já há alguns anos. Para a tournée que estamos a preparar agora vamos ter como guitarrista o Leo, que produziu o nosso último álbum.
MDX – Porquê o nome The Underground Youth?
Craig Dyer – É o nome de um dos primeiros poemas que escrevi e que depois adaptei para uma música que figura no Morally Barren.
MDX – O vosso último álbum saiu este ano, What Kind of a Dystopian Hellhole is This?. Porquê a escolha deste nome para o vosso álbum?
Craig Dyer – É uma questão séria. Afinal o que raio é que se está a passar com o mundo?
MDX – Quais são as vossas maiores influências?
Craig Dyer – Eu creio que nós demonstramos as nossas influências bastante abertamente. Não gosto de nomear quem me influencia, pois são mesmo muitas bandas e de épocas diferentes… o cinema e a literatura também influenciam muito a minha escrita.
MDX – Fala-se muito da cena cultural de Manchester, sentem-se parte disso?
Craig Dyer – Não sei bem. Eu acho que a cena de MadChester já morreu há algum tempo. É claro que a riqueza da história musical de Manchester me inspirou mas neste momento já não me identifico muito com o movimento, apesar de definitivamente existir um movimento…até porque agora vivemos em Berlim e isso muda tudo.
MDX – E bandas que tenham descoberto recentemente?
Craig Dyer – Existem muitas bandas emergentes em Berlim e é um movimento em que todos são praticamente amigos. A maioria dessas bandas aparece na compilação 15 Years 8MM’ que celebra os quinze anos da abertura do icónico 8MM Bar.
MDX – Que concerto vos desconcertou mais nos últimos tempos?
Craig Dyer – Tenho visto imensos concertos bons ultimamente. Os A Place to Bury Strangers deram um concerto fantástico na última tour. Nick Cave & The Bad Seeds continua a ser um dos meus concertos favoritos de todos os tempos. Relativamente a concertos fabulosos ultimamente, terei obrigatoriamente de falar nos Swans.
MDX – Se pudesses viajar no tempo com quem gostarias de tocar ou a que concerto gostarias de assistir?
Craig Dyer – São tantos os artistas que gostaria de ter visto que a lista seria ridiculamente longa. No entanto arrependo-me bastante de não ter visto os Suicide quando tive oportunidade..se pudesse voltar atrás no tempo ali ao final dos anos setenta, Nova York, acho que poderia retirar umas quantas bandas dessa lista longuíssima.
MDX – Como tem estado a correr a vossa tour? Já estiveram em Portugal várias vezes, já partilharam o palco com bandas portuguesas como os 10000 Russos….Podemos dizer que estão familiarizados com o público português. O que podemos esperar deste concerto no Sabotage Club?
Craig Dyer – Achámos que o nosso set no Reverence foi muito curto…vamos certamente compensar isso. Adoramos Lisboa e a maneira apaixonada dos nossos fãs. Estamos ansiosos pelo concerto.
MDX – Gostariam de deixar alguma mensagem em particular para os fãs portugueses?
Craig Dyer – Vemo-nos em breve!
MDX – Obrigada pelo vosso tempo, Vemo-nos em breve!
Entrevista – Isabel Maria