Há concertos pelos quais se espera muito. Há concertos pelos quais nutrimos saudades e, há ainda a junção destes dois tipos de concertos numa só noite. Falo da noite do passado sábado, dia 26, no espaço do Lisboa ao Vivo que, para além de receber The Quartet Of Woah e Graveyard, abraçou-nos com um caloroso sabor a intensidade e aconchego.
Poderia existir melhor banda para anteceder Graveyard em palco? Não me parece! Os The Quartet Of Woah, sedentos de palco e nós sedentos de os ver, mostraram aquilo que melhor sabem fazer e, ainda melhor! Um rendilhado da maior complexidade possível revelava uma estrutura instrumental que de imediato nos batia de frente sem como nem porquê e nos dava a mão até à pura satisfação. Entre isso, a conjugação de vozes perfeita e umas teclas que se entranham em tudo o que é objecto de sentir. Falo de “As In Life”, a primeira faixa do Homónimo lançado este ano e, a primeira a abrir o palco onde fomos absorvidos durante cerca de 15 minutos. “Announcer” e “Taste of Hate” vinham de rojo relembrar o poder de Ultrabomb. Fomos apresentados a uma faixa nova e, por fim, a já conhecida em palco “Days Of Wrath”. Em cima daquele palco, com 5 faixas em 45 minutos sentimos o peito a encher de puro deleite, trememos dos pés à cabeça com o embate de uma densidade grandiosa, salivamos com a construção bem delineada e trabalhada de cordas e levantámos os pés com a fala das teclas de Rui. Em suma, estes quatro rapazes são almas gémeas que partilham um talento que não só os faz brilhar em cima do palco como nos aconchega o ouvido e alma!
Às vezes quando queremos muito uma coisa, quando a temos o sabor amarga. O receio disso acontecer esta noite era grande e, a única coisa amarga que senti foi o gosto de querer mais depois do final do concerto. Apesar de um ar cansado, a prestação dos Graveyard superou qualquer expectativa tornando-se numa mescla emotiva de intensidade, sabedoria, melancolia e puro rock com travo a blues!
Como já referi anteriormente a melancolia enche-nos o peito e traz sempre o conforto de que o bom tem de ser sofrido. Diante destes quatro senhores, o sofrimento deveu-se apenas ao momento em que o tempo nos fugiu e ficámos sem chão ao parar de ouvir e sentir toda aquela amplitude complexa que estava diante de nós. Se fechássemos os olhos, sentíamos um Robert Plant a entrar pelos ouvidos e um conjunto de explosões musicais guiavam a um universo paralelo onde gostmos de repousar. Os riffs que ouvíamos embrulhavam-nos numa rede de contrabalanço onde o norte deixava de existir. O mosh era inevitável e com ele a loucura sã de quem sente tudo até ao limite. É isto um concerto de Graveyard, uma vaga de sentimento e loucura à mistura, onde há tempo para tudo. Uma montanha russa de emoções e libertações que passeou por toda a discografia da banda, começando com Light Out nas duas primeiras faixas: “Slow Motion Countdown” e “An Industry of Murder” passando por Innocence & Decadence e terminando com Hisingen Blues e o Homónimo, com os pêlos em pé gerados pela grandeza de “Uncomfortably Dumb”, “Evil Ways” e “Siren” num encore cantado a um pulmão só!
Não nos preguem mais sustos com um fim anunciado. Nós, que sentimos e amamos a música, queremos mais noites destas, onde o eco da sabedoria musical anda de mão dada com a construção da alma!
Texto – Eliana Berto
Fotografia – Daniel Jesus
Promotor – Prime Artists