Por vezes estranha-se, mas depois entranha-se, acontece por vezes com ambas as bandas que vimos na passada noite de segunda feira 27 de Novembro no RCA. As coisas são mesmo assim e isto depende somente do que a música nos faz sentir. A real natureza de ambas as bandas percebe-se melhor ao vivo que nos álbuns. Não tem a ver com qualidade, essa questão não se coloca, mas sim com a especificidade pouco especifica de cada uma.
O certo é que isto não é musica para nos deixar pensativos, e se, sem pensar, nos deixarmos envolver no ritmo de cada uma delas, muito dificilmente não flui uma boa sensação, uma excelente energia. Pelo menos para quem se centra nas preferências entre um rock musculado com sabor a stoner, mas salpicadas de um psicadelismo com groove.
A verdade é que dificilmente isto poderia correr menos que bem.
Quando temos um recinto quase cheio numa segunda feira à noite em que espante-se quem quiser está finalmente a chover, é certo e sabido que quem saiu do conforto dos seus sofás não saiu por acaso.
Coube aos portugueses It Was the Elf o aquecimento. Destes rapazes o que se pode dizer é simples e directo como a maioria da sua sonoridade. Adequados para os amantes do stoner sem floreados, mas cada vez mais perto de um certo doom, principalmente quando diminuem a velocidade e se tornam mais densos e pesados, a sonoridade que produzem nesses momentos parece preencher todos os espaços livres que na verdade nessa noite de segunda-feira não eram assim tantos quanto se possa pensar. Ainda a rodarem o disco de estreia, nas várias vezes que os vimos este ano ficámos a pensar no que poderá seguir-se a Fire Green, de onde se destacam cada vez mais músicas como Nomads num registo mais doom ou When Beasts Collide num stoner puro e duro ou ainda Montain’s Elder, música com que encerraram o concerto de forma excepcional.
Os The Atomic Bitchwax, banda de homens muito mais crescidos, o início da banda remonta a 1993, estão à beira de editar o seu sétimo registo, Force Field.
É quase como que com uma invocação que dão início ao concerto com a revisitação a um clássicos dos clássicos, In The Flesh dos Pink Floyd.
Ofereceram um concerto cheio daquilo que mais os caracteriza, um rock pesado, com raízes nos anos 60/70, com riffs a atravessar o prog mais eclético e impregnado de groove como em Ain’t Nobody Gonna Hang Me in My Home ou Forty-Five.
Cruzaram a maior parte da carreira com mestria, e foram aumentando o cunho do stoner à medida que o concerto avançou, Kiss The Sun, para depois cair no alegre e incontornável e orelhudo So Come on. Daí para a frente o público que já estava rendido ao trio de New Jersey, pediu mais e mais. Pudemos ouvir a novíssima Houndstooth e também Shocker e constatar que nem sempre de novidades se fazem coisas novas, pois pela amostra dada os Atomic Bitchwax continuam fieis a si próprios.
Birth to the Earth onde pediram a colaboração do público que não se fez nada rogado terá sido talvez o momento mais especial da noite, apesar de terem também passado por temas como Hey Alright, Coming in Hot ou Shit Kicker,
E para o verdadeiro final, outra revisitação a Pink Floyd e ao tema que também dá nome ao novo álbum, Force Field. O sentimento de dever cumprido é mutuo. A banda cumpre, e de que maneira e o público corresponde!
Mais segundas destas precisam-se.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Daniel Jesus