10 de Dezembro de 2017, o prenúncio era de que uma tempestade estava para abalar o país inteiro, mas o que os fãs de The Horrors esperavam era um furacão em palco.
Por volta das 22h, depois de uma abertura de palco de Mueran Humanos que ficou marcada por algumas falhas técnicas e alguma frustração do duo em palco, o quinteto britânico assumiu posições e o espectáculo começou.
“V”, é o nome do disco que deu mote a esta digressão e é também o disco que a crítica diz finalmente catapultar os The Horrors como a confirmação da promessa que eram há dez anos atrás. Do disco de 2007 não se vê sinal desde o final dessa década, mas o percurso dos The Horrors tem sido pontuado pelo experimentalismo sonoro. A própria banda assume que o processo de explorar os instrumentos entra muitas vezes como gravação nos discos. É esta descoberta constante que tanto tem atraído a diferentes públicos e “V” mostra uma outra faceta destes músicos.
O primeiro concerto que vi dos The Horrors foi em 2013, no Festival Paredes de Coura. Tinha descoberto a banda, com provavelmente muitos outros, com o single Still Life, mas cedo me apaixonei por “Skying”. Com a aura especial que só Paredes de Coura consegue conferir, o concerto deles foi dos melhores que vi naquele ano. A energia era imensa, Faris Badwan o melhor anfitrião que se poderia pedir. Talvez, por isso, Domingo à noite tenha sabido bem, mas também a pouco. A nível de som e de execução o concerto foi praticamente irrepreensível, mas apesar do psicadelismo, do rock intenso, de toda uma euforia musical, parecia também haver uma espécie de camada fina de gelo que separava a banda do público. Mas, mais uma vez, pode ter sido só impressão minha como consequência do concerto anterior que vi deles.
Tal como mencionei anteriormente, a nível musical e estético o concerto correu de feição. O jogo de luzes esteve imparável, exacerbando as vibrações que nos chegavam das colunas. Com Hologram a abrir as hostes com uma forte componente de maquinaria e sintetizadores, complementada com uma pujante bateria e uma guitarra fervilhante, Machine, o tema seguinte, colocou o baixo em acção. Rhys Webb, o baixista, tem uma energia bastante própria e dá um gozo enorme vê-lo tocar. É também de mencionar o sempre poderoso Joshua Hayward e os seus riffs impressionantes. A certa altura do concerto, Faris Badwan (o vocalista) saltou do palco, foi até à mesa do som e quando retornou mencionou algo sobre uma rapariga e uma tatuagem. O tom parecia pejorativo, mas posso ter interpretado mal. Se por acaso estiverem lá e souberem o que foi, digam-me que fiquei curiosa. Apesar da camada de frieza que referi, Badwan conseguiu manter uma postura provocadora e electrizante. O alinhamento contou com revisitas aos discos anteriores, tirando o primeiro disco, e a primeira parte terminou com o grande sucesso Still Life. O encore contou com outros dois grandes temas de “V”, Ghost e Something to Remember Me By, este último, pareceu-me, dedicado ao Pedro dos nossos The Parkinsons.
Concluindo, foi muito bom rever The Horrors. São uma banda que tem conseguido manter a irreverência, que de alguma maneira me faz sempre lembrar um bocadinho os The Cure e este quinto disco – “V” – vale a pena ouvir e desfrutar.
Setlist:
Hologram
Machine
Who Can Say
In and Out of Sight
Mirror’s Image
Sea Within a Sea
Weighed Down
Press Enter to Exit
Endless Blue
Still Life
Encore:
Ghost
Something to Remember Me By
Texto – Sofia Teixeira | BranMorrighan
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Sons Em Trânsito