O final de cada ano é sempre marcado pelos inúmeros tops de opinião, sejam de concertos ou de álbuns que passaram. É normal, trata-se da altura em que revemos do inicio ao fim todos os meses que passámos, nos lembramos de momentos que já não nos passeavam pela cabeça, e é também o momento do balanço de tudo de bom e de mau que presenciámos.
No Música em DX isso não é excepção, por esta altura estamos a ressacar dos dias de pausa natalícia, merecidos a bem dizer, e de um ano que foi repleto de grandes momentos. Sejam em concertos a solo, em festivais, ou até, em artigos de opinião ou entrevistas com artistas que sempre nos surpreendem.
Pedimos a alguns dos nossos colaboradores que partilhassem com o nosso público que momentos mais os marcaram enquanto reporteres da revista. Não se tratam de tops, mas de confidências vividas em momentos Música em DX.
“O meu 2017 na Música em DX foi marcado por muitas e extraordinárias experiências, mas gostaria de destacar uma situação específica com a qual tanto eu como os outros que se dedicam a escrever sobre música têm contacto. Falo da experiência de termos de sair da nossa caixa de conforto musical e de ir à descoberta de bandas das quais só temos um conhecimento mínimo, por vezes até nulo. São várias as situações em que uns dias antes de um concerto, do qual vou fazer a reportagem, o meu conhecimento do que vou ver é quase inexistente, fazendo com que os dias seguintes sejam de descoberta de toda uma nova realidade musical, praticamente desconhecida por mim. De todas as situações destas ocorridas em 2017, destaco os Endless Boogie, projeto nova-iorquino do qual nunca tinha ouvido falar, que muito me surpreendeu ao longo da tal descoberta musical e depois, principalmente, no concerto na ZDB, em que uma setlist com três temas chegou, e sobrou, para preencher noventa minutos de atuação.”
“Escolher ou destacar três momentos de 2017 no meio de todas as coisas que tive o prazer de fazer com a Música em DX. Era esta a tarefa do fim-de-semana.
Não tive dúvidas quando a dois desses momentos; o SonicBlast’17 em Moledo do Minho em todo o seu conjunto; 6 entrevistas, um artigo de abertura; duas mixtapes e depois de ver 24 concertos, contar o que foram aqueles dois dias. Foram dois dias espectaculares com bandas disponiveis para tudo e uma equipa de produção prestavél e que tudo fez para que também nós pudessemos estar à vontade para conseguir fazer a nossa parte. Um cenário idilico, um conceito bem pensado e nada de andar tipo sardinha em lata num festival. Um festival esgotado na bilheteira mas com espaço para todos os que decidiram ir, mais o bónus de ver concertos numa piscina.
O outro momento sobre o qual não tive dúvida foi a entrevista ao Brant Bjork no Rca Club aquando da sua passagem por cá a 13 de Outubro. Um momento um bocado groupie para mim, mas creio que possibilitámos conhecer um pouco mais este senhor do deserto que deu um concerto magistral nessa noite.
O terceiro momento foi complicado de escolher porque assisti a concertos com muita qualidade e quase todas as entrevistas que fiz foram momentos especiais e depois de muito ponderar decidi que não consegui escolher realmente entre três concertos que vi; 10 000 Russos no lançamento de Distress Distress no Sabotage Club, os suecos The Janitors sob o alter ego de uma noite “Northern Death Cult” no warm-up para o Reverence Santarém também no Sabotage Club, e os Meatbodies no meio do calor do verão no MusicBox. Que 2018 nos traga concertos tão bons ou melhores que os 2017 não vai ser fácil, mas estaremos cá para ver!!”
“Não vou fazer tops nem dar supremacia a momentos, acima de tudo, o balanço anual, seja do que for é, principalmente, aquilo que nos marca que, igualmente, nos define enquanto pessoa nesse ano e, até, para o resto da vida. O que farei aqui serão essas pequenas referências que se tornaram grandes na sua plenitude isto porque o melhor alimento da alma é, sem a menor dúvida, a música! Um ano após a morte de Bowie e o mesmo sentimento de perda! Os 50 anos dos 50 melhores e mais importantes álbuns que temos… O levitar mágico do concerto de Toy. A nostalgia bonita dos 20 anos de Placebo! A suavidade triste e bela do encanto de Emma Ruth Rundle. O ritual entre fogueiras e índios de Wovenhand. A explosão de cores e sentidos de Lightning Bold e Ty Segall no tão Mágico Paredes de Coura. O Mistério labiríntico de Swans. O conforto inesquecível do Barreiro Rocks e os The Cavemen a mostrar como se faz punk! O rock das choppers dos The Picturebooks e, por fim, o abraço quente de Graveyard. Só tenho a agradecer à MDX por continuar a acreditar no meu trabalho e no meu coração que tanto transponho para a escrita. Venham mais momentos marcantes e difíceis de esquecer com esta dream team!”
“2017 foi agridoce no que concerne à minha actividade no DX. Tendo (finalmente) arranjado trabalho a fingir que sei escrever numa outra publicação, esse novo projecto, mais um mestrado mal-parado, obrigaram-me a baixar muito o meu ritmo de colaborações neste website, tendo parado por completo ali no fim da primavera e durante todo o verão. Com este hiato, perdi a época dos festivais, que, sendo algo sobrevalorizados, continuam, ainda assim, a proporcionar aquele prazer carregado de adrenalina/stress em acompanhar a azáfama de concertos que se sucedem. Foi essa a minha experiência neste Vodafone Mexefest que, não sendo dos melhores cartazes que já agraciaram a baixa lisboeta, serviu ainda assim para retirar-me da minha zona de conforto a escrever sobre coisas nas quais não costumo gastar o meu latim (vulgo, Sevdaliza e Destroyer, por exemplo) e que foram muito recompensadoras.
Esse foi o culminar de um outono onde voltei a ferrar o dente em tudo o que me era possível, numa sequência onde destaco os danos que o concerto de Melt-Banana me causou no pescoço (culpa minha – só um atrasado mental é que tenta fazer headbanging num concerto de Grind), a missa dos Mayhem, a confirmação dos Process of Guilt como uma das melhores bandas deste rectângulo ou o reavivar do meu interesse esmorecido nos Moonspell que o seu novo álbum proporcionou. Gostava de ter feito mais entrevistas, reviews e outras formas de texto mais dinâmicas (excepção feita à hilariante conversa com os Ditch Days), mas pronto, vamos esperar por 2018. A minha única certeza para o ano vindouro é que não volto a perder Converge.”
“Sempre quis escrever sobre música. Aliás, lembro-me de ainda frequentar as aulas do curso de animação de rádio e de ler uma reportagem sobre The Parkinsons escrita pela Eliana. Já tinha a Música em DX como uma referência no panorama da crítica musical. Foi com a electrónica da Colleen na Galeria ZDB que me dei a conhecer, neste projecto. Quem diria?! Eu que comecei no metal e que por lá ainda me mantenho. Mas gosto de desafios, e sei que esta equipa trabalha para ser melhor e diferente. Colaboro há pouco mais de um mês com a MDX mas é para mim extremamente importante agradecer ao Luís Sousa a oportunidade e confiança. Tenho para mim que quando se faz, faz-se bem! Obrigada a Todos.”
“Sonicblast – O que dizer mais do que já foi dito? Segundo ano consecutivo que revivo a comunhão e ares de Moledo, do qual consegue ser mais que um festival e ainda se distingue dos demais. Continuam, infelizmente, ainda a sofrer com o horror dos cancelamentos (lágrimas em Kadavar e Mammoth Weed Wizard Bastard) mas a vontade e missão de manter a alma do festival é de proporções herculeanas e souberam colmatar com as perdas. Em estrutura, o line-up é dos melhores que poderá haver juntando pérolas lusitanas aos mamutes internacionais. Moledo tem o melhor areal. Moledo tem o melhor ambiente. Moledo tem line-up para fazer pessoas > 30 chorar. Moledo tem o meu sorriso.
Mastodon – Há um sentimento cósmico em fotografar uma das bandas favoritas, onde 10 anos antes estaria no crowdsurfing num SBSR ainda a morar no Parque Tejo. Recordo-me da energia palpável que Troy, Brann, Bill e Brent emanavam com uma estranha naturalidade no seu trono de amps e de eu ainda não obedecer à “obrigatoriedade” de usar earplugs, absorvendo as ondas sonoras e implorando por mais enquanto cantava em paralelo ao mais recente Blood Mountain (vénia). Num mar de gente no meio do moshpit, num mar de sentimentos e emoções, ocorreu-me o pensamento de que nesta vida tinha de os fotografar. Pensamente esse, que viria ser uma realidade na Meo Arena. Com a mesma energia. Absorvi as ondas. Implorei por mais.
So 90’s – Korn. Deftones. Em 2017 tivémos ainda a visita dos Ill Niño e Papa Roach mas as duas primeiras continuam a ser porta estandartes desta categoria. À medida que amadurecemos há um misto de nostalgia e receio nas bandas que fizeram parte do nosso desenvolvimento. Arriscaria que são bandas parteiras, como quando somos paridos e nascemos ao mundo são elas que nos dizem “Bem vindo ao mundo. Vai ser uma viagem de merda mas sempre que precisares de nós estaremos presentes”. Queremos continuar a confiar nelas e a agradarem-nos sempre necessitamos, seja de uma simples agonia ou berro, ou algo mais completo e etéreo. No entanto, há um medo miudinho que pensamos que talvez já não faça parte do nosso ser crescer com estas bandas, que as músicas já não signifiquem o mesmo, que numa performance ao vivo seja um prego no caixão. Tal não aconteceu com Korn e Deftones, pois provaram que cresceram ao nosso lado.
Talkfest – Tenho ainda um outro momento deste ano, tanto dentro como fora de um recinto ou palco. Uma foto minha ser a cara do próximo Talkfest, do qual é um momento bem determinante e muito para além de 2017. É um marco significativo do qual poucas ou nenhumas palavras ainda consigo expressar. “Honrado” vem-me à cabeça mas sinto que qualquer coisa que escreva acaba por ser ínfimo. Sempre me disseram que se não souber o que dizer, agradece. Obrigado.”
“O ano de 2017 de longe o meu ano caseiro. Quando penso na música ao vivo que me fez vibrar as artérias, ocorre-me 3 nomes de imediato: o Gajo e a viola Campanica, Lavoisier e a poderosa presença da Patrícia e do Roberto e Indignu na transcendência das cordas do Afonso. Três grandes discos que marcaram o panorama nacional de uma qualidade sublime. Muito material foi editado e muitos arranjos foram catapultados para o derradeiro teste, os palcos. De uma maneira geral continuo muito receptiva a quase tudo (até aprendi a ouvir Hip-hop com a minha filha, a descodificar o arremessos dos rivais) e a desvendar a sua singularidade. Mas poucos me deixam colada ao chão e de coração à banda. “Este chão que piso”, ” É teu ” e “Ophelia” estão no meu top 5 nacional.”
“Um parágrafo para escrever sobre “um momento enquanto colaborador da Música em DX, em 2017”, escolhi o concerto dos The Underground Youth, no Sabotage. A sala cheia, as pessoas bem dispostas: músicos, público e todo o Staff do clube com um sorriso no rosto. São por noites assim que esta casa funciona: poder oferecer concertos em que a proximidade do público com os músicos é tão real, que até parece que os estamos a ver e a ouvir na nossa própria sala de estar. E nem foi o concerto do ano para mim, mas é um perfeito exemplo do luxo que é poder assistir a concertos nestas condições.”
“Reza a lenda que a música tem a capacidade de libertar endorfina, uma substância química que aumenta a disposição física e mental do corpo humano. Foi a 9 de Junho deste ano que tive a minha primeira experiência direta perante esta ligação química com a música, precisamente no concerto de Bon Iver no NOS Primavera Sound. Ao longo de uma emotiva hora e meia, no meio de uma tempestade de emoções, de um maremoto de endorfina, a trupe de Justin Vernon conseguiu tocar no nosso íntimo e fazer do alinhamento do seu concerto uma reminiscência de todos os momentos simbólicos que o público tinha vivido até aquela atuação monumental. Muitos foram os concertos que assisti pela Música em DX depois de aquele, todos de grande qualidade, mas nenhum outro conseguiu deixar o meu corpo a transbordar de vida como em Bon Iver. Um brinde a 2018 e o desejo de mais concertos que consigam, acima de nos dar boa música, desencadear estes vulcões de endorfina dentro de nós “
“O Música em DX é um projecto especial, todos os que fazemos parte dele sentimo-lo. Tendo eu também o meu próprio projecto, só posso sentir uma admiração enorme pelo Luís Sousa, o mentor e responsável por este grupo de pessoas poder fazer o que gosta de forma apaixonada. 2017 foi o meu segundo ano nesta revista, que me proporcionou momentos únicos. Em Janeiro tivemos o concerto dos The Poppers, no Musicbox, banda portuguesa que lançou Lúcifer, um dos discos (para mim) do ano. Recheado de convidados, foi um concerto do qual ainda hoje me lembro. A próxima paragem é em Maio, com Dream Theater no Coliseu do Porto. Mais de duas décadas de carreira que culminaram em mais de duas horas de um concerto há muito esperado. Logo a seguir, em Junho, os Mastodon deram um dos meus concertos do ano, tal como o seu mais recente disco é uma obra-prima. Saltamos o Verão (no qual estive a viver no Japão) para o concerto, em Setembro, de Benjamim e Barnaby Keen. Mais música portuguesa de top, com um concerto lindíssimo e um dos discos mais bonitos do ano. Em Outubro voltei à minha adolescência com o concerto dos Papa Roach e em Novembro vibrei como há muito não vibrava com Royal Blood no Campo Pequeno. Ainda nesse mês e para fechar os concertos pelo MDX que mais me marcaram, outro sonho concretizado – Lamb. É esta a magia que o MDX opera. Aproximar a música de todos: colaboradores, leitores e parceiros. Obrigada, Luís, obrigada, MDX! “
“Falar em um ou dois parágrafos sobre um ano inteiro é sempre algo complicado, ainda para mais sobre 2017, já de si muito difícil de o ter trazido até esta data. Em termos de reportagem, foi mais um ano de muito trabalho, onde em cerca de 2/3 do ano passámos na rua a fazer reportagem, sempre em regime pós laboral. Destes dias, 230 foram passados na rua em concerto. É de facto notável para quem o faz depois de um dia de trabalho.
Foi também um ano de muitas mudanças na nossa equipa, ausência ou o desprender de alguns, o novo compromisso de outros, que no global veio fortalecer a nossa equipa. Pessoalmente, continuar a acreditar neste projeto foi eventualmente o meu maior desafio, superado apenas e só pela ajuda de todos que com ele colaboram.
Sobre os meus trabalhos de 2017, eu gostaria de destacar as entrevistas com Os Corvos, Toy, Stone Dead, João Morais (O Gajo), Lavoisier, Surma, Brant Bkork, e a muito especial equipa do Sabotage Club; em relação a concertos a solo, o tributo emocionante a João Aguardela (Sitiados); Korn, Placebo, Skunk Anansie, Lamb, Papa Roach ou Bush num reviver os 90’s; Toy ou Emma Ruth Rundle no esgotadissimo Sabotage; os quatro concertos de Stone Dead (banda revelação de 2017); os concertos de White Hills, Deep Purple, Meatbodies; Sobre festivais, o sempre especial NOS Primavera Sound (com Pond, Angel Olsen, Sleaford Mods, Swans, King Gizzard, The Growlers, Death Grips, Japandroids ou The Black Angels), o assistir à decadência terminal do Reverence agora Santarém, o eletrizante Barreiro Rocks, e o stressante Vodafone Mexefest para fechar o ano.
Sobre 2018, será um ano decisivo para o MDX, com mudanças necessárias na forma de trabalhar, e outros planos em vista a concretizar sobre os quais não posso para já comentar. Sobre concertos, para já promete, mas, opinaremos daqui a um ano.”
A equipa Música em DX deseja a todos um 2018 cheio de sucesso, saúde, e sempre com muita música para animar mais um ano que se adivinha de muito trabalho. Continuem a seguir-nos, sem vocês o MDX não faz sentido :)
Obrigado!