Para começar mais uma ronda de 365 novos dias e deixar o “ano caseiro” para trás, Alt-J pareceu-me uma boa opção. O palco estava recuado, o segundo balcão encerrado e algumas filas do primeiro balcão cobertas com panos pretos, mas foram poucas as vezes que senti o pavilhão tão acolhedor. Às 20h00 já os fãs do trio de Leeds (norte do Reino Unido) estavam sentados no chão à espera do grande concerto em nome próprio. Depois das actuações em festivais, a última no NOS Alive 2017, já era tempo de terem o palco por sua conta.
Na verdade não foi totalmente por sua conta, pois convidaram a britânica Marika Hackman para fazer a primeira parte. Com EP´s editados desde 2013 e com apenas 25 anos, a cantora de folk-rock actuou com mais 3 músicos não tendo ultrapassado os 40 minutos em palco. Uma voz afinada e versátil, acompanhada com mais duas vozes, uma também feminina (guitarra) e que surpreendeu na última canção com um agradável timbre soprano. O público foi educado, mas na verdade esperava ansiosamente os Alt-j.
Questionámo-nos várias vezes sobre o risco que a promotora correria, pela escolha de uma sala com a dimensão do Altice Arena. Assim que os Alt-J entraram em palco, as dúvidas esclareceram-se. Joe Newman (voz e guitarra), Thom Green (bateria e percussão) e Gus Unger Hamilton (teclado) tocaram em divisórias de tubos verticais, onde se projectavam feixes de luz rectilíneos sincronizados com a música. Uma intensidade incrível que espalhou magia ao longo da hora e meia de concerto.
Um alinhamento cuidado, não descorando o registo intimista do último trabalho (2017), Relaxer, onde o belíssimo “Pleader” deu o arranque da noite e “3WW” já no encore. Escolha intercalada com as faixas emblemáticas dos dois trabalhos anteriores, An Awesome Wave (2012) e This Is All Yours (2014), onde o público reagiu em ovação aos primeiros acordes, “In Cold Blood”, “Tesselate”, “Matilda” e já quase no final “Left Hand Free”.
A constante mudança de guitarra de Joe Newman (incluindo guitarra-baixo), a versatilidade do seu timbre vocal e a harmonia com a voz de Gus, não permitiram repetições nem momentos maçudos. An Awesome Wave primeiro álbum da banda e que lhes valeu o Mercury Prize Awards 2012 será, provavelmente, o mais acarinhado pelo público pela reacção efusiva a todos os temas.
Momentos altos a destacar, “Deadcrush”, onde os agudos perfeitos das duas vozes subiram consonantes com a intensidade das luzes brancas, como se fossem soldadinhos de chumbo alinhados. “Matilda”, em que Joe e Gus começaram a música a puxar pelo público, e sob uma luz forte até ao final contemplaram o sorriso aberto dos fãs a cantarem em uníssono. Já no encore, a magnifica “3WW” num dedilhar arrepiante na guitarra e em que as teclas deram o aconchego às velas que pareciam rodear os músicos. Um “Olá, como estão?” num português perfeito, bem como os agradecimentos e a despedida. O tema “Breezeblocks” para o final, com o xilofone de Gus a deixar o público a cantar “Please don´t go, I love you all, I need you so!”, foi o derradeiro xaque-mate. Já com a sala a desertar, o genérico passou no ecrã e na última frase pudemos ler “THANK YOU”. Uma bonita noite de Reis.
Texto – Carla Sancho
Fotografia – Luis Sousa
Promotor – Everything Is new