Sexta -feira à noite e o Sabotage Club recebeu mais uma vez uma banda cheia e plena de rock, os Slift. Uma banda francesa, um trio oriundo de Toulouse com um nome invulgar e a promessa de uma noite irremediavelmente explosiva e sideral. Á porta do clube ecoavam as opiniões favoráveis sobre a prestação explosiva da banda que noite anterior havia passado por Leiria.
Os Slift lançaram há escassos meses um EP de estreia, Space is The Key composto por 6 músicas, 36 minutos de explosões harmónicas e um fuzz diabólico. Dificilmente o concerto seria apenas 36 minutos portanto aguardávamos ainda com mais expectativa o que mais nos trariam. Sem qualquer banda de suporte para aquecer a plateia os Slift entraram em palco cerca de meia hora antes da meia-noite com uma candura sideral desarmante para quem como eu ouviu Space is The Key várias vezes nos últimos dias a abrir horizontes dentro da minha cabeça. Sol de pouca dura. Foi como se estivessem a aquecer os instrumentos ou a medir a audiência que tinham ali, ao som de Le Planete Inexploré. Uma luminosidade muito ténue em palco faz com que o nosso campo de visão seja quase totalmente absorvido pela projeção que marca todo o espaço com o trio nela incorporado aumentando exponencialmente a sensação de viagem sideral em que todo o som explode não apenas nos nossos tímpanos mas ao mesmo tempo nos olhos. Heavy Road abre as hostilidades, marcando logo ali a audiência que se agita.
Dominator com o seu inicio mais lento, sujo e quase arrastado para logo nos mergulhar vertiginosamente num ritmo louco que nos impele a saltar, enquanto uns saltam muitos assobiam, alguns uivam. O público emana aquela energia que faz com que não se pare de sorrir ao mesmo tempo que os Slift aceleram e desaceleram Dominator. The Sword com um baixo hipnótico e as vozes aqui quase impercetíveis a sussurrar no meio da guitarra e do baixo, We’ll never meet again, it’s all I know, carregando toda a nossa semana para uma instantânea catarse com a melodia do universo embebida em The Sleeve.
Adivinhavam-se os corpos a ondular suavemente no meio da escuridão mas The Sleeve é uma música de duas faces e sem aviso tudo se altera e o trio entra novamente num ritmo frenético e irrequieto que carrega até Sound in My Head que mal começa nos entra directamente na corrente sanguínea como se conhecêssemos esta melodia de guitarra há muito. Avança pesada e lenta fechada nessa guitarra, carregada pelo baixo e pela bateria muito mais lentos que até aqui. Precisos mas soltos e completamente embrenhados no seu devaneio levam-nos pela batida certa e dura e pelo fuzz cheio e demolidor que preenche. Ouvem-se assobios de incentivo e admiração, a noite avança e duas músicas que não constam de Space is the Key, Something in The Mist e Trapezohedron entram neste alinhamento de fuzz cósmico. Space is the Key, faixa com contornos épicos do alto dos seus 10 minutos de duração nunca poderia faltar e chegou no momento certo, foi como se estivéssemos a ser preparados para aquele momento durante todo o concerto.
O público que se apresentou ao chamamento espacial apesar de não encher a casa veio cobrar o que lhes foi vendido, inclusive por nós MDX; Isto, este trio, este EP, eram definitivamente algo a não perder, portanto todos pedíamos mais. Por mim e mais alguns a banda podia ter feito uma pausa e ter recomeçado todo o concerto de inicio. Não aconteceu mas aquela performance não poderia terminar já. O público pediu e depois da esquizofrenia rítmica de Space is The Key os Slift ofereceram-nos ainda Doppler Ganger Sixteen. Quando voltarem a Portugal de certeza que os vamos rever. Entretanto aguardamos mais deste trio cheio de garra que aqueceu este inverno e nos livrou da madorna onde vivemos adormecidos à espera do próximo concerto.
Texto – Isabel Maria
Fotografia – Luis Sousa